China usa Coreia do Norte para propósitos diversos

21/01/2015 15:28 Atualizado: 21/01/2015 15:28

O regime chinês tem usado a Coreia do Norte como uma marionete, afirma um novo relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso (CRS) dos Estados Unidos.

“De fato, a China parecia ter mudado [sua abordagem], de pressionar a Coreia do Norte por meio de sua relação militar, para sustentar a segurança e a sobrevivência do regime da RPDC”, afirma o relatório de 5 de janeiro. O regime totalitário da Coreia do Norte refere-se a si mesmo como República Popular Democrática da Coreia (RPDC).

Mais da metade do novo relatório sobre a proliferação de armas de destruição em massa e mísseis da China é sobre as relações do regime chinês com a Coreia do Norte. O CRS é uma agência legislativa apartidária vinculada à Biblioteca do Congresso e trabalha exclusivamente para o Congresso dos Estados Unidos.

O Exército da Libertação Popular (ELP), que tem a função prioritária de proteger o Partido Comunista Chinês (PCC), chamou o regime norte-coreano de um “amortecedor”, segundo o relatório, que manteria as forças dos Estados Unidos e da República da Coreia (ROK, ou Coreia do Sul) “abaixo do paralelo 38”.

O paralelo 38 é um círculo de latitude a 38 graus norte do equador da Terra e que se tornou a fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte.

A declaração se encaixa em análises anteriores – e amplamente repetidas – de que o regime chinês está tentando impedir que o regime norte-coreano entre em colapso, tanto porque teme que um grande número de refugiados entre na China e, mais importante, que um colapso do regime norte-coreano resulte na reunificação da península coreana sob o controle de Seul.

“A perspectiva de um aliado militar dos EUA como vizinho direto da China e, possivelmente, de tropas norte-americanas em suas fronteiras, é profundamente alarmante para Pequim”, afirma um relatório de agosto de 2013 do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

Laços militares

Os militares da Coreia do Norte cooperam com as forças armadas do regime chinês em vários níveis. A revelação mais recente, da CNN, é que hackers do Departamento 121 dos militares da Coreia do Norte têm bases de operação em Shenyang, China.

Ainda mais sério, porém, são os programas do regime chinês para apoiar programas de armas nucleares da Coreia do Norte, fazendo um jogo duplo.

O regime chinês votou por expandir as sanções contra a Coreia do Norte em 2009 e novamente em 2013. No entanto, segundo o CRS, embora o regime chinês apoie as sanções publicamente, ele continua a violar as sanções com suas exportações.

“A abordagem da China não mostrou mudanças fundamentais em relação ao Paquistão, Irã e Coreia do Norte”, afirma o relatório.

Apesar das sanções, a Coreia do Norte continua a receber equipamentos para seus programas de armas nucleares – alguns desses provenientes da China, designados como de “uso-duplo” (isto é, que têm aplicações tanto civis como militares).

Antes dos testes de mísseis da Coreia do Norte em agosto de 1998 e julho de 2006, os militares chineses e norte-coreanos “tinham contato de alto nível”, segundo o CRS.

Nos últimos anos, as relações entre os militares do regime chinês e os da Coreia do Norte pareciam estar esfriando, mas, em 2009, o ministro da Defesa chinês Liang Guanglie visitou a Coreia do Norte por cinco dias e, segundo informações, relembrou que ele era um veterano da Guerra da Coreia, quando a amizade entre a República Popular da China (RPC) e a RPDC foi “selada com sangue”.

Mais recentemente, em novembro de 2011, o ex-líder norte-coreano Kim Jong-Il e seu filho e atual líder Kim Jong-Un se reuniram com o general chinês Li Jinai, um membro do Comitê Militar do Partido Comunista Chinês (PCC). “Logo após a visita do ELP”, observa o CRS, “a Coreia do Norte anunciou em 30 de novembro que fez progressos no enriquecimento de urânio.”

Um Estado instável

Enquanto o regime chinês usa a Coreia do Norte num nível político e militar, no entanto, parece haver muitos problemas com o regime norte-coreano no nível social.

Tem havido uma série de assassinatos de norte-coreanos que atravessam a fronteira de 880 quilômetros com a China – supostamente para roubar comida e dinheiro. Quatro cidadãos chineses foram mortos a tiros por um soldado norte-coreano na cidade chinesa de Nanping, província de Jilin.

Cerca de 20 moradores de Nanping foram supostamente mortos por norte-coreanos nos últimos anos, segundo a Bloomberg News, citando um funcionário governamental não identificado. O regime chinês está enviando forças civis para ajudar a proteger sua fronteira com a Coreia do Norte. O movimento pode não resolver o problema subjacente, mas pode ser ajudar o Norte a capturar fugitivos.

As patrulhas civis são semelhantes aos postos de guarda estabelecidos pelo regime chinês em 2003. De acordo com o CRS, isso começou em agosto de 2003, quando Wen Wei Po, um jornal de Hong Kong com ligações com o regime chinês, publicou um artigo questionando se o apoio da China à Coreia do Norte ainda servia os interesses do regime chinês. “A China tomou medidas que parecem pressionar a Coreia do Norte, incluindo o uso do ELP.”

Logo depois, em setembro de 2003, a China substituiu sua polícia paramilitar com soldados militares ao longo da fronteira norte-coreana e iniciou a construção de cercas. Mesmo assim, no entanto, tudo parecia ser parte do show.

Num relatório de 2004 ao Congresso, o Departamento de Defesa dos EUA disse que a China “evitou tomar medidas reais para pressionar a Coreia do Norte”. E afirmou que o movimento era “uma provável medida contra a incerteza” e que a China usaria isso mais para deter “o fluxo de refugiados ou responder a um colapso do regime norte-coreano”.

Parece que o regime chinês criou um monstro que não pode controlar totalmente, mas como diz o velho ditado chinês: “Aquele que monta um tigre tem medo de desmontá-lo.”

Um professor da Universidade de Pequim e um observador atento das políticas do regime chinês advertiu em fevereiro de 2010, segundo o CRS, “que Pequim não aceitaria uma implosão em Pyongyang ou assistiria passivamente que outros países ganhassem o controle político e militar na Coreia do Norte”.