O governo indiano busca aumentar a cooperação com o Vietnã, uma parceria que poderia reequilibrar o eixo do poder na Ásia, especialmente em relação à China.
Na semana passada, quando o primeiro-ministro vietnamita Nguyen Tan Dung estava em Nova Déli, o Vietnã concedeu a empresa indiana ONGC Videsh Ltd. os direitos de explorar petróleo em território offshore vietnamita.
A China respondeu moderadamente à notícia, dizendo que não vê problema na exploração de petróleo pela Índia, desde que não entre em regiões disputadas entre o Vietnã e a China. “Mas se essa cooperação prejudicar a soberania e os interesses da China, então nos opomos firmemente”, disse o porta-voz da chancelaria chinesa Hong Lei.
A China, o maior país da região, tem se assoberbado assertivamente sobre suas reivindicações territoriais.
“O mundo inteiro está ansioso em encontrar um equalizador estratégico para a China”, disse o dr. Kodur Venkatesh, um analista de assuntos estratégicos sediado em Bangalore. Ele diz que este é um momento oportuno para a parceria entre a Índia e o Vietnã, porque a pequena nação comunista vietnamita está à procura de outros parceiros de negócios além da China.
Da mesma forma, a Índia está interessada no Vietnã porque controla uma grande parte do Mar do Sul da China, onde os campos pesqueiros férteis, petróleo e gás natural o transformaram numa commodity valiosa.
“Os recursos do Mar do Sul da China estão principalmente inexplorados até agora e o Vietnã é um dos países centrais que é seu guardião natural, o protetor natural de uma quantidade substancial do Mar do Sul da China”, disse Jagannath P. Panda, coordenador de Leste Asiático do Instituto de Estudos e Análises de Defesa, em Nova Déli.
Geopolítica
Além de estar interessada no Vietnã por suas reservas de petróleo e gás natural, a Índia vê o Vietnã como um poderoso aliado militar vizinho da China.
“[A parceria com o Vietnã] será de grande vantagem para a Índia”, disse Venkatesh, acrescentando que isso ajudará a conter o poder da China tendo um grande país como a Índia apoiando o vizinho Vietnã. E a Índia percebe isso.
“Nossa cooperação de defesa com o Vietnã é uma das mais importantes”, disse o primeiro-ministro indiano Narendra Modi a jornalistas nesta terça-feira (11), acrescentando que isso será ampliado no futuro.
Na semana passada, a Índia prometeu fornecer quatro barcos de patrulha naval ao Vietnã, que é a primeira transferência militar para Hanói sob uma linha de crédito de US$ 100 milhões. A Índia também busca um acordo para fornecer ao Vietnã mísseis de cruzeiro BrahMos, uma forma potencial de conter os navios chineses de entrarem em águas vietnamitas.
Em maio, a China e o Vietnã se enfrentaram depois que uma plataforma de petróleo chinesa entrou em águas dentro das 200 milhas náuticas da Zona Econômica Exclusiva do Vietnã, perto das ilhas Paracel. A China tem o controle das ilhas Paracel desde a década de 1970 e afirma que a plataforma de petróleo estava dentro de suas águas.
O Vietnã enviou navios para expulsar a plataforma de petróleo, mas suas embarcações foram sobrepujadas pela descomunal frota da China que guardava a estrutura. A China eventualmente removeu a plataforma em julho citando o início da temporada de tufões e disse que planejaria seus próximos passos na região depois de analisar os dados de testes feitos no local.
Interesse mútuo
De acordo com Jagannath P. Panda, o Vietnã precisa do apoio de uma grande potência regional para equilibrar sua relação com a China, e a Índia quer assumir a liderança na governança e segurança marítima e na liberdade de navegação na região.
Panda diz que os líderes chineses estão preocupados com a manutenção de sua integridade territorial e, portanto, preocupados com a presença da Índia na região.
No domingo, houve relatos de um submarino nuclear chinês atracando num porto do Sri Lanka perto do extremo sul da Índia. No início de setembro, outro submarino nuclear avistado no local coincidiu com a visita do presidente indiano ao Vietnã.
Uma reportagem do Times of India especulou que este submarino nuclear poderia ser a resposta “olho-por-olho” da China à visita do primeiro-ministro vietnamita Nguyen Tan Dung à Índia.
Panda também diz que a China percebe a relação Índia-Vietnã como uma ameaça a sua Rota da Seda Marítima (RSM), uma iniciativa proposta pelo líder chinês Xi Jinping no ano passado para forjar parcerias econômicas com países da Ásia-Pacífico e do Oceano Índico.
Ele disse que a Índia e o Vietnã percebem a importância da RSM para a China.
“No que diz respeito à China, acho que nas duas últimas décadas a Índia tem seguido uma política pontual: envolver-se com a China economicamente, mas quando se trata de questões políticas e de segurança, particularmente questões sensíveis de política externa, [a Índia] lida com a China cautelosamente”, disse Panda.