Cientistas alertam sobre riscos irreversíveis nos mosquitos transgênicos

12/07/2012 05:03 Atualizado: 12/07/2012 05:03

Aedes aegypti, mosquito transmisor da dengue (Sanofi Pasteur/Flickr)Machos liberados na Bahia seriam semi-estéreis, em vez de estéreis, como anuncia o Governo

Para combater os recentes e reincidentes surtos de dengue no Brasil, autoridades decidiram produzir e liberar mosquitos transgênicos, num projeto piloto no município baiano de Jacobina, anunciado em 7 de julho, o que para ambientalistas é muito controvertido e ameaça transcender as fronteiras.

A comunidade científica, entre eles o Instituto Max Planc da Alemanha, reclama que as autoridades não entregaram informação completa, já que os estudos que embasam o projeto informariam que estes machos seriam semi-estéreis, e não machos estéreis, como anuncia o Governo, informa o Dário da Saúde.

Segundo cientistas, a geração transgênica afetará a futura geração de mosquitos, multiplicando-se em todas as regiões, da mesma forma como ocorreu com uma experiência com abelhas décadas atrás, de maneira irreversível, afetando todo o continente. Desconhece-se quais serão os resultados desta alteração genética ou as implicações nas pessoas que possam ser picadas por estes insetos transgênicos.

As autoridades reconheceram que desconhecem o impacto futuro e que será preciso aproximadamente cinco anos de experiências para mensurá-lo, segundo informe do portal do Ministério da Saúde. De acordo com o informe, no entanto, os mosquitos transgênicos já haviam sido liberados em 2011 e 2012 e continuarão a ser experimentados com a população da Bahia “como um dos mecanismos para combater a doença”.

Apesar dos alertas dos cientistas pela falta de provas de que não haverá danos futuros, as plantas e os animais transgênicos estão fazendo seu debut sem que tenha sido permitida a discussão a respeito, adverte o Diário da Saúde.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou no sábado, 7 de julho, na Bahia, da abertura da fábrica com a maior capacidade mundial de produção do anunciado mosquito da dengue estéril. A unidade funciona no município de Juazeiro, na sede da empresa pública Moscamed, especializada na produção dos insetos transgênicos para o controle biológico de pragas, informou o Governo.

Fábrica de mosquitos transgênicos

O portal do Ministério da Saúde informou em 7 de julho que a fábrica inaugurada na Bahia, com 720 m², será capaz de fabricar em grande escala o macho Aedes aegypti geneticamente modificado; cerca de 4 milhões de machos por semana.

“A produção dos mosquitos transgênicos será supervisionada pelo Ministério da Saúde. A intenção do governo federal é utilizar tecnologia inovadora criada nacionalmente como opção de controle da dengue em todo o Brasil”, informa o ministério.

“O projeto promete ser uma alternativa efetiva de controle da principal epidemia urbana do país”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que participou da inauguração da unidade ao lado do governador de Bahia, Jacques Wagner, e outras autoridades públicas. “Nossa expectativa é ter este tipo de tecnologia para controlar a dengue”, completou.

O portal do Governo informa que os mosquitos serão liberados no meio ambiente numa quantidade duas vezes maior que os mosquitos não estéreis normais, para atrair as fêmeas para o acasalamento. Segundo o informe, as autoridades asseguram que “sua prole não será capaz de atingir a fase adulta, o que deve reduzir a população de Aedes a tal nível que controle a transmissão da dengue”.

Inicialmente, os insetos serão testados na população do município de Jacobina, na Bahia, com 79.000 habitantes, que apresentou 1.647 casos de dengue e duas mortes pela enfermidade só no primeiro semestre de 2012. “A ação é inédita mundialmente: é a maior liberação de insetos transgênicos de controle urbano do mosquito da dengue. O governo de estado da Bahia está investindo 1,7 milhões (de reais) no projeto”, informa o Governo.

Mosquitos já haviam sido liberados

Segundo o portal do Ministério da Saúde, os mosquitos geneticamente modificados já haviam sido liberados em 2011 e 2012 em dois bairros de Juazeiro: Mandacaru e Itabedaba, ambos de apenas 3 mil habitantes. “Com o emprego desta técnica, houve redução de 90% população do mosquito em seis meses nestes distritos.”

Governo Federal afirma que se desconhece o impacto

“A partir dos resultados, o governo poderá expandir a estratégia para todo o país e, dentro de alguns anos, incorporá-la ao Sistema Único de Saúde (SUS) como um dos mecanismos de combate à doença”, destaca o informe do Governo.

“Os estudos para mensurar o impacto em termos de redução da dengue levam pelo menos 5 anos, de acordo com o National Institute of Health (órgão equivalente ao Ministério da Saúde americano)”, acrescenta o portal da Saúde.

Os estudos do projeto, conhecido como PAT (Proyecto Aedes Transgênico), são desenvolvidos pelo laboratório da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a companhia britânica Oxitec.

Alertas de cientistas

Segundo cientistas, “as preocupações mais urgentes se relacionam com a liberação de mosquitos que podem potencialmente picar os seres humanos. Eles alertam que não sabem nada sobre o que essas picadas podem causar ao homem. Não há estudos a respeito”, de acordo com o Diário da Saúde.

A outra preocupação descrita é que os informes indicam que os mosquitos são semi-estéreis e não estéreis como assegura o Governo, e não há informação sobre o que “os filhos dos machos estéreis produzirão ao morder o ser humano”, acrescentam os cientistas.

Se os alertas estiverem corretos, os mosquitos descendentes dos transgênicos que se multiplicarão entre os mosquitos normais também desconhecem fronteiras políticas, o que coloca não só o Brasil mas todo o continente sob risco potencial.