Instituições norte-americanas, como o Conselho das Relações Exteriores (CRE), ainda estão fervorosas em lidar com o regime chinês, num esforço para que o Estado chinês invista nos EUA e traga empregos para essa economia assediada.
“O investimento chinês promoveria nova atividade econômica. […] Mais IED [Investimento Estrangeiro Direto] aumentaria as exportações dos EUA para a China, enquanto as empresas chinesas olham para suas operações nos EUA para exportar de volta para casa”, recomendou o CRE em seu Memorando de Inovação Política No. 13, datado de 9 de fevereiro.
Por outro lado, o governo norte-americano tem sido cauteloso em permitir que empresas chinesas invistam nos EUA, pois não há transparência na propriedade, e é muitas vezes difícil entender se a empresa é diretamente ou indiretamente propriedade de alguém que faz parte do regime chinês.
Os EUA são um país de mercado aberto, onde a entrada e saída de uma empresa do mercado não é nada especial ou algo para se preocupar. No entanto, o Estado chinês impõe obstáculos sem precedentes para entrar em seu mercado, como dar informações confidenciais da empresa, permitindo que seus tribunais contornem normas internacionais durante conflitos com investidores estrangeiros, e uma série de outras distorções de mercado que prejudicam os investidores estrangeiros.
O presidente Barack Obama teve problema com as táticas de mercado distorcidas do Estado chinês na conferência de imprensa da cúpula da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) em 13 de novembro de 2011, publicada no website da Casa Branca.
“Há uma série de coisas que eles fizeram que prejudica não apenas os Estados Unidos, mas todo um conjunto de seus parceiros comerciais […] é o bastante. […] Há uma preocupação em todo o espectro político que o campo de jogo não está nivelado agora”, disse Obama.
Não apenas os governos, mas também os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estão pressionando a China para “conceder reciprocidade no acesso ao mercado”, segundo um relatório de abril do Grupo Rhodium. Com sede em Paris, a OCDE é uma entidade que promove a cooperação entre os governos. A OCDE tem uma participação atual de 34 países, incluindo os Estados Unidos, Austrália, França e Alemanha.
Mais investimentos chineses aprovados do que negados
“Muitos executivos chineses acreditam que os Estados Unidos são pouco acolhedores ao investimento chinês, apesar de a grande maioria dos investimentos chineses nos Estados Unidos ter sido aprovada ou não ter requerido aprovação”, segundo o memorando do CRE.
Ao discutir investimentos nos Estados Unidos, as autoridades chinesas geralmente apontam investimentos fracassados, como a tentativa de investimento da China National Offshore Oil Corp. (CNOOC) na antiga Unocal Corp., e a compra de ações da 3Leaf Systems, uma empresa com sede na Califórnia, pela Huawei Technologies Inc., que os Estados Unidos ordenaram que fosse desfeita.
Oficiais chineses não entendem a delimitação feita nos Estados Unidos entre entidades governamentais e não-governamentais. A propriedade da Huawei não é transparente, embora a empresa afirme ser de propriedade dos funcionários. Há muitos boatos, com analistas sugerindo que a empresa tem laços estreitos com os militares chineses.
Em 2005, a empresa estatal chinesa CNOOC retirou sua oferta para comprar a Unocal, devido a um retrocesso político. “A CNOOC é uma empresa estrangeira; o governo chinês a controla; e ela tem a vantagem injusta do apoio financeiro do governo chinês”, segundo um estudo publicado pelo Instituto Peterson para Economia Internacional.
Investindo nos EUA
“O investimento direto chinês nos Estados Unidos caiu para 69 milhões de dólares no 4º trimestre de 2011, arrastando para baixo o valor total do ano para 4,5 bilhões de dólares. Esta é uma ligeira queda em relação ao ano passado, de 5,2 bilhões de dólares e significativamente menor do que os números para a Europa, onde o investimento chinês subiu para um novo recorde de quase 10 bilhões de dólares”, segundo um relatório de 2012 do Grupo Rhodium por Thilo Hanemann.
Durante o 4º trimestre de 2011, as empresas chinesas investiram em sete empresas, das quais cinco eram projetos Greenfield. Um projeto Greenfield não é a compra de outra entidade, mas quando uma empresa que inicia suas operações em outro país começa e constrói a empresa a partir do zero.
