China quer inclusão nos Direitos de Saque Especiais do FMI ainda este ano

21/05/2015 10:43 Atualizado: 21/05/2015 10:43

A China tem dado muitos passos para se integrar ao Fundo Monetário Internacional (FMI), liderado pelos EUA. Uma das peças fundamentais do quebra-cabeça será provavelmente encaixada no final deste ano: a inclusão da China na reserva monetária do fundo, e nos Direitos de Saque Especiais (DSE). No momento, estes Direitos de Saque Especiais referem-se ao dólar americano (47%), ao euro (34%), à libra esterlina (12%), e ao yen japonês (7%) .

Como de costume com o FMI, trata-se mais de uma questão de estatuto do que de valor prático. Existem somente 285 bilhões de dólares em DSE que circulam mundialmente. Adicionalmente, os DSE não são dinheiro real, mas meros direitos sobre um valor de dólares, euros, libras e yen, caso esses direitos alguma vez sejam exercidos.

“No que diz respeito à lei e à regulamentação, isso pode influenciar alguma coisa? Eu não sei, trata-se fundamentalmente de uma questão de prestígio”, disse Chris Powell, do Gold Anti-Trust Action Committee.

Contudo, para a China, isso significaria o reconhecimento internacional da sua moeda, e por consequência, da sua economia. O país pediu este ano para ser oficialmente incluído nos DSE, o que será formalmente revisto no final deste ano. O FMI deu a entender que a proposta será provavelmente aceita, e até os oficiais dos EUA admitiram em privado que os Estados Unidos não são contra.

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“Deverá aumentar a procura do yuan mundialmente como moeda de reserva. Sempre que se estabelece um novo uso para uma moeda, isso vai aumentar a demanda por essa moeda. Em certo sentido, é um patrocínio do FMI para que a entidades mantenham reservas em yuan”, afirma James Nolt, um membro sênior do World Policy Institute.

“No momento, os chineses pretendem estabelecer o yuan como uma moeda confiável, estável e global. Essa é uma das prioridades de topo da liderança chinesa”, afirma Ronald Stöferle, sócio diretor da empresa europeia de gestão de ativos Incrementum.

O que a inclusão no DSE não faz é dar aos chineses mais capital e direitos de voto no FMI. “Essas duas situações estão dentro do contexto da quota e reforma de governança do FMI”, disse o porta voz do FMI Dezhi Ma.

Ninguém sabe quando a próxima revisão ocorrerá. Neste momento, o FMI ainda está trabalhando na