Coisas que os admiradores da civilização não gostam de dizer (nem de ver)

13/11/2014 13:47 Atualizado: 13/11/2014 14:24

COISAS QUE OS ADMIRADORES DA CIVILIZAÇÃO NÃO GOSTAM DE DIZER (NEM DE VER)Mas vejam a foto. Crânios de vítimas do genoc…

Posted by Augusto de Franco on Thursday, November 13, 2014

Mas vejam a foto. Crânios de vítimas do genocídio em Ruanda são expostos no memorial da igreja de Ntarama (fevereiro de 2004 by Gianluigi Guercia/AFP). Notem os crânios furados, até hoje o indicador arqueológico mais importante de se uma civilização era baseada na guerra (quer dizer, se havia Estado) ou não.

Não, não torçam o nariz. Estados são estruturas guerreiras. O chamado Estado democrático de direito, resultado da iniciativa de domar o Leviatã para que ele não devorasse seus próprios cidadãos, é uma singularidade. Não existiu por mais de 500 anos numa triste história de quase seis milênios (e mesmo assim se considerarmos que havia algum tipo de Estado associado à polis ateniense democrática, que era uma koinonia política e não uma cidade-Estado como as erigidas por seus vizinhos da época). E mesmo assim se considerarmos que só viveu sob sua égide uma pequena, quase ínfima, minoria da população existente na época e que hoje – pasmem, hoje, em 2014 – a maioria da população do planeta (cerca de 4 bilhões de pessoas) ainda não vive sob Estados democráticos de direito. Portanto, só tivemos democracias em 10% do tempo que vivemos sob Estados (quer dizer, em ambientes sociais configurados pela guerra). Em todo tempo restante (91%), fomos súditos, não cidadãos. E em todo esse tempo fomos escravos do Estado à serviço da guerra. Mas é isso que chamam de civilização.

O massacre, ocorrido em Ruanda há 20 anos (entre abril e julho de 1994) ceifou 800 mil vidas. Há um filme: Hotel Rwanda, de 2004, dirigido por Terry George e estrelado por Don Cheadle, Nick Nolte, Joaquin Phoenix, Desmond Dube e Sophie Okonedo.

Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor