Num caso incomum de refugiados na Austrália, oito praticantes do Falun Gong e outros dois requerentes de asilo chineses tiveram uma reunião a portas fechadas em Darwin com oficiais da imigração na quinta feira, enquanto decidiam se continuariam numa perigosa viagem de barco para a Nova Zelândia ou ficariam na Austrália.
A reunião começou às 9 da manhã, horário de Darwin, e continuou por várias horas, com cada membro do grupo sendo entrevistado separadamente. Oficiais expressaram mais cedo que estavam preocupados que o grupo não conseguiria chegar à Nova Zelândia, pois seu barco é muito pequeno e as condições da viagem são muito perigosas.
Praticantes do Falun Gong de Queensland têm estado em contato constante com os recém-chegados. John Andress, porta-voz da Associação do Falun Dafa de Queensland, disse que o grupo originalmente se preparava para arriscar a perigosa viagem, temendo que ficando no sistema de detenção australiano de refugiados lembrá-los-ia da perseguição que experimentaram na China.
No entanto, o grupo decidiu agora permanecer na Austrália até seu pedido de asilo ser aceito, disse o Sr. Andress.
“Eles estão extremamente gratos pelo tratamento compassivo do governo australiano e estão preparados para seguir todas as leis, a fim de receber o status de refugiados aqui”, disse Andress.
O grupo foi autorizado em terra e tem sido abastecido com água, comida e um telefone celular desde sua chegada. Também lhes foi nomeado um representante legal para a reivindicação.
“Eles nunca teriam recebido tal tratamento na China. Eles agora confiam no governo australiano. Eles estão muito gratos”, diz Andress.
Os dez cidadãos chineses foram resgatados ao largo da costa da Austrália na quinta-feira depois de terem enviado uma mensagem de SOS. Seu navio, viajando da Malásia, não tinha mais água e tinha necessidade de refazer suas provisões.
Acredita-se que sejam oito praticantes do Falun Gong, cinco membros de uma família de seis componentes, e três adultos não-relacionados. A décima pessoa é um ativista da democracia.
Os praticantes disseram que estão fugindo da perseguição na China por suas crenças no Falun Gong, uma antiga disciplina espiritual chinesa.
Embora a Austrália tenha visto um grande aumento na chegada de barcos de refugiados nos últimos dois anos, devido a políticas governamentais tolerantes, ninguém tem insistido em viajar outros 5.000 km para a Nova Zelândia.
“O fato de que eles estavam dispostos a arriscar suas vidas é um indicador real da gravidade da perseguição que receberam em sua terra natal”, diz Andress.
O Falun Gong viu popularidade sem precedentes na China nos anos 90, quando o número de praticantes chegou a 100 milhões de pessoas. No entanto, o então líder do Partido Comunista Chinês, Jiang Zemin, lançou uma violenta campanha de perseguição contra a prática em 1999, que continua inabalável até hoje.
Grupos de direitos humanos relataram uso generalizado de tortura contra os prisioneiros praticantes do Falun Gong no notório sistema de trabalho forçado da China, incluindo a retirada de órgãos de praticantes ainda vivos para venda lucrativa.
Um dos requerentes de asilo, o Sr. Ling Hongbin, disse que foi torturado na China durante seus sete anos de prisão. “Quando a perseguição começou, eu estava nos meus vinte anos e tive um pequeno bebê. Quando saí, meu filho já tinha crescido”, disse ele ao praticante do Falun Gong de Queensland, William Luo.
Ling disse que durante a detenção ele viu muitos métodos de tortura utilizados em praticantes do Falun Gong e tinha mais medo de ter seus órgãos retirados, uma prática comum usada em prisioneiros chineses que vale bilhões de dólares para o regime comunista chinês.
Os mesmos receios foram expressos por seu companheiro requerente de asilo, Wu Xiaohong, que quase morreu depois de ser espancado com bastões elétricos, pendurado por horas, e posto sentado no chamado “banco do tigre”, uma prancha de madeira em que as mãos são amarradas atrás das costas.
“Essas pessoas já passaram pela situação mais horrível. Eles não sabiam se seriam puxados para fora a qualquer momento para ter seus órgãos retirados”, disse Andress.
O governo australiano indicou que a viagem para a Nova Zelândia está fora de questão e o grupo permanecerá em Darwin para posterior processamento do seu status de refugiado.
“Eles respeitam e confiam na lei, e farão o que for necessário. Obviamente, eles preferem não ficar em detenção obrigatória aqui por mais de um curto período”, disse Andress.