Autoridades comunistas chinesas parecem ter começado – por meio do vazamento bem-cronometrado para a mídia estatal – a preparar o terreno para seu caso público contra Zhou Yongkang, o ex-chefe do poderoso aparato de segurança do Partido Comunista Chinês.
A queda de Zhou foi especulada muito antes de ser reconhecida publicamente pelo Partido Comunista em 29 de julho, um dia antes do aniversário do Exército da Libertação Popular. As acusações formais contra ele são “violações graves da disciplina”, um eufemismo comum para corrupção, embora analistas políticos compartilhem um consenso de que essa acusação seja apenas uma ínfima fração dos crimes de Zhou.
Em particular, é raro que as autoridades do Partido Comunista Chinês (PCC) cacem membros aposentados do Comitê Permanente do Politburo, o pequeno círculo que detém a palavra final no poder político na China, o que indicaria que os deslizes políticos de Zhou devem ser realmente graves.
O primeiro deles é seu provável envolvimento, juntamente com outro membro desgraçado do Politburo, Bo Xilai, numa tentativa de golpe político contra Xi Jinping, o atual líder chinês que assumiu as rédeas do PCC no final de 2012.
Além disso, Zhou esteve na dianteira promovendo a perseguição ao Falun Gong por dez anos, cometendo crimes gravíssimos, segundo a ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG).
No entanto, nada disso aparecerá no julgamento oficial. Em vez disso, a mídia estatal está sugerindo a corrupção financeira que Zhou está envolvido e é esta colcha de retalhos de reivindicações que provavelmente formará a base de seu julgamento público.
A mídia oficial Times Weekly informou em 2 de setembro que as autoridades estavam no processo de verificar o valor preciso que Zhou teria desviado, “mas que os materiais necessários para um julgamento público estão sendo preparados”. O artigo continua dizendo que os números aproximados da corrupção de Zhou alcançariam centenas de bilhões de yuanes, ou dezenas de bilhões de dólares.
Um caso particular envolvendo a PetroChina, o antigo reduto de Zhou, foi citado: o desfalque em apenas um caso envolvia mais de 102 bilhões de yuanes (US$ 16,6 bilhões), disse o artigo. O valor é de 10% do lucro anual total de 113 empresas no nível central sob a Comissão de Supervisão e Administração dos Ativos Estatais (CSAAE) em 2013.
Uma fonte no governo, próxima da PetroChina e da Sinopec, disse ao Times Weekly que um número de funcionários de nível médio nas duas empresas estatais fugiu para o Canadá, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e outros lugares, antes que os investigadores anticorrupção pudessem chegar até eles. O capital desviado que eles levaram consigo estaria entre 20 e 40 bilhões de yuanes (US$ 3,25-6,5 bilhões), disse a fonte.
No início de março, a Reuters informou que as autoridades chinesas apreenderam US$ 14,5 bilhões em ativos de Zhou Yongkang e sua família de contas bancárias nacionais e no estrangeiro, bem como imóveis, citando vazamentos de duas fontes informadas sobre a investigação.
Devido às punições que informantes não autorizados podem sofrer na China, é muito provável que as autoridades de propaganda do PCC também estejam usando a mídia ocidental para espalhar dados de seu interesse e assim fazer o julgamento final contra Zhou mais credível.
As fontes disseram que as autoridades confiscaram cerca de 300 apartamentos e vilas no valor de 1,7 bilhão de yuanes, bem como antiguidades e pinturas no valor de 1 bilhão de yuanes e mais de 60 veículos. Em março também, no mesmo mês que o artigo da Reuters surgiu, uma lista das evidências apreendidas nas propriedades de Zhou e sua família vazou online.
Além de coleções de objetos de arte precisos, a polícia também apreendeu 27 armas de fogo e mais de 11 mil balas de diversos calibres, dizia a lista, que foi amplamente divulgada na mídia em língua chinesa dentro e fora da China, embora as autoridades não tenham feito qualquer comentário oficial.
Desde que a campanha anticorrupção começou na China, um grande número de funcionários associados a Zhou Yongkang tem um após o outro encontrado sua ruína política. Isto inclui 30 funcionários que ocupavam altas posições nas indústrias que Zhou chefiou e onde ele estabeleceu sua influência política. Na indústria do petróleo, pelo menos 10 funcionários de alto escalão foram derrubados – muitos outros no aparato de segurança pública, na comissão de ativos do Estado e na província de Sichuan também foram eliminados.