CIA admite estar por trás de golpe no Irã

19/08/2013 11:57 Atualizado: 04/09/2013 23:59
A casa do primeiro-ministro deposto Mossadegh em ruínas após um assalto prolongado pelas forças golpistas, incluindo vários tanques (Stephen Langlie, cortesia de Marcos Gasiorowski/Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)
A casa do primeiro-ministro deposto Mossadegh em ruínas após um assalto prolongado pelas forças golpistas, incluindo vários tanques (Stephen Langlie, cortesia de Marcos Gasiorowski/Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)

A CIA reconheceu formalmente estar por trás do golpe de Estado contra o primeiro-ministro iraniano Mohammad Mossadegh em 1953. O reconhecimento foi obtido pelo Arquivo de Segurança Nacional dos EUA e publicado em 18 de agosto.

Kermit Roosevelt, chefe da divisão de operações da CIA no Oriente Médio e responsável pelas operações do plano de golpe dos Estados Unidos-Reino Unido (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)
Kermit Roosevelt, chefe da divisão de operações da CIA no Oriente Médio e responsável pelas operações do plano de golpe dos Estados Unidos-Reino Unido (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)

“O envolvimento norte-americano e britânico na derrubada de Mossadegh tem sido de conhecimento público há longo tempo, mas a postagem de hoje [18] inclui o que se acredita ser o primeiro reconhecimento formal da CIA que a agência ajudou a planejar e executar o golpe”, segundo o Arquivo.

Funcionários da agência disseram anteriormente que os documentos da CIA sobre 1953 são raros e a maioria dos registros foram perdidos ou destruídos na década de 1960.

A história interna anterior, a Batalha pelo Irã, foi lançada em 1981, mas foram grandemente cortadas e riscadas todas as referências a TPAJAX, o nome-código da operação norte-americana. Na recém-lançada versão da história, as referências a TPAJAX estão presentes.

Mossadegh foi um primeiro-ministro democraticamente eleito do Irã de 1951-1953, quando seu governo foi derrubado pelo golpe. Seu sucessor, que disse ter sido escolhido pelo MI6 (a agência de inteligência da Inglaterra) e pela CIA, foi o general iraniano Fazlollah Zahedi. Este renunciou como ministro do Interior em 1951 por causa das críticas que recebeu em lidar com uma manifestação, segundo a história da CIA.

A Batalha pelo Irã se concentra muito, pelo menos na primeira parte, na situação do petróleo no país, que envolve tanto a Grã-Bretanha como os Estados Unidos e remonta pelo menos a 1872, quando o documento começa.

De acordo com o documento, o Xá da Pérsia, Nasir al-Din, “em troca de dinheiro muito necessário”, deu ao empresário alemão Barão de Reuter uma concessão para explorar todos os minerais do país, com exceção de ouro, prata e pedras preciosas.

Donald N. Wilber, um arqueólogo e autoridade na antiga Pérsia, serviu como principal planejador norte-americano do TPAJAX (junto com o oficial britânico da SIS Norman Darbyshire). Ele escreveu a primeira história da CIA sobre a operação (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)
Donald N. Wilber, um arqueólogo e autoridade na antiga Pérsia, serviu como principal planejador norte-americano do TPAJAX (junto com o oficial britânico da SIS Norman Darbyshire). Ele escreveu a primeira história da CIA sobre a operação (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)

Apesar de Reuter não encontrar petróleo, este foi descoberto por seu sucessor, um especulador britânico chamado William Knox D’Arcy, que vendeu ações na “Primeira Companhia de Exploração” e rapidamente começou dois poços produtores de petróleo em 1904.

A relação entre os britânicos e os persas começou a deteriorar após a 2ª Guerra Mundial, com uma discussão sobre a forma como os lucros do petróleo seriam divididos. Em 1932, a concessão foi anulada e uma nova foi elaborada. (Além disso, em 1935, a Pérsia foi renomeada Irã).

