Possíveis respostas variam de maior engajamento a punições
O Partido Comunista Chinês tem realizado ciberataques contra diversos países, especialmente os Estados Unidos, por mais de uma década, mas apenas recentemente essa questão tem recebido atenção nos focos públicos por políticos.
Recentemente, esta questão foi trazida para o centro das atenções pela publicação de um relatório detalhado da Mandiant, uma empresa de segurança cibernética, que mostrou a infiltração maciça de sistemas de computadores norte-americanos por uma unidade do Exército da Liberação Popular (ELP) da China.
O relatório imediatamente provocou burburinhos sobre retaliação em Washington.
No domingo passado, no programa “This Week” da ABC News, por exemplo, Mike Rogers, presidente do Comitê de Inteligência, disse que os militares chineses estavam por trás dos ataques “sem sombra de dúvida”. Ele defendeu negar vistos a hackers individuais.
Logo após o relatório de 60 páginas da Mandiant ser publicado, o governo Obama publicou um documento sobre a proteção da propriedade intelectual [embora a República Popular da China (RPC) não fosse mencionada].
Nenhum funcionário do governo falou publicamente sobre que tipo de ação os Estados Unidos poderiam tomar contra o exército de pirataria do regime chinês, embora muitas ideias estejam sendo consideradas.
Uma escola de pensamento, que por muito tempo foi a dominante, diz que o governo precisa simplesmente dialogar mais com a China e persuadir o regime que é de seu próprio interesse não enviar ciberespiões aos sistemas de computadores norte-americanos.
“Temos observado na última semana uma coalizão emergente de negócios, governo e da opinião pública. O que espero é que isto dê ao governo dos EUA maior força nas discussões com a China, para aprofundar o diálogo e expandi-lo para incluir o ELP”, disse Christopher Johnson, um especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, após um painel recente no Washington.
Se trazer o ELP para a mesa ou se notas promissórias para parar os ciberataques – algo que o PCC nega solenemente – serão bem vindos é outra questão.
O governo tem dialogado com a RPC há anos sobre os ciberataques, mas as invasões cresceram significativamente no ano passado.
Um dos aforismos de especialistas em segurança de rede, por vezes atribuído a Dmitri Alperovitch, um dos fundadores da empresa de segurança CrowdStrike, diz o seguinte, “Há dois tipos de empresas Fortune 500: aquelas que sabem que foram hackeadas e aquelas que ainda não sabem.”
Especialistas estimam que dezenas de bilhões de dólares em propriedade intelectual foram desviadas por hackers chineses, que penetraram as comunicações de institutos de pesquisa, mídias, escritórios governamentais, universidades e todo tipo de corporações.
Devido ao grande dano que já foi causado, outra abordagem para o problema diz que o tempo para diálogo acabou e agora é hora de os Estados Unidos fazerem alguma coisa.
A ideia de que os Estados Unidos deveriam retaliar, seja por meios cibernéticos ou outros, na tentativa de forçar a China a controlar seu exército de hackers, ainda é controversa.
“O problema é que então você entra na situação do olho-por-olho, que é onde ninguém quer que estejamos”, disse Johnson. Além disso, acrescentou ele, “Nós não fazemos essas coisas. Não fazemos espionagem econômica.”
Ralph Peters, um jornalista e autor sobre questões de segurança, num artigo de opinião no New York Post, escreveu que o governo norte-americano tem “enormes capacidades disponíveis para responder punitivamente aos ciberataques por si próprio. Temos a inteligência. Temos os alvos. Mas a ordem nunca vem.”
Ele acrescentou, “Jogar defensivamente não significa ficar inerte. Os chineses não recuarão até que sintam dor. Dor séria.”
Também parte da escola de retribuição é William C. Triplett, um analista sobre China de longa data e, mais recentemente, autor de “Bowing to Beijing” (“Curvando-se para Pequim”, tradução livre). Você não diz simplesmente “por favor, pare” ao regime chinês, comenta ele, “a menos que isso seja acompanhado de risos”.
A questão, de acordo com Triplett, é responder de forma que chame a atenção dos altos líderes do PCC e fazê-los pararem as violações, sem cruzar a linha na direção de uma disputa crescente ou da sabotagem.
Os esforços da RPC, até agora, permanecem no nível de espionagem: adquirir propriedade intelectual para impulsionar o desenvolvimento econômico da China. Mas junto com o roubo de tecnologia, agências de inteligência do PCC estão adquirindo ferramentas de alta tecnologia para realizarem uma guerra real. Alguns relatórios indicam que em diversos ataques a RPC tentou obter acesso aos fornecedores de sistemas de controle de computadores de infraestruturas críticas nos Estados Unidos e analistas dizem que tal penetração também pode ser utilizada, por exemplo, para paralisar as redes de energia dos EUA num cenário de combate real.
Uma questão crítica para Triplett ao considerar qualquer tipo de retaliação seria não perturbar o verdadeiro povo chinês, mas visar o regime é outra questão inteiramente.
Isso leva a uma variedade de outras ideias coloridas sobre como forçar as mãos dos tomadores de decisão do PCC: negar vistos, fechar escritórios consulares (sob o disfarce de “manutenção” de longo prazo), investigações fiscais intrusivas e simultâneas em grandes empresas chinesas nos Estados Unidos, vazar provas de violações dos direitos humanos pelo PCC ou fazer a imigração e acesso bancário difícil para filhos e filhas de líderes do PCC. Todos esses métodos têm a virtude de atingir o PCC e os interesses de seus oficiais superiores diretamente, sem expor o público em geral a qualquer dano.
A lógica dominante do relacionamento dos EUA com a RPC, desde que Nixon normalizou as relações em 1972, tem sido o “engajamento”. A base desta visão é que a RPC se beneficiará de for integrada na ordem internacional estabelecida – com a suposição implícita de que seus interesses também se alinham com essa ordem.
“O quadro atual não funciona. O engajamento criou exatamente o que tentamos evitar, que é um regime chinês agressivo e beligerante”, diz Gordon G. Chang, autor e consultor sobre China. “Nós temos de mudar a abordagem.”
O Rep. Eliot Engel de Nova York, um democrata no Comitê das Relações Exteriores, também apareceu recentemente no programa da ABC News ao lado de Mike Rogers. Ele disse que, depois de abordar uma série de autoridades chinesas com evidências de pirataria, “Eles simplesmente as ignoram. Eles as ridicularizam.”
Chang chegou à frase frequentemente citada de James R. Lilley, um célebre agente da CIA e posteriormente diplomata norte-americano para a China, “Você não conseguirá nada deles a não ser que os aperte.” Que tipo de aperto seria mais eficaz é uma questão de debate. Mas, até agora, falar não tem sido suficiente, diz Chang.
“As pessoas em Washington ainda querem se engajar com o regime e acham que essas medidas minariam nossa capacidade de ter relações de cooperação”, disse Chang. “Mas, em minha opinião, isso ajudaria, porque os chineses precisam sentir um pouco de dor antes que estejam dispostos a terem relações normais.”
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