China e Índia dialogam, mas conflito de fronteira intensifica

19/09/2014 17:00 Atualizado: 19/09/2014 17:01

Segundo a imprensa indiana, mil soldados chineses penetraram mais de três quilômetros em território indiano na quarta-feira (17), poucas horas após o início da visita de três dias do líder chinês Xi Jinping à Índia.

Xi chegou à Índia na quarta-feira, no estado ocidental de Gujarat, a primeira visita à Índia de um líder chinês em oito anos. Ele foi recebido em estilo indiano tradicional, com música e apresentações de dança e um banquete na margem do rio Sabarmati, na cidade de Ahmedabad.

No entanto, as coisas se agravaram após a notícia de um conflito e impasse na fronteira. A Índia posicionou cerca de 1.500 soldados na região, gerando uma tensa troca de olhares, segundo a New Delhi Television (NDTV).

Na quinta-feira (18), o primeiro-ministro indiano Narendra Modi manteve conversações privadas com Xi Jinping em Nova Déli, discutindo a questão diretamente com Xi. Mais tarde, eles realizaram uma conferência de imprensa conjunta.

“Eu expressei preocupação sobre as incursões fronteiriças e a necessidade de resolvê-las”, disse Modi, segundo vários relatos da mídia. “A paz e a estabilidade na fronteira são necessárias. Precisamos resolver o problema de fronteia o quanto antes. Nossas políticas fronteiriças para confiança mútua têm ajudado, mas eu também sugeri que, para a paz e a estabilidade, precisamos esclarecer a LCR [Linha de Controle Real].”

Xi também disse que era uma questão de fronteiras pouco claras, e sublinhou a vontade de resolver o assunto o mais rápido possível em meios amigáveis.

Objetivo da China na Índia

Durante a reunião, os dois países assinaram vários acordos de promoção do comércio, intercâmbio cultural, uso pacífico do espaço aéreo e arranjos de ‘geminação de cidades’ entre Shanghai e Mumbai. Também foi assinado um acordo longamente esperado de US$ 20 bilhões para parques industriais, que serão distribuídos ao longo de cinco anos.

O dr. Subhash Kapila, um consultor de relações internacionais e assuntos estratégicos do Grupo de Análise do Sudeste Asiático, de Nova Déli, pensa que o investimento da China na Índia é um jabe no Japão. “A China ou o presidente chinês poderiam ter oferecido negócios econômicos à Índia anos antes… Por que agora? Porque a China quer passar a frente do Japão em termos econômicos. A China quer ganhar prioridade na parceria estratégica Japão-Índia”, disse ele.

Na primeira semana de setembro, Modi fez uma visita ao Japão e assinou uma série de acordos bilaterais, incluindo a promessa de um investimento japonês de US$ 35 bilhões na Índia nos próximos cinco anos. No entanto, outros analistas acreditam que a China quer melhorar seu relacionamento com outros países asiáticos, como a Índia, para fortalecer sua esfera de influência.

“Eu imagino que, quando Xi Jinping assumiu o cargo, um dos itens em sua agenda era ter um melhor relacionamento com os países asiáticos, exceto o Japão, com o qual eles têm um relacionamento nada bom; o outro principal país na Ásia é a Índia, então eu imagino que ele gostaria de reparar o relacionamento com a Índia”, disse Ashok K. Behuria, analista estratégico do Instituto de Estudos e Análises de Defesa, de Nova Déli.

De acordo com Behuria, a China não quer que a Índia e os EUA fortaleçam seu relacionamento, e esta seria uma razão para o aumento da participação da China na Índia. Kapila, por outro lado, disse que a situação entre a Índia e a China não é muito diferente da entre os Estados Unidos e a China.

“Além da economia, não podemos esperar nada da China. Não haverá mudanças estratégicas fundamentais”, disse Kapila. Behuria também expressou desconfiança no interesse da China em investir na Índia, enquanto ao mesmo tempo aumentam as tensões fronteiriças e a China reivindica parte do território controlado pela Índia.