China vende 94 bilhões de dólares em títulos estrangeiros

22/09/2015 11:39 Atualizado: 22/09/2015 11:39

Desde a desvalorização do yuan em meados de agosto, o mercado acordou. O fato é que, para evitar a queda ainda maior da moeda, a China teve que vender partes de sua pilha enorme de reservas cambiais estrangeiras. A questão que ainda restava era quanto destas reservas iriam ser vendidas.

No início deste mês, ficamos um pouco mais a par da situação quando o People’s Bank of China (PBOC) disse que reduziu a quantidade de reservas cambiais em US $ 94 bilhões, do total de US $ 3,557 trilhões.

Isto confirma a maioria das especulações de uma redução em torno dos 100 bilhões de dólares: o Goldman Sachs relatou que o número real pode ser maior. “As vendas de reservas cambiais podem ter sido subestimadas em cerca de 20 bilhões, dado o efeito da valorização da moeda”, disse a empresa em uma nota.

Por causa das mudanças das taxas de câmbio durante o período, a China poderia ter vendido US $ 114 bilhões, mas teve certa recuperação devido ao aumento de valor da posição classificada em relação a outras moedas.

De qualquer forma, o número é assustadoramente grande para um único mês. Se as vendas continuarem assim, nós estaremos olhando para uma cifra de mais 400 bilhões até o final do ano, com possíveis efeitos colaterais para os mercados ocidentais.

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Alto impacto

Para não haver grande oscilação, os preços dos títulos do Tesouro devem declinar e a produção deve aumentar se os chineses continuarem a vender. O Citigroup estima que a cada US $ 500 bilhões em títulos de 10 anos vendidos, deve aumentar a produção em cerca de 1 por cento.

Isto é negativo para as ações, já que elas estão sendo comparadas com a chamada taxa livre de risco dos títulos do Tesouro. Quanto maior a taxa sobre o tesouro, menor o incentivo para comprar ações mais arriscadas.

Mesmo com o impacto negativo sobre as ações, alguns analistas acham que toda a situação e instabilidade na China pode forçar os investidores a comprarem ativos mais seguros, como estes títulos do Tesouro, absorvendo toda a oferta que a China dispõe.

Neste tipo de cenário de risco, é provável que o Fed não baixe as taxas e, em vez disso, lance uma nova rodada de flexibilização quantitativa. Também se deve notar que será difícil a nova emissão de títulos de tesouro pelo governo federal durante a maior parte de 2015.

Batalha perdida

A maioria dos economistas concordam que o yuan está cerca de 15 a 20 por cento supervalorizado, de modo que o PBOC, ao menos que queira acabar com as reservas, cedo ou tarde terá que deixar a moeda livre.

“É insustentável ao longo prazo; o yuan está sobrevalorizado em cerca de 15 por cento”, escreveu Sue Trinh do Royal Bank of Canada.

“Custa caro porque a intervenção frequente vai queimar reservas cambiais rapidamente e apertar a liquidez do mercado interno”, escreveu Zhou Hao do Commerzbank. Ele ressalta que a venda de ativos do balanço do PBOC, na verdade, reduz o balanço e influencia negativamente a liquidez interna.

Recentemente, a Rússia e, há mais tempo, a Inglaterra, tiveram experiências muito ruins ao defender suas moedas com a venda de reservas cambiais estrangeiras.

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O rublo russo começou a afundar em 2014 por causa de sanções econômicas e a queda do preço do petróleo. O Banco Central Russo gastou bilhões de dólares para conter a queda até que desistiu, ficando em torno de 100 bilhões mais pobre. O resultado final? O rublo russo agora comercializa abaixo do seu nível mais baixo da história, 1 dólar vale cerca de 71 rublos (início de setembro).

Em 1992, o Banco da Inglaterra tentou defender a libra contra a desvalorização, com a venda de 15 milhões de libras esterlinas em um único dia no valor das reservas internacionais, e acabou conseguindo ser expulso do Mecanismo de Taxas Europeia, um precursor do euro. Não precisa nem dizer que a libra desvalorizou no processo.

Foi várias vezes provado que o mercado é simplesmente muito maior do que os bancos centrais, mesmo no caso da China.
Jeffrey Snider da Alhambra Investment Partners disse: “A saída de fundos tem sido enorme. Não há garantia de que isso irá permanecer estável, e se as condições piorarem, tudo pode aumentar exponencialmente”.