O amor pelas histórias em quadrinhos de Antônio José da Silva, o Tom Zé, ultrapassou os hábitos de adolescência. Nascido na década de 1940 – uma época onde as histórias multicoloridas eram vistas como prejudiciais – ele não se deixou abater pelas críticas dos pais. Foi apenas uma questão de tempo para se tornar um dos mais expressivos colecionadores de gibis do Brasil.
Apesar de amar histórias em quadrinhos, ele nunca trabalhou em áreas relacionadas aos gibis: atuou como representante comercial e agora é aposentado. Isso não fez com que o hobby tivesse menos força: a paixão exigiu dedicação. “Já viajei a diversos países só para buscar raridades e acho que o amor pelo gibi está no sangue. Quem entra nesse mundo não consegue abandoná-lo”.
Ao ver suas coleções ocupando cada vez mais espaço em sua casa, o colecionador decidiu dar mais espaço para armazenar as raridades que possui. Com esse objetivo comprou uma casa nos arredores do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 1995. “É lá que mantenho os gibis armazenados em embalagens especiais que protegem as páginas contra cupins e mofo. Há um funcionário que me ajuda a manter esse acervo”.
Mesmo com todo o zelo pelas raridades do mercado editorial, Tom Zé foi vítima da violência urbana no final de outubro. Segundo o colecionador, no dia anterior ele recebeu uma visita inusitada de uma moça que se identificou como Juliana. Ela disse que precisava fazer pesquisas sobre histórias em quadrinhos.
No dia seguinte, por volta das 14h30, a jovem retornou ao local de surpresa. “Esses gibis não ficam disponíveis ao público. Só são vistos por amigos ou pessoas que realmente têm um profundo interesse pela história dos quadrinhos”, pondera Tom Zé.
A visita inusitada da jovem aconteceu ao lado de 4 homens vestidos com uniformes de uma empresa de telecomunicações. “Eles entraram rapidamente e estavam armados. Pediram para que eu e meus dois funcionários não olhássemos para seus rostos, foram criteriosos na escolha dos exemplares e levaram as coleções que eu tinha de mais valiosas – a maioria das décadas de 40 e 50”.
Entre os gibis roubados do acervo de Tom Zé estão raridades como a edição completa com 159 volumes da revista “O Lobinho”, publicada na década de 1940, além de exemplares de quadrinhos precursores no Brasil, como “O Globo Juvenil Mensal” e “O Gibi”. Algumas coleções estão estimadas em R$100 mil.
De acordo com Tom Zé, o crime pode ter sido encomendado. “Acredito que algum colecionador particular tenha encomendado o assalto. Quem roubou não irá colocar esses quadrinhos à venda, pois seria facilmente identificado pela comunidade de colecionadores”.
O crime está sob investigação na 27 º DP no Campo Belo e o colecionador afirma que pode recompensar denunciantes por pistas que levem aos assaltantes. “Se alguém souber de pistas realmente esclarecedoras, me proponho a dar recompensa em dinheiro”. As câmeras de circuito interno estão sendo analisada pela polícia e a investigação prossegue sob sigilo.