China ainda é ineficiente na utilização de energia renovável

23/03/2016 16:46 Atualizado: 23/03/2016 16:49

Analistas muitas vezes retratam a China como um país que “consegue fazer as coisas”, seja investimento em infraestrutura ou expansão de energias renováveis.  O que eles muitas vezes falham em fazer é analisar se as coisas realizadas serão realmente úteis.

Esta semana, a China anunciou que vai aumentar sua capacidade total de energia eólica em 22%, chegando a 139 gigawatts (GW). Eles estão seguindo o caminho certo em direção ao ambicioso objetivo de atingir 200 GW em 2020.

Em comparação, os Estados Unidos que têm 74 GW instalados, de acordo com relatório de 2015, e não há nenhum plano ambicioso para impulsioná-los aos 200.

Qual a principal diferença? Os Estados Unidos usa a maior parte da capacidade instalada, e a China não.

“Comparando com os Estados Unidos, que consistentemente tem uma vantagem em termos de utilização de suas turbinas eólicas, as usinas eólicas da China são de baixo desempenho”, escreveu Michael Davidson, da EnergyCollective.

Na superfície, há dois problemas principais que levam à construção dos aerogeradores, mas a não utilização dos mesmos.

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Falta de conexão

A primeira razão é que os aerogeradores não estão ligados à rede elétrica nacional chinesa. De acordo com as estimativas mais recentes de Michael Davidson, cerca de 20 por cento da capacidade eólica total não estava conectada à rede de energia em 2012, embora tenha ocorrido melhorias desde então.

A China também indicou que vai construir mais linhas de transição de alta potência para transportar a energia do nordeste do país, região rica em ventos mas com baixa população, para os centros populacionais na costa que consomem muita energia.

De acordo com a China Wind Power Review and Outlook, a capacidade instalada em três regiões no nordeste do país foi responsável por 50 por cento da capacidade total instalada a partir de 2014, porém essas regiões consomem apenas 10 por cento da eletricidade do país.

(TheEnergyCollective)
(TheEnergyCollective)

“A energia elétrica não pode ser consumida localmente e a transmissão é necessária para que a energia eólica seja enviada aos centros no leste”, afirma o relatório. Entretanto, algumas das fazendas provavelmente nunca enviarão.

Até que a energia eólica seja realmente transportada para as regiões onde for necessário, os aerogeradores não só ficarão inativos, mas também serão atingidos por areia todos os dias, porque as regiões do Nordeste não têm apenas muito vento, mas também muita areia.

Em 2010, o então vice-ministro do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, Miao Wei, disse que a China não deveria criar muitos parques eólicos pois o equipamento será inevitavelmente prejudicado pela areia, de acordo com o Beijing Times.

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Energia em excesso

O cenário é ainda pior. Mesmo que os parques eólicos estivessem conectados a uma rede, os operadores da rede não utilizaram nem 20 por cento da produção de energia eólica em 2011, porque, em vez disso, eles tiveram que usar energia a partir das usinas de carvão.

“Os operadores de rede tomam decisões um dia antes das termelétricas serem ligadas, por isso, se o vento é significativamente maior do que o previsto 24 horas antes, a diferença é restringida para manter a estabilidade da rede”, escreveu Davidson.

(TheEnergyCollective)
(TheEnergyCollective)

Este investimento desperdiçado é um resultado direto de um sistema de incentivos completamente deformado a nível de governo central e local, escreveu Mark DeWeaver em seu livro “Animal Spirits With Chinese Characteristics”.

“À medida que a administração central foca em capacidade ao invés de produção anual, os incentivos são criados para construção em locais com mais vento, independentemente da sua proximidade com a rede de transmissão existente ou a viabilidade econômica para instalação de novas linhas de energia”, ele escreve.

Os governos locais competem uns contra os outros em relação às metas de capacidade, e isso levou a investimentos e construções focando na capacidade, independentemente da viabilidade econômica. Até o ex-vice-ministro Miao Wei disse que os parques eólicos chineses são, na sua maioria, projetos com o único propósito de passar uma boa imagem em relação ao oficial local.