Chineses de Yunnan enfrentam polícia contra confisco de terras

06/11/2013 10:56 Atualizado: 06/11/2013 10:56

Mais de mil aldeões da província de Yunnan, no Sul da China, se chocaram com a polícia em 22 de outubro, destruindo mais de 30 veículos das forças de segurança durante protestos contra o confisco de terras realizado pelas autoridades.

Aldeões quebraram mais de 30 veículos da polícia e pelo menos 70 pessoas ficaram feridas no confronto, incluindo moradores da vila de Guangji, do município de Jincheng, na capital provincial de Kunming. Alguns policiais também ficaram feridos, segundo a Rádio Free Asia (RFA).

Uma testemunha disse à RFA que a polícia atirou gás lacrimogêneo diretamente contra os moradores. Outra testemunha de sobrenome Pu disse: “Havia dezenas de moradores feridos, incluindo três ou quatro gravemente feridos. Entre os mais graves houve costelas quebradas e uma perna fraturada.”

Um local disse ao Epoch Times em 22 de outubro: “Parece que as forças de segurança de Kunming em todos os níveis foram enviadas para cá e que a polícia especial da cidade de Anning [vizinha de Kunming] também foi convocada. Há pelo menos mil policiais na vila [de Guangji]. Hoje à noite, toda a vila estará cercada pela polícia.”

No entanto, a mídia estatal Xinhua reportou: “Não houve relato de feridos entre os moradores.” Mensagens sobre o confronto em microblogues e chats da China foram rapidamente excluídas. Um internauta escreveu: “Governo medonho! Eles mobilizam as tropas de choque para reprimir agricultores. Que terrível!”

O conflito começou quando as autoridades locais venderam cerca de 1.300 hectares de terras agrícolas pertencentes a 12 vilas do município de Jincheng em dezembro passado. Seu plano é construir um resort turístico na área. De acordo com moradores, não foi emitido sequer um comunicado oficial sobre a venda nem houve consentimento dos moradores. Os agricultores também estavam revoltados com a ínfima compensação oferecida por seus direitos à terra e dizem que houve conluio entre oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) e construtoras. Eles estão preocupados com seu futuro sem terra.

Os moradores têm protestado sobre o confisco ilegal de terras e as demolições forçadas por quase um ano, inclusive apelando às autoridades de escalões superiores. Sua resistência tem provocado conflitos e confrontos recorrentes com as forças de segurança entre março e outubro, resultando em derramamento de sangue e detenções.

“A enorme expropriação de terras que ocorre em Jincheng resultará em cerca de 20 mil agricultores sem terras, dezenas de milhares de pessoas desempregadas e inúmeros agricultores entregues à pobreza”, escreveu o website Crossingland.net, citando uma autoridade local.

Milhões de agricultores sem terra

Protestos e confrontos entre agricultores e autoridades locais sobre demolições forçadas e confiscos de terras tornaram-se frequentes na China desde os anos 1990.

De acordo com uma pesquisa feita pelo Centro de Pesquisa sobre a China Contemporânea da Nova Zelândia, até meados da década de 2000, questões relacionadas à terra, decorrentes da requisição do Estado e impulsionadas pela rápida industrialização e urbanização, tornaram-se a principal causa de queixas rurais. As estatísticas oficiais indicam que mais de 50 mil casos de conflito de terras em 224 cidades ocorreram entre 2003 e março de 2008.

Em 2010, a China testemunhou cerca de 187 mil casos de “incidentes de massa”, envolvendo protestos de grupos e confrontos violentos com as autoridades governamentais; cerca de dois terços desses incidentes foram sobre disputas de terras em áreas rurais, segundo o Wall Street Journal.

Um relatório de 2011 da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS), disse que o PCC não conseguiu ajudar adequadamente os agricultores sem terra e que 60% dos agricultores apelaram às autoridades superiores sobre o confisco de terras, conforme relatado pela NTDTV, uma emissora independente em língua chinesa sediada em Nova York.

De acordo com o ‘Livro Azul de 2013 sobre o Desenvolvimento Social’ da ACCS, o número de manifestações anuais, petições, greves e tumultos na China foi superior a 100 mil nos últimos anos e cerca de metade devido ao confisco de terras.

Segundo a revista China Business Review, uma pesquisa de 2011 realizada pelo Instituto Landesa de Desenvolvimento Rural revelou que alguns agricultores receberam indenização 40 vezes menor do que o valor de mercado de sua terra, com as autoridades governamentais retendo a diferença como receita própria. A remuneração inadequada é a maior queixa entre os agricultores afetados, mostrou a pesquisa.

A China tem mais de 50 milhões de agricultores sem terra, devido à expropriação de terras nas últimas três décadas. Outros 60 milhões podem ser desterrados nas próximas duas décadas, segundo um relatório de fevereiro de 2012 da Monthly Review.