Se hoje o programa espacial soviético é conhecido por ter colocado o primeiro homem e o primeiro satélite no espaço, pouco se sabe sobre o que aconteceu além dos sucessos oficialmente anunciados pelo governo. A repressão e a censura eram comuns no período soviético e as informações dificilmente chegavam ao Ocidente – principalmente tratando-se de fracassos, mortes ou fatos bizarros que ocorressem durante os lançamentos ou aterrissagens dos foguetes.
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Separamos cinco fatos confirmados ou especulados – com fortes evidências – que demonstram as loucuras do programa espacial soviético. É bom lembrar que muitos documentos do período foram destruídos e as informações disponíveis hoje podem ser somente uma fração daquilo que os astronautas testemunharam.
Cães astronautas
Ainda na década de 1950, os soviéticos não tinham muitas certezas sobre a possibilidade de um organismo sobreviver ao lançamento de um foguete ou permanecer vivo nas condições inóspitas do espaço. Como câmaras de pressão ainda não haviam sido inventadas, os generais tiveram a “excelente” ideia de mandar cães ao espaço.
As missões com animais, porém, não levavam em conta a possibilidade dos animais retornarem à Terra vivos. Um dos casos mais conhecidos foi a cadela Laika, que partiu em 1957. Uma grande propaganda foi montada em torno da missão – a Sputink 2 – e selos comemorativos estampando o animal com um fundo espacial chegaram a ser lançados. No discurso oficial, o governo afirmava que, uma vez no espaço, o animal morreria lentamente e sem sofrimentos, enquanto comia uma ração envenenada e o oxigênio da cápsula se tornaria cada vez mais escasso.
Mas a real causa da morte de Laika só seria divulgada em 2002: ao aproximar-se da órbita terrestre, as temperaturas na cápsula chegaram a bater os 40°C, graças à falta de preparo dos engenheiros e uma falha no sistema térmico, que impediu o controle de temperatura do módulo. Para piorar, os indicadores dos sinais vitais do animal mostravam que seus batimentos cardíacos estava além do normal – a pobre cadela estava sofrendo de estresse.
Nesse ambiente inóspito, Laika resistiu apenas 7 horas antes de falecer.
Astronautas perdidos no espaço
Não foram sós os cães que sofreram com o descaso dos engenheiros soviéticos. Os rumores sobre cosmonautas que teriam sido deixados para morrerem no espaço começaram em 1959, quando Hermann Oberth, um cientista da NASA, afirmou que conhecia a história de um grupo de pelo menos quatro astronautas que teria sido deixados para morrer numa missão. As alegações de Oberth caíram em descrédito pela falta de evidências apresentadas.
A história só começou a ganhar forma quando, em 1961, dois italianos entusiastas de rádios amadores começaram a interceptar sinais de comunicação do programa espacial soviético. Em uma das conversas, era possível ouvir uma mulher russa aterrorizada gritando sobre as altas temperaturas dentro de seu módulo.
“Eu me sinto queimando, eu sinto calor, é isso. Está tudo quente. Eu vejo uma chama! Eu posso ver uma chama!”, dizia.
Outras palavras vindas de um possível módulo espacial suplicavam.
“As condições estão piorando. Por que vocês não respondem? (…) A velocidade está diminuindo (…) o mundo nunca saberá sobre nós.”
Junto com as conversas, os irmãos também captaram sinais de SOS em código morse, que ficavam cada vez mais fracos, sugerindo que a espaçonave estaria se distanciando da Terra.
Apesar das alegações nunca terem sido confirmadas oficialmente, diversos astronautas da época foram posteriormente removidos de algumas fotos do programa espacial, contribuindo para o mistério em torno do caso.
Voskhod 1 e 2
Na corrida espacial contra os Estados Unidos, a União Soviética já mostrava sinais de atraso em 1964. Enquanto a NASA já havia colocado mais de uma pessoa em órbita num mesmo foguete, os russos ainda não possuíam nenhuma espaçonave com capacidade para mais de uma pessoa.
