Colapso da economia chinesa está à espreita

26/09/2013 10:52 Atualizado: 26/09/2013 10:52
Preços dos imóveis em Pequim continuam a subir, apesar dos alertas de que a bolha imobiliária na China eventualmente explodirá (Mark Ralston/AFP/Getty Images)
Preços dos imóveis em Pequim continuam a subir, apesar dos alertas de que a bolha imobiliária na China eventualmente explodirá (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

Funcionários do Estado em todos os níveis têm procurado obter benefícios imediatos do mercado imobiliário na China, distorcendo a economia e precipitando os bancos na falência Agora, o debate sobre a economia da China não é mais sobre se a bolha imobiliária estourará, mas quando.

A China deu início à reforma da política imobiliária em 1998 e, em um ano, a China teve três cortes de taxas. As taxas de juros sobre os depósitos foram submetidas a uma rápida redução de 5,7% em 1998 para 1,98% em fevereiro de 2002. Na década seguinte, as taxas de juros oscilaram num nível baixo, entre 2-4%.

As taxas de juros sobre os depósitos ou equivaleram ou foram inferiores à taxa de inflação. A verdadeira taxa de juros – a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação – foi negativa ou zero. Manter a poupança num banco, nestas condições, era uma proposta perdedora. O povo chinês tinha duas saídas para obter retorno sobre seu dinheiro: investir em ações ou imóveis.

Em 2003, o Conselho de Estado da China disse que os imóveis seriam estrategicamente promovidos como um setor fundamental para o crescimento da economia chinesa. Os empréstimos para compra de imóveis deveriam ser processados com prioridade. Os preços dos imóveis na China começaram a crescer significativamente a partir de 2004.

Os governos locais alimentaram o aumento dos preços com sobretaxas chamadas “taxas de transferência de terras” e camadas de tributação. Em 1997, o total das taxas de transferência de terras recolhidas por todos os níveis de governo no país foram de apenas 6,7 bilhões de yuanes (US$ 1 bilhão). Em 2009, apenas a metrópole de Hangzhou coletou 120 bilhões de yuanes (US$ 20 bilhões) em taxas de transferência de terras.

De acordo com os cálculos do Dr. Ye Tan, um comentarista financeiro famoso na China, sobretaxas e taxas governamentais contribuem com 50-80% dos preços dos imóveis. Em muitas áreas atualmente, as taxas de transferência de terras por si só constituem cerca de 40% do preço final dos imóveis.

Hu Cunzhi, vice-ministro de Terras e Recursos, destacou em 11 de julho de 2013 que havia um entendimento tácito no mercado de terras entre os governos que estão vendendo e os desenvolvedores que estão comprando. Os desenvolvedores estão autorizados a retirar ilegalmente uma grande quantidade de terras do mercado, deixando-as pouco desenvolvidas ou subdesenvolvidas. Isso mantém a oferta de terra e habitação artificialmente baixa e empurra os preços para cima, beneficiando os governos locais.

A prática do regime chinês de avaliar o desempenho dos oficiais por meio do aumento do PIB registrado em sua área também elevou os preços dos imóveis. Os políticos locais tratam os projetos de desenvolvimento, como ferrovias e aeroportos, como conquistas políticas.

No entanto, eles devoram grandes quantidades de investimento e muitos não são realmente necessários. Uma vez construídos, muitos aeroportos ficam simplesmente ociosos, com um número de pistas mais elevado do que o número de voos hospedados pelo aeroporto em um dia.

Economia distorcida

Os preços dos imóveis altamente inflados têm distorcido a economia da China, fazendo com que muitas indústrias desloquem investimentos para o mercado imobiliário. Por exemplo, algumas empresas de vestuário pararam de fazer roupas e alguns fabricantes de aparelhos eletrônicos reduziram o volume e a variedade da produção para pôr o máximo de dinheiro no mercado imobiliário.

A margem de lucro das empresas chinesas continua caindo, com o aumento dos custos trabalhistas fazendo os custos operacionais subirem. Ao mesmo tempo, a margem de lucro no mercado imobiliário continua subindo. Comprar imóveis tem sido equivalente a ter garantia de lucro.

