O regime chinês encomendou um estudo preliminar para a construção de uma polêmica conexão ferroviária internacional. A obra ligaria a região de Xinjiang, no Oeste da China, ao Porto Gwadar, no Sudoeste do Paquistão.
“Isso envolve mais do que economia. Isso tem mais relação com dominar a área e ajudar o Paquistão para fins estratégicos”, disse S. Chandrasekharan, diretor do Grupo de Análise do Sul da Ásia, em Nova Déli.
A questão é extremamente controversa do ponto de vista da Índia. O projeto passaria por Gilgit-Baltistan, um território disputado controlado pelo Paquistão, mas reivindicado pela Índia.
A ligação ferroviária faz parte de um corredor econômico de vários bilhões de dólares entre a China e o Paquistão, que também inclui o trabalho numa conexão rodoviária. O regime chinês também tem seus olhos nos dutos de gás natural Irã-Paquistão na região, o que reduzirá significativamente a distância para a China importar petróleo da Ásia Central.
“A China deveria ter evitado a construção de um corredor – e um corredor tão crucial, como eles dizem – através de um território disputado, porque isso também é de certa forma um ato ilegítimo, e os indianos expressaram preocupações sobre isso no passado”, disse o Dr. Ashok K. Behuria, chefe do Centro do Sul da Ásia, no Instituto de Estudos e Análises de Defesa, em Nova Déli.
Aliança estratégica da China com o Paquistão
Especialistas dizem que, além das perspectivas de comércio, o comissionamento deste estudo pela China poderia ser um movimento político.
“O regime chinês… eles são muito, muito espertos. Eles querem enviar um sinal aos indianos e americanos, que não recuarão em sua relação com o Paquistão, porque o Paquistão é um país estratégico na região e tem um imenso valor – para a estabilidade do Afeganistão, e inclusive para a estabilidade da Ásia Ocidental e do Oriente Médio”, disse Behuria.
Além das implicações geopolíticas, esta linha ferroviária também teria desafios práticos significativos para a China. A região proposta para o assentamento do trilho é extremamente propensa a terremotos, deslizamentos de terra e inundações. E também é assolada por movimentos insurgentes e violência sectária. “Será que eles têm estômago para enfrentar isso eventualmente”, perguntou Behurai.
Chandrasekharan enfatizou que o planejamento de uma ligação ferroviária através de território disputado traz à tona a atitude agressiva do regime chinês na política externa, especialmente no trato com a Índia. “Eles falam sobre uma ‘ascensão pacífica’. Isto não é a ‘ascensão pacífica’ da China. Parece mais a ascensão da agressividade”, disse ele.
O que a Índia pode fazer
O movimento chinês tem uma dimensão maior na relação Índia-China. Recentemente, o regime chinês divulgou um mapa que mostra parte do território da Índia – incluindo parte das áreas disputadas de Gilgit-Baltistan e Arunachal Pradesh – dentro das fronteiras da China. “Então, [a China] tem várias aspirações estratégicas aqui”, disse Bahuria.
Bahuria diz que o regime chinês está alertando a Índia, porque a Índia é mais inclinada aos Estados Unidos. “Por um lado eles querem ameaçar a Índia, que agindo assim nós (a China) estamos consolidando nossos objetivos estratégicos no Paquistão e no Afeganistão, e, se você se alinhar com os EUA e tentar se equiparar conosco, então cuidado. Não estamos longe de você. Estamos aqui. Estamos te observando”, disse ele.
De acordo com o Times of India, o governo indiano já manifestou à China suas preocupações específicas sobre a linha ferroviária. Mas essas preocupações parecem ter caído em ouvidos moucos. Behuria sugeriu que a Índia deve fazer mais do que apenas expressar preocupação; ela deve buscar estratégias de equilíbrio.
“O equilíbrio que eu vejo é Chabahar, desenvolver o Porto Chabahar e viabilizar o corredor para a Ásia Central através de Chabahar e do Afeganistão. Assim, [a Índia] pode ignorar o Paquistão e realizar seu comércio por meio do Porto Chabahar”, disse Behuria.
Chabahar é um porto no Sudeste do Irã, na fronteira com o Paquistão. Ele está localizado a cerca de 70 quilômetros de Gwadar, o porto que a China quer conectar sua ferrovia.