China quer comprar América Latina

11/01/2015 20:46 Atualizado: 11/01/2015 20:46

Quando se está lidando com a China, tudo é grande, especialmente os números. Agora, a China anunciou outro grande número, um programa de investimento de 250 bilhões de dólares na América do Sul.

O problema com os números é que, por um lado, eles escondem muitas coisas e, por outro lado, podem levar a conclusões que simplesmente não são verdadeiras após um exame minucioso.

Então, sim, US$ 250 bilhões é um número relativamente grande, mas esse investimento principalmente na forma de empréstimos e dinheiro para infraestrutura está distribuído ao longo de 10 anos. De repente, estamos falando de US$ 25 bilhões por ano para todo um continente com um PIB de US$ 5,7 trilhões em 2013, incluindo o Caribe.

Visto por outro ângulo, US$ 25 bilhões são apenas 0,6% do total de reservas de divisas da China, provavelmente nem sequer representa os juros que a China recebe por seu US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro americano. A China sabe que precisa diversificar essa enorme pilha e está aproveitando todas as oportunidades.

Por último, mas não menos importante, comparando esse valor com outros países, os Estados Unidos investem US$ 22,6 bilhões na América do Sul apenas em investimento estrangeiro direto (IED), o que não inclui empréstimos oficiais.

Estados fracassados

Não há dúvida que o setor oficial dos Estados socialistas fracassados da América do Sul precisa de dólares.

Após quebrarem suas economias com nacionalização e regulação excessiva das indústrias produtivas, países como Venezuela e Equador estão ansiosos por receber empréstimos de US$ 20 bilhões e US$ 7,5 bilhões, respectivamente. Empréstimos para comprar coisas da Europa, EUA e China.

Suas economias ineficientes se sustentavam com os altos preços da matéria-prima, que agora despencou – e por irônico que possa parecer isso ocorreu principalmente devido à desaceleração da demanda da China.

Assim, enquanto o investimento do setor privado dos EUA está recuando, o setor oficial da China está tomando seu lugar: ele quer ganhar influência e garantir recursos naturais baratos (principalmente petróleo) para quando sua economia começa a acelerar novamente.

Ao comprar os Estados socialistas da América do Sul (especialmente a Venezuela), a China está apostando contra o mercado, que diz que o país tem uma chance de 90% de calote – falhar em pagar os juros da dívida púbica – neste ano. A China está assumindo os riscos na América do Sul que o Ocidente está passando adiante, não muito diferente dos Estados satélites soviéticos durante a Guerra Fria.

Retorno

Bem, com cada investimento, você tem de considerar o retorno. Ninguém no seu perfeito juízo emprestaria dinheiro neste momento a estes países que estão à beira da falência e têm um histórico de desprezar e repelir investidores privados e públicos igualmente.

Talvez a China pense, porque é rica e poderosa, que os países não se atreverão a se engraçar. Isso pode fazer sentido, porque já existe um alto grau de dependência da América do Sul em relação à China, seja para dólares, importações, ou transferência de tecnologia.

No entanto, países pequenos não têm medo de lutar contra a China, que por outro lado tem um histórico de queimar dinheiro em investimentos de risco no exterior.

O American Enterprise Institute calculou que um montante de US$ 250 bilhões em investimentos e construção no estrangeiro pela China nos últimos 10 anos tem sido prejudicado ou impossibilitado por razões não relacionadas com o mercado, mas principalmente por causa de disputas legais. Isso é um quarto de todos os projetos de investimento e de construção chineses na última década – um número grande.