Embora o valor dos investimentos chineses fosse menor, o número de investimentos (sete) não se alterou em relação a trimestres anteriores.
Os números mais baixos de investimento durante o 4º trimestre de 2011 não anunciam uma desaceleração dos investimentos chineses nos Estados Unidos, pois 2012 já sinalizou o início de mais investimentos.
Em 3 de janeiro, a Devon Energy Corp., uma empresa de energia baseada em Oklahoma, anunciou que tinha negociado um acordo com a Sinopec International Petroleum Exploration & Production Corp (SIPC). A SIPC investiria 2,2 bilhões de dólares para uma parte dos cinco campos de petróleo e gás da Devon e pagará a Devon 900 milhões de dólares para fechar o negócio.
A SIPC também concordou em pagar um adicional de 1,6 bilhões de dólares em custos de perfuração futuros de 2012 a 2014. No entanto, não se sabe quantos trabalhos de perfuração isso gerará para os Estados Unidos. Além disso, a propriedade da Sinopec não pode ser verificada. A empresa diz em seu site que é um holding estatal e uma instituição de investimento autorizada pelo Estado, mas não está claro se é estatal ou não.
De acordo com um anúncio de 28 de março de Robert Bentley, o governador do Alabama, a China Golden Dragon Precise Copper Inc. (de propriedade desconhecida) escolheu Thomasville, no condado de Clarke, no Alabama, para a construção de uma empresa manufatureira de cobre de 100 milhões de dólares que trará 300 empregos para a cidade.
O Grupo Rhodium menciona “a venda potencial dos bens da empresa geradora de energia eólica AES (no valor de 1,65 bilhões de dólares) para a China State Grid”. A China State Grid é uma empresa estatal chinesa, enquanto a AES Corp. é baseada em Arlington, Virgínia
Dissecando o portfólio de investimentos da China
“A posição de investimento global da China continua a ser dominada por ativos de baixo rendimento: Apesar do objetivo de diversificar seu portfólio global, a posição de investimento internacional chinesa continua a ser dominada por reservas e outras classes de ativos de baixo rendimento, tais como instrumentos de dívida, empréstimos bancários e dinheiro. O investimento direto e o portfólio de investimento em ações continuam a ser uma pequena parte do portfólio global chinês”, segundo análise do Grupo Rhodium de 4 de maio.
Em 2011, o regime chinês aumentou seus ativos no exterior em 600 bilhões de dólares, totalizando 4,72 trilhões de dólares até o final desse ano. No entanto, parece que o Estado chinês colocou um freio em seus investimentos estrangeiros em 2011, dado que a taxa de crescimento foi de 15%, de longe a mais baixa desde 2004.
Além disso, o portfólio de investimento do regime chinês não aumentou na mesma taxa que em anos anteriores devido a um aumento na taxa de câmbio e mudanças no valor dos investimentos passados. Além disso, a diversificação ainda é um problema, com o regime chinês mais interessado em investir em reservas de moeda do que em qualquer tipo de produto tangível.
“Apesar dos esforços retóricos e reais para diversificar seu portfólio global, os ativos globais da China continuam dominados por reservas de holdings e ‘outro investimentos’, como comércio de crédito, financiamento bancário, e reservas de moeda”, segundo o Grupo Rhodium.
O superávit comercial da China deixará de crescer tão rápido como nos anos anteriores, devido a problemas econômicos globais. Em 2011, as reservas aumentaram para 3,26 trilhões de dólares, um aumento de 12%, ou 342 bilhões de dólares, o menor aumento desde 2004.
A diversificação das reservas chinesas distanciando-se do dólar norte-americano não é uma opção, devido aos problemas atuais com o euro, com os analistas cruzando os dedos para que o euro não desapareça.
“A SAFE [Administração Estatal de Divisas Estrangeiras, sob os auspícios do Banco Central chinês] tem geralmente favorecido uma maior diversificação dos holdings, mas a dura realidade é que o problema europeu e os riscos associados a outras moedas deixaram Pequim com muito menos alternativas para o dólar norte-americano do que gostaria”, afirmou o relatório do Grupo Rhodium.