China recorre ao carvão em lugar do petróleo, talvez insensatamente

13/09/2012 10:35 Atualizado: 13/09/2012 10:35
Mineiros de carvão chineses carregam carvão em caminhões na mina Changyuan em Sichuan, sudoeste da China, em 10 de dezembro de 2009. A China tem grandes quantidades de carvão, mas muito pouco petróleo. (AFP/AFP/Getty Images)

A China carece de petróleo e sua recente recessão econômica coloca pressão sobre oficiais famintos por projetos que aparentem aumentar o PIB. Esta parece ser a razão do regime chinês mudar de curso no início de 2012 e começar a investir pesadamente na transformação de carvão em combustível líquido.

Projetos de ‘carvão para líquido’ (CPL) são controversos ao redor do mundo. Eles envolvem altos riscos ambientais, criação de excessivas águas residuais e são também economicamente arriscados. Muitos países já proibiram projetos de CPL.

A China abortou a maioria dos projetos de CPL em 2008, devido ao uso excessivo de carvão na indústria química. A partir de 2006, isso já havia causado uma crise de água no oeste da China. “Não há nenhuma fonte infinita de recursos hídricos. Isso obrigatoriamente causará uma crise de abastecimento de água. Em troca, isso polui os recursos hídricos e o meio ambiente atmosférico”, disse o engenheiro sênior Fan Xiao de Sichuan à NTDTV.

A China tem grandes quantidades de carvão, mas é deficiente em petróleo. A alta do petróleo e a dependência de países estrangeiros faz o regime sentir a falta de petróleo do país de forma mais aguda.

No entanto, críticos dizem que há mais do que isso, pois a tendência do regime de investir e aprovar esses projetos de grande escala não é apenas baseada na demanda real, mas sim em benefícios de curto prazo, tais como receitas fiscais para as autoridades locais e um desejo de aumentar o valor do PIB.

“Este projeto apresenta vários problemas. Em primeiro lugar, é muito subsidiado pelo governo e usa tamanha quantidade de água e tecnologia imatura. Se for investido pesadamente, é muito provável que seja um enorme desperdício”, disse Xie Tian, professor-assistente de marketing da Universidade da Carolina do Sul–Aiken.

“Portanto, não pode realmente ser comercializado e provavelmente nunca cobrirá seu custo. Isso seria um enorme buraco financeiro. Em minha opinião, a crise econômica da China e a estagnação colocaram muita pressão sobre o regime. […] Uma vez que o projeto pareça favorável, eles correrão apressadamente para lançá-lo.”

Atualmente, um projeto de CPL de 2 milhões de toneladas aguarda aprovação e espera obter luz verde em breve. Além disso, há outros projetos de carvão-para-químicas aguardando aprovação, com um investimento total estimado de 700 bilhões de yuanes (110 bilhões de dólares), segundo o China Business Journal.

“Isso também apresenta riscos potenciais para a economia, já que a energia pode ser facilmente afetada pela flutuação do mercado. Por exemplo, o preço do carvão despencou no ano passado. Assim, em longo prazo, o custo financeiro pesado será escondido nesses projetos”, disse Fan Xiao.

Estes projetos estão localizados em partes menos povoadas da China, como a Mongólia Interior e Xinjiang.

O ativista ambiental Chen Yunfei vê os projetos avançarem sem a participação do público ou dos especialistas. “Isso é mais um projeto que não busca a opinião pública nem consulta os verdadeiros peritos. É outro projeto a ser dividido entre as autoridades locais e grupos de interesse”, disse Chen Yunfei.

O Greenpeace Internacional e o Instituto de Ciências Geográficas e Pesquisa de Recursos Naturais, da Academia Chinesa de Ciências, publicaram o relatório “Sede de Carvão: Uma crise de água exacerbada” em 14 de agosto.

Estima-se que no 12º Plano Quinquenal (2011-2015) oficial da China haverá “16 bases energéticas de carvão de larga escala, predominantemente em áreas do oeste do país”. O relatório estima que estes projetos tenham uma demanda de água nove vezes maior do que o suprimento de água diário de Pequim em 2012.