Foi aí que entrou o projeto Voskhod, feito às pressas com adaptações de última hora na cápsula Vostok, a mesma que levou Yuri Gagarin ao espaço. As adaptações não foram muito bem planejadas e logo que os astronautas entraram em órbita, os problemas começaram a surgir.
O astronauta Alexei Leonov, designado para a missão de ser o primeiro homem a “andar” no espaço, experimentou problemas logo após sair do módulo: seu traje começou a inflar rapidamente, impedindo que ele voltasse para dentro da nave. Para piorar, o oxigênio em seu corpo começou a formar bolhas, devido às baixas pressões, enquanto Leonov suava incessantemente e sofria com a insolação.
Quando finalmente conseguiu retornar para dentro do módulo – após liberar um pouco do ar de dentro de seu traje – outros problemas começaram a aparecer: a pressão do oxigênio dentro da nave subiu, aumentando as chances de um incêndio. Como a cabine era uma adaptação de um módulo com espaço para apenas um tripulante, o espaço era apertado e dificultava a operação dos comandos de controle da cápsula, dificultando o retorno para o solo.
Na volta para a Terra, mais problemas: os mecanismos de pouso falharam durante a descida e deixaram os tripulantes sem controle sobre a espaçonave, que pousou numa floresta nos Montes Urais, longe de qualquer vila ou cidade e em meio a ursos e lobos. O resgate só veio dois dias depois, com esquiadores enviados pelo governo.
O astronauta que embarcou sabendo que iria morrer
O ano era 1967 e a primeira missão tripulada do programa Soyuz estava prestes a acontecer. A espaçonave, porém, apresentava diversos problemas: Yuri Gagarin e seu time encontraram pelo menos 203 falhas estruturais no módulo, o que tornava a missão extremamente arriscada. O problema era que o voo já estava agendado para comemorar o 50º aniversário da Revolução Russa e nenhum astronauta tinha coragem suficiente para peitar as ordens de Brejnev.
Nessa época, Gagarin já era tido como um herói russo e estava cotado para assumir o voo. Porém, um velho amigo de Gagarin, Vladimir Komarov, não conseguia aceitar que seu amigo fosse morrer numa missão espacial e se voluntariou para realizar o voo no lugar de Gagarin.
Assim, na madrugada de 23 de Abril de 1967, Komarov entrou no módulo Soyuz 1 e partiu rumo aos céus – literalmente. Poucos minutos após chegar na órbita terrestre, os painéis solares emperraram e deixaram a cápsula sem energia. Para piorar, os sistemas de estabilização manual também começaram a dar sinais de falha e a missão foi abortada, com Komarov recebendo ordens para pousar de volta no planeta.
O piloto iniciou os procedimentos de pouso, mas um outro problema atingiu a nave: os paraquedas se emaranharam e a Soyuz começou a ganhar velocidade enquanto caía. Suas últimas palavras foram gritos de terror e desespero;
“A temperatura está subindo muito”, dizia, enquanto acusava os engenheiros soviéticos de serem os responsáveis por matá-lo ao não assegurarem todas as medidas de segurança do módulo.
Astronautas armados
Os soviéticos aprenderam com a experiência de Voskhod e, alguns anos depois, passaram a incluir armas nos kits de emergência do programa Soyuz. O propósito das armas não era para defesa no caso de um ataque alienígena, mas sim, para auxiliar na sobrevivência dos tripulantes no caso de uma aterrissagem em um local inóspito – como ocorreu com a Voskhod.
As armas enviadas eram do modelo TOZ 82, capazes de funcionarem com munição de rifles e de espingardas e foram muito bem avaliadas pelos soldados que as testaram, que descreveram o armamento como capaz de atingir com precisão alvos com mais de 20 metros de distância.
Até hoje as armas constam na lista de itens a serem enviados ao espaço durante as missões Soyuz, porém, antes do voo é realizada uma votação, onde os responsáveis pelo lançamento do foguete decidem se a arma partirá ou não junto com os astronautas.