Embora todos tenham conhecimento de que a bolha estourará um dia, desde que a bolha continue inflando, ninguém quer perder o último trem para ganhar dinheiro.

Ao mesmo tempo, Pequim e Shanghai têm se beneficiado com os chamados efeitos da conglomeração. Empregos estão disponíveis nestas duas cidades e as pessoas estão dispostas a se mudar para lá por um trabalho, o que ajuda a impulsionar a demanda por habitação.

No entanto, mesmo em Pequim e Shanghai, os ricos frequentemente possuem vários apartamentos e muitos permanecem vazios. Em 2007, 36% dos apartamentos em Pequim estavam vazios e o número agora é certamente maior.

Situação precária

A taxa de crescimento do PIB da China desacelerou. No entanto, o sobreinvestimento ao longo dos anos resultou em um significativo excesso de capacidade de produção.

Por exemplo, a expansão do setor imobiliário na última década impulsionou fortemente a demanda por aço, levando usinas siderúrgicas a expandirem sua capacidade. A capacidade de produção total de aço da China hoje é quase metade do total mundial e a indústria siderúrgica está enfrentando um sério problema de excesso de oferta.

Como a economia da China tem desacelerado desde 2011, a demanda por metais caiu e os preços do aço despencaram. Agora, as empresas siderúrgicas têm de chegar a termos com suas pesadas dívidas. A dívida total das 86 empresas siderúrgicas líderes da China ultrapassam 3 trilhões de yuanes (US$ 480 bilhões).

Para tornar a situação dessas empresas ainda pior, seu lucro global nos primeiros seis meses de 2013 foi de apenas 2,2 bilhões de yuanes (US$ 350 milhões). Trinta e cinco dessas empresas (ou 40%) estão operando no vermelho. Excesso de capacidade semelhante existe em outros segmentos da economia.

Para complicar o cenário, há o endividamento dos governos locais da China. Embora os governos locais tenham lucrado muito com a venda de terras, o dinheiro obtido nem sequer começou a cobrir o abismo da dívida que esses governos administram.

Em 2010, a dívida do governo local da China atingiu 10,7 trilhões de yuanes (US$ 1,74 trilhões), segundo a Secretaria Nacional de Auditoria, mas o ex-ministro chinês das Finanças, Xiang Huaicheng, estimou que a dívida era de 20 trilhões de yuanes. Em outras palavras, a dívida local corresponde a 20-30% do PIB da China. Muitos governos locais vêm assumindo novas dívidas para pagar a dívida antiga. Cerca de um terço da nova dívida local é usado para pagar dívidas antigas.

Ou o fracasso das empresas da China, com seu excesso de capacidade, as enviará à falência ou a incapacidade dos governos locais de pagar seus empréstimos provocará o colapso da economia chinesa. Os bancos não podem ser poupados de qualquer dessas crises. Esta pode ser a razão pela qual o Bank of America e o Grupo Goldman Sachs estão despejando ações de bancos chineses

Antes de a bolha finalmente explodir, os preços dos imóveis nas grandes cidades pode continuar subindo, enquanto os preços em algumas cidades, como Erdos, Wenzhou e Guiyang, já começou a cair.

A queda dos preços dos imóveis fará com que o fluxo de dinheiro na economia seja interrompido. Empréstimos bancários não serão reembolsados e os dominós começarão a cair. A falência de um banco pode provocar o colapso de todos os outros. Não importa em que cidade a falência ocorra primeiramente, uma reação em cadeia começará e a velocidade do colapso acelerará.

Após a bolha do Japão explodir no final da década de 1980, o preço das ações continuou caindo por mais de duas décadas. O preço das ações despencou entre 70-80% e o valor dos imóveis caiu 55-65%. Hoje, o mercado imobiliário japonês está no mesmo nível de preços de 1983.

Ninguém sabe ao certo quando a bolha na China estourará, mas todos sabem que o país enfrenta muitos problemas sérios. Como um balão com uma parede fina em muitos pontos, ele rebentará assim que o ponto mais fraco não conseguir conter a pressão.

Tianlun Jian, PhD, escreve regularmente sobre a economia chinesa. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com