Os cientistas costumam passar a imagem de serem cuidadosos, estudiosos e focados em suas pesquisas. Na China, alguns deles têm algumas outras coisas em mente: como rasgar milhões do contribuinte, fingir gastos de pesquisa e adicionar as despesas familiares aos relatórios oficiais.
Uma série de altos funcionários de ciência no aparato oficial e semioficial de pesquisa do Partido Comunista Chinês (PCC) foi punida por essas atividades recentemente. Pelo menos 50 funcionários de ciência e tecnologia na província de Guangdong foram demitidos recentemente, com os detalhes de suas atividades vazando na imprensa.
Cientistas flagrados
Wang Kewei, por exemplo, vice-diretor da Rede dos Centros de Ciência e Tecnologia da Ásia-Pacífico, sediado em Cingapura, foi colocado sob investigação por “violação grave da lei”, segundo o Comitê Central de Inspeção Disciplinar, a agência anticorrupção do PCC.
Li Xinghua, o diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia de Guangdong, também foi investigado em julho passado e foi expulso do PCC em janeiro. Os detalhes de sua má-fé não foram publicados, mas reportagens chinesas dizem que provavelmente está relacionado ao desvio de financiamento de pesquisa, uma prática comum na China.
Subornos também podem ser oferecidos: Zhang Shi, diretor de um departamento de pesquisa em Guangdong foi punido por receber 680 mil yuanes em subornos de dois professores e cinco empresários. Em troca, ele lhes concedeu o financiamento para suas pesquisas.
Relacionamentos primeiro
A corrupção geralmente funciona assim: O cientista recebe o financiamento, e em seguida simplesmente usa-o para suas despesas pessoais (de seus familiares); alternativamente, os cientistas podem gerar faturas falsas, sendo reembolsados pelo governo por despesas não relacionadas ao projeto ou podem comprar aparelhos científicos caros, pagar a mais e obter um desconto da empresa que vendeu para eles. O desconto é embolsado pelo cientista.
Relatórios de auditoria anuais mostram que esse tipo de corrupção é abundante, segundo a mídia estatal Xinhua. “Ter um bom relacionamento com funcionários e seus especialistas favorecidos é mais importante do que fazer uma boa pesquisa”, escreveram os cientistas chineses Rao Yi e Shi Yigong num artigo na revista “Science” na China em 2010. A mídia chinesa chama isso de um “segredo aberto”.
Na verdade, apenas 40% do financiamento atribuído para pesquisa científica é realmente usado na pesquisa, segundo a Associação Chinesa para Ciência e Tecnologia. O resto vai para “despesas” não-relacionadas ao projeto, algumas delas de natureza duvidosa. A falta de fiscalização, a falta de transparência, bem como a natureza politizada do financiamento científico, tudo contribui para o problema.
Alto investimento, baixa produtividade
A China aumentou o financiamento em pesquisa e desenvolvimento entre 12-20% a cada ano nos últimos 20 anos, segundo o relatório “Global R&D Funding Forecast”, publicado pela organização de pesquisa Battelle. A China gastou US$ 258 bilhões no ano passado, perdendo apenas para os Estados Unidos. Mas o que resultou disso foi desapontamento, dizem os cientistas.
Por exemplo, disse o professor Yang Zhongyi da Escola de Ciências da Vida da Universidade Sun Yat-sen: “Às vezes, um aparelho que custou vários milhões de yuanes é apenas posto de lado por anos até que esteja inutilizado. Em seguida, a universidade simplesmente o dá para empresas e chama isso de ‘cooperar com a indústria’.” Em outras situações, disse Yang, tudo o que o financiamento produz são pesquisas de pouco valor teórico ou prático.