Ciberespionagem chinesa restringirá compra de empresas de tecnologia dos EUA

23/07/2015 09:43 Atualizado: 23/07/2015 09:43

A maior fabricante de chips eletrônicos da China pretende comprar uma grande fabricante dos Estados Unidos, a Micron Technology, o que representaria a maior aquisição chinesa de uma empresa norte-americana em sua história.

Por enquanto, tudo não passa de um rumor, e provavelmente nunca acontecerá devido ao controle que os Estados Unidos mantêm na busca de graves problemas de segurança em chips de computador fabricados na China.

Leia também:
Nove Comentários sobre o Partido Comunista Chinês
Banco Central da China está ficando sem tempo para evitar uma crise
Turbulência no mercado de ações chinês está ligada a luta por poder político

A empresa chinesa é a estatal Tsinghua UniGroup. Uma fonte não identificada disse ao New York Times que a empresa dispõe de 23 bilhões de dólares para comprar a Micron Technology, com sede em Idaho. Atualmente, a maior aquisição de uma empresa norte-americana por uma empresa estatal chinesa ocorreu em 2013, quando a Shuanghui International Holdings comprou a Smithfield Foods por 4,7 bilhões de dólares.

O experiente gerente de comunicações da Micron Technology, Daniel Francisco, se recusou a comentar o assunto, declarando apenas, através de um e-mail, que “a Micron não faz comentários sobre rumores ou especulações.” De acordo com o site de notícias especializado em tecnologia ZDNet, a gerência da Micron Technology afirmou que ainda não recebeu oferta da Tsinghua UniGroup.

Entretanto, todos sabem que nos bastidores a relação EUA e China no mercado de tecnologia, especialmente de processadores de computador é frágil. É provável que, mesmo que a Micron Technology concordasse com a venda, o governo dos EUA interviria.

Garantindo a segurança da cadeia de abastecimento

Processadores de computadores infectados provenientes da China têm contribuído com sua quota de problemas. Em maio de 2012, a Comissão de Serviços Armados do Senado divulgou relatório dizendo que componentes eletrônicos falsificados provenientes da China foram encontrados em veículos militares, inclusive em um avião de vigilância da Marinha.

“A China é a principal fonte de componentes eletrônicos falsificados que estão se infiltrando na cadeia de abastecimento de defesa”, segundo o relatório.

E enquanto o problema decorre de falsificação ilegal por empresas chinesas, o regime chinês não parece interessado em fazer nada a respeito. O relatório afirma: “O regime chinês falhou em tomar medidas para interromper as operações de falsificação que são realizadas abertamente no país.”

Na época, o senador Carl Levin destacou a gravidade do problema. Ele disse que está havendo uma invasão de peças falsificadas, principalmente da China”, e acrescentou que é um problema que “põe em perigo a segurança nacional, a segurança de nossas tropas, e os empregos nos Estados Unidos”.

O Partido Comunista Chinês (PCC) tem uma motivação clara para querer comprar a indústria de chips dos EUA. Ele está atualmente pressionando pelo desenvolvimento de tecnologia de fabricação doméstica e a tecnologia estrangeira agora é proibida em escritórios do regime chinês, que abrange uma fatia enorme do mercado devido à sua estrutura comunista de empresas de propriedade estatal.

Autoridades norte-americanas enxergaram a mudança iminente. Um relatório do congresso em novembro de 2013 declarou: “Indústrias como a de computadores e equipamentos industriais ocupam as primeiras posições” no impulso do PCC para construir uma indústria de alta tecnologia. Ele afirmou que, além desse impulso, o regime chinês poderia começar a mostrar mais interesse pela tecnologia dos EUA.

Houve um esforço para proteger a cadeia de abastecimento nos Estados Unidos, a fim de prevenir as ameaças à segurança nacional vindas do setor eletrônica da China, que busca um caminho para invadir os computadores militares e governamentais. A lei sobre o orçamento federal de 2014 dos Estados Unidos destinava-se a resolver este problema.

A nova lei exige que toda tecnologia adquirida por órgãos do governo federal deve passar por um processo de aprovação que verifica riscos de espionagem cibernética ou sabotagem.

Mais importante ainda, a nova lei obriga os funcionários a escolher na cadeia de fornecimento de tecnologia e proíbe qualquer coisa que represente risco à segurança cibernética. Afirma ainda que isto inclui qualquer coisa “que possa ser de propriedade, gestão ou subsidiado pela República Popular da China”.

Com esta lei, é duvidoso que o governo dos EUA permita que uma empresa estatal chinesa compre a Micron Technology, uma das principais fornecedoras de chips de computador.

Interesses que se enfraquecem

O PCC não estava feliz com a nova lei. No mesmo dia em que o orçamento federal foi assinado em 17 de janeiro de 2014, o Ministério do Comércio da China emitiu uma declaração dizendo que a lei “teria um impacto negativo sobre as empresas chinesas” e prejudicaria os “interesses” das empresas dos EUA.

No entanto, com as coisas como estão agora, as empresas americanas teriam pouco a perder se o governo dos Estados Unidos interferisse e impedisse a comentada venda da Micron Technology.

O PCC aprovou recentemente uma “Lei de Segurança Nacional”, que amplia o poder do partido a quase todas as facetas da sociedade chinesa. Isso inclue a nova regra de que todos os sistemas de infra-estrutura da rede e dos sistemas de informação na China precisam ser “seguros e verificáveis”.

De acordo com os Estados Unidos, as novas normas da Comissão de Revisão Econômica e de Segurança da China”, exigem que qualquer empresa que opera na China entregue ao partido o seu código-fonte e chave de criptografia, bem como proporcionm uma entrada backdoor nas redes de computadores comerciais.”

Em outras palavras, as empresas norte-americanas têm duas opções: entregar os códigos de seus produtos e permitir que o Partido Comunista espione seus usuários, ou sair da China.

A nova lei faz parte de um coquetel de leis semelhantes que o PCCh está lançando. A “lei de segurança cibernética” aprovada em 8 de julho dá maior controle ao PCCh sobre as indústrias de internet e tecnologia, ao mesmo tempo em que dá às empresas nacionais uma vantagem sobre as empresas estrangeiras.

Parte da lei de segurança cibernética obrigará as empresas estrangeiras de tecnologia a entregar suas especificações de design ao regime chinês. Graças às partes da mesma lei destinadas a localizar praticantes religiosos e ativistas políticos, como informou o jornal Epoch Times, as empresas que se hospedam na China também estarão suscetíveis de serem examinadas pelos acionistas interessados e agentes públicos que utilizam programas que violam os direitos humanos.

Entre as novas leis que ainda se esperam da China está uma que coloca as organizações não-governamentais estrangeiras sob o controle do Ministério da Segurança Pública do PCC, e uma “lei anti-terrorismo” que aprofundará os programas de espionagem PCCh na indústria eletrônica.

Diante de um ambiente na China que está se tornando cada vez mais hostil às empresas de tecnologia dos Estados Unidos, junto com a exigência do PCC de só permitir comprar uma empresa americana que forneça o código-fonte de programas de computador e eletrônicos de partes dos Estados Unidos, as possibilidades de que a venda da Micron Technology aconteça são significativamente limitadas.

E por último mas não menos importante, a indústria eletrônica chinesa tem um longo histórico de riscos de segurança já instalados em fábrica.

Uma longa lista de incidentes inclui desde telefones celulares Xiaomi infectados que podem espionar os usuários, cartões de memória SanDisk e Kingston comercializados no mercado cinza e o incidente de 2014 quando foi detectado que scanners portáteis vendidos por uma empresa chinesa estavam infectados por programas destinados à espionagem do transporte industrial mundial.

Houve uma declaração pouco divulgada de Greg Schaffer em 8 de Julho de 2011, que trabalhou no escritório de segurança cibernética do Departamento de Segurança Nacional. Enquanto testemunhava perante o Congresso, ele foi questionado se havia algum tipo de risco nos produtos eletrônicos de fabricação estrangeira.

Schaffer disse que sabia de casos em que aparelhos eletrônicos fabricados em outros países já haviam saído infectados da fábrica, afirmando: “Nós acreditamos que existe um risco significativo na área da cadeia de abastecimento.”

Ele disse: “Este é um dos desafios mais complicados e difíceis que temos.”