Enquanto o Irã forneceu petróleos aos aliados durante a 2ª Guerra Mundial, greves e queixas impactaram significativamente a situação no final da década de 1940. Pouco depois um novo contrato foi assinado em 1949 – dando ao Irã uma quota de 20% dos rendimentos distribuídos em vez da participação de 50% que os líderes do país buscavam – e a eleição viu Mossadegh chegar ao poder. O Partido da Frente Nacional de Mossadegh tinha a intenção de nacionalizar o petróleo e as disputas de trabalhadores iranianos da indústria do petróleo levaram a lei marcial em 1951. Pouco depois, o Xá assinou uma lei ordenando o governo a tomar a empresa que extraía petróleo do Irã, levando a mais deterioração na relação britânico-iraniana, que culminou em janeiro de 1952, quando Mossadegh ordenou que todos os consulados britânicos fossem fechados e encerrou todos os centros culturais e de informação estrangeira logo depois.

O Irã pediu um empréstimo aos Estados Unidos para ajudar a indústria do petróleo a funcionar sem problemas sem ajuda externa, mas o presidente Dwight Eisenhower negou o pedido. A próxima ação foi o golpe de agosto de 1953 que derrubou Mossadegh, depois que a disputa do petróleo foi “resolvida ao longo das linhas que foram propostas por Mossadegh – a indústria petrolífera foi nacionalizada, mas suas operações eram dirigidas por um grupo de empresas estrangeiras do petróleo”. Herbert Hoover Jr. atuou como consultor especial de petróleo para o Secretário de Estado e desempenhou um papel fundamental nas negociações, segundo a CIA.

Tanques guardam uma via no centro de Teerã durante o golpe (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)
Tanques guardam uma via no centro de Teerã durante o golpe (Arquivo de Segurança Nacional dos EUA)

Em sua descrição de Mossadegh, a CIA se concentrou especialmente na maneira como ele lidou com a Grã-Bretanha. Após o Xá Reza manter-se no poder por 20 anos apelando ao nacionalismo iraniano latente, “Mossadegh usou esse nacionalismo despertado e o desejo de independência para se manter no poder e desafiar a Grã-Bretanha”, disse a CIA no documento.

Os documentos também incluem várias peças de comentários de propaganda preparados pela CIA que tentavam depreciar Mossadegh. Uma das partes do Arquivo, intitulada ‘Serviço de espionagem de Mossadegh’, diz:

“Esta peça de propaganda acusa o primeiro-ministro de fingir ser ‘o salvador do Irã’ e alega que em vez disso ele construiu um grande aparato de espionagem que ele tem treinado em praticamente todos os setores da sociedade, desde o exército até os jornais, a política e os líderes religiosos. Promovendo imagens de sua suposta aliança com o ‘assassino Qashqai Khan’ e os bolcheviques, os autores acusam: ‘Este é o caminho que você salva o Irã, Mossadegh? Sabemos o que você deseja salvar. Você deseja salvar a ditadura de Mossadegh no Irã!”

Além disso, há o esboço de uma declaração do Departamento de Estado dos EUA para depois do golpe que antecede a queda de Mosaddeq em duas semanas.

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A recusa de revelar anteriormente partes dos documentos relativos ao golpe – mesmo depois que muita da informação foi divulgada por outros meios e que o envolvimento da CIA no golpe foi reconhecido por pelo menos dois ex-presidentes – é confusa.

“Enquanto o Arquivo de Segurança Nacional aplaude a decisão da CIA de disponibilizar esses materiais, a postagem de hoje [18] mostra claramente que esses materiais poderiam ter sido revelados com segurança muitos anos atrás e sem risco de danos à segurança nacional”, disse o Arquivo.

Encontre a versão A e a versão B (a nova versão) da Batalha pelo Irã, bem como outro documento detalhando a queda de Mossadegh nos links abaixo e outros documentos aqui.

Batalha pelo Irã – versão de 1981

Batalha pelo Irã – 2011

CIA, história, Zendebad, Xá! A Agência Central de Inteligência e a queda do primeiro-ministro iraniano Mohamm…