Bilhões em doações vão parar nos bolsos das autoridades, vítimas ficam sem nada
Como He Qinglian indicou em “A enchente recente de Pequim e o fim da caridade na China”, os chineses estão ficando insensíveis aos pedidos de caridade para ajudar as vítimas das enchentes de Pequim, em parte por causa de sua amarga experiência com a doação feita às vítimas do terremoto de Sichuan de 2008.
Relatos da devastação do terremoto que atingiu a província de Sichuan em 12 de maio de 2008 sensibilizaram a todos. Aldeias inteiras foram arrasadas, o número oficial de mortes eventualmente chegou a 70 mil e quase 5 milhões ficaram desabrigados. Os esforços de socorro surgiram espontaneamente em toda a China e na diáspora chinesa em todo o mundo.
De acordo com o Ministério dos Assuntos Civis, chineses na China doaram 4,185 bilhões de yuanes (657 milhões de dólares) na primeira semana. Eventualmente, somou-se 12 bilhões de dólares, segundo um relatório da ONG Centro de Pesquisa da Universidade de Tsinghua em Pequim.
Além de abrir suas bolsas, chineses foram pessoalmente dar uma mão. Houve relatos de caravanas de carros carregados com suprimentos viajando longas distâncias do próspero Leste numa tentativa de socorrer as vítimas, um ato que parecia contradizer os relatos de uma China insensível, cuja população estava consumida pelo egoísmo.
Mas essa ajuda não foi sempre bem-vinda. Por exemplo, um blogueiro popular foi preso por tentar levantar dinheiro e pessoalmente entregar os fundos para os necessitados em Sichuan.
O Partido Comunista Chinês (PCC) mantem-se hostil ao florescimento de uma sociedade civil na China. Iniciativas independentes criam empresas independentes do Estado e, portanto, ameaçam a liderança do PCC.
As leis na China exigem que a caridade seja canalizada através de duas organizações que estão intimamente associadas com o Estado, a Sociedade Cruz Vermelha da China e a Fundação de Caridade da China.
Com o controle estatal da beneficência, doar torna-se oportunidade para a corrupção. O jornal Beijing Times relatou um estudo de doações do terremoto que, utilizando apenas dados oficiais, revelou que 80% dos 76 bilhões de yuanes doados foram para contas do governo.
Numa história de setembro de 2010, o Epoch Times informou que o Secretaria de Auditoria Nacional da China recebeu um total de 1.962 notificações de casos de corrupção sobre os esforços de resgate do terremoto de Sichuan de 2008.
O Diário da Manhã do Sul China, um jornal sediado em Hong Kong, reportou que autoridades locais em algumas áreas exageraram as perdas do terremoto para conseguirem 1,23 bilhões de yuanes (180 milhões de dólares). Aparentemente, superestimando as perdas, as autoridades podiam reivindicar fundos maiores de ajuda.
Em outros casos, alguns departamentos governamentais detiveram significativamente a distribuição dos fundos de ajuda e de mercadorias para as vítimas do desastre, segundo o referido artigo do Epoch Times.
Enquanto isso, o povo da província de Sichuan se queixou por anos sobre como os esforços foram deficientes para reconstruírem suas vidas. Em alguns casos, as queixas deram origem a protestos.
Em 25 de abril de 2012, os agricultores do distrito de Linjiang, perto de Wenchuan, o epicentro do terremoto de maio de 2008, invadiram o edifício do governo local e quebraram mesas e cadeiras, segundo um artigo de abril de 2012 do Epoch Times.
Segundo um morador que pediu anonimato por segurança pessoal, autoridades da cidade de Lianjiang roubaram centenas de milhões de yuanes dos fundos de alívio do terremoto que se destinava as vítimas do terremoto de Wenchuan.
Outro morador disse, “Aldeões abriram um armário contendo documentos financeiros e descobriram que as verbas foram apropriadas por oficiais do PCC e suas famílias. Cada família recebeu cerca de 100 mil yuanes (15.800 dólares). Os moradores ficaram indignados. O PCC é tão corrupto, cada oficial é corrupto.”