Cidadãos de Hong Kong estão fartos da conversa fiada de Pequim

03/09/2014 12:39 Atualizado: 03/09/2014 12:40

Por décadas, democratas de Hong Kong têm sonhado com o sufrágio universal. Em 31 de agosto, o regime comunista chinês fechou oficialmente a porta para esta possibilidade na próxima eleição, enfurecendo os cidadãos e incitando-os à ação.

Desde que a Grã-Bretanha concordou em devolver Hong Kong a China em 1984, os defensores da democracia na cidade-estado têm a esperança de um dia eleger seu chefe-executivo e os membros do Conselho Legislativo por meio do verdadeiro sufrágio universal e sem o controle do Partido Comunista Chinês (PCC).

O PCC adiou diversas vezes sua promessa de permitir o sufrágio universal em Hong Kong. A decisão mais recente é que Hong Kong pode ter sufrágio universal, desde que um comitê de nomeação controlado por Pequim selecione os candidatos a chefe-executivo e que Pequim tenha a palavra final no resultado da eleição. Como resultado, muitos cidadãos de Hong Kong sentem que foram enganados por 30 anos.

Mentira demais

Alex Chow Yong-kang, secretário-geral da Federação dos Estudantes de Hong Kong, rompeu em lágrimas durante uma manifestação na noite de 31 de agosto. “Estamos todos tristes com o desperdício do imenso esforço investido pelos jovens nos últimos 30 anos, andando em círculos sobre a questão do desenvolvimento democrático”, disse Chow. “Depois desta batalha, a maioria dos que apoiam a democracia, incluindo os moderados, foram empurrados para um beco sem saída pelo PCC.”

“Quem ainda têm esperança de negociar com o Partido Comunista? Quem ainda acredita na mentira de ‘um país, dois sistemas’ e do elevado grau de autonomia?” Chow se referia à promessa do PCC em 1984 que Hong Kong teria um alto grau de independência em relação à China continental por meio do princípio de “um país, dois sistemas”, cunhado na época da transferência. Chow disse ao Epoch Times que no futuro os cidadãos de Hong Kong lutarão por sua autonomia, incluindo fazer greve estudantil, ao invés de confiar no PCC.

Cerca de 800 mil cidadãos de Hong Kong votaram pela democracia em junho num referendo civil informal realizado pelo ‘Ocupar Central com Amor e Paz’, um movimento não-violento pelo sufrágio universal. Com suas esperanças pela democracia desfeitas, os cidadãos de Hong Kong estão se unindo para fazer frente ao Partido Comunista.

“Este não é o dia mais escuro em Hong Kong, mas o dia em que nossos cidadãos devem começar a despertar”, disse Chan Kin-man, um coorganizador do Ocupar Central. Chan tem acompanhado e participado na política local há anos como um intelectual moderado, tentando negociar com o PCC para levar adiante o desenvolvimento democrático em Hong Kong e apoiou as reformas políticas em Hong Kong em 2005 e 2010.

Agora Chan está profundamente abalado com a decisão do Congresso Popular Nacional (CPN) do PCC de negar o verdadeiro sufrágio universal. Ele disse que a decisão mostra que o PCC nunca concederá qualquer poder real a Hong Kong. Chan disse que, no início de 1980, alguns estudantes da Universidade de Hong Kong estavam preocupados com o futuro de Hong Kong após a transferência, então eles exigiram democracia.

“[O ex-primeiro-ministro chinês] Zhao Ziyang escreveu uma carta aos estudantes e prometeu que haveria sufrágio universal no futuro de Hong Kong. Mas até hoje, pode-se dizer que o sufrágio universal é de fato uma eleição totalmente manipulada”, disse Chan.

Após a transferência em 1997, cidadãos de Hong Kong continuaram a colocar suas esperanças em Pequim pelo sufrágio universal. Chan disse que sabia que isso não seria concedido nos primeiros dez anos após a transferência, assim eles depositaram suas esperanças em 2007. Em 2004, no entanto, o CPN vetou o plano de sufrágio universal para 2007.

Mais tarde, a esperança era conseguir o sufrágio universal em 2012, mas o PCC retardou o processo de novo. Chan disse que os moderados e os democratas, incluindo o Partido Democrata, todos sentem que foram enganados. “Quando aceitamos o prazo, pensamos que 2017 era o ponto final. Mas agora 2017 é apenas um ponto de partida, e o desenvolvimento democrático ocorreria lentamente e passo a passo [segundo o PCC]”, disse Chan.

No entanto, Chan vê esperança na escuridão. “Estamos dispostos a proteger nosso modo de vida com o poder do povo, o que é uma coisa gratificante”, disse ele. “Esperamos que a sociedade não desenvolva um estado de espírito pessimista só porque a reforma política encontrou um beco sem saída. Espero que permaneçamos aqui para proteger nossa pátria, que façamos disso o início de um novo capítulo.”

Duplo engano

Cheng Yu-shek, organizador da Aliança pela Democracia Verdadeira, acha que o PCC tem enganado Hong Kong em dois aspectos importantes nos últimos 30 anos. O primeiro é a promessa de um alto grau de autonomia. “Agora, algumas autoridades de Pequim dizem que Pequim deve assumir o controle sobre Hong Kong. Isso é uma mudança dramática”, disse Cheng.

O segundo engano é a promessa de alcançar a democracia em Hong Kong passo a passo. A decisão recente do CPN é uma regressão, disse Cheng. “Como o ‘passo a passo’ se reflete nisso? Eles costumam dizer que Hong Kong terá democracia quando as condições amadurecerem, mas como saber quando as condições estão maduras?”, disse Cheng. “Portanto, podemos ver claramente que o Partido Comunista continuará detendo o poder sobre Hong Kong e certamente não permitirá a verdadeira democracia aqui.”

Cheng coloca sua esperança no longo prazo, na luta persistente e em nunca desistir. “Devemos proteger nossos valores fundamentais, estilo de vida e dignidade”, disse ele. “Nós nos recusamos em deixar Hong Kong se tornar outra cidade do continente.”

Lin Baohua, um comentarista político de Taiwan, realizou uma conferência de imprensa em Taiwan ecoando a campanha democrática de Hong Kong. Ele disse que a decisão recente do CPN mostrou que o PCC já não precisa de Hong Kong como um exemplo de “um país, dois sistemas” para mostrar a Taiwan.

Lin Baohua disse que o PCC é mentiroso por natureza, fazendo um show para o público e estimulando fantasias. Antes da reunião do CPN, as autoridades de Pequim e Lau Siu-kai, um apoiador do PCC em Hong Kong, disseram que a decisão do CPN não era final e que ainda há margem para discussão.

“No entanto, esse projeto [de reforma política] foi um passo para trás”, disse Lin. De acordo com ele, a regra anterior “permite que alguém seja candidato a chefe-executivo com apenas um oitavo dos votos do Comitê de Nomeação, mas agora pelo menos 50% de aprovação é necessária”.

“PCC deve ser derrubado”

Lin Baohua acrescentou que só desintegrando o Partido Comunista será possível que Hong Kong tenha democracia. “O PCC deve ser derrubado”, disse ele. “O próprio PCC se opõe à democracia e é impossível deixar Hong Kong desenvolver a democracia. Se assim fosse, Guangzhou, Pequim e Shanghai também desejarão ser democráticos, o que fazer então? Portanto, é impossível conceder democracia a HK.”

Lin Yue-Tsang, um comentarista político sênior, escreveu em sua coluna no Hong Kong Economic Journal que a conjuntura política foi bruscamente abalada. Ele disse que o PCC mostrou sua verdadeira natureza, chocando os moderados, os centristas e muitos que geralmente não se preocupam com assuntos políticos. Lin Yue-Tsang disse que nunca acreditou que Hong Kong obteria a democracia das mãos do PCC. Ele acrescentou que vem lutando há três décadas e que é importante espalhar a consciência democrática.

Xia Xiaoqiang, um colunista do Epoch Times, disse que o sistema democrático de Hong Kong tem mostrado ao povo chinês do continente os valores universais da liberdade e dos direitos humanos. Isto é o que o PCC teme, disse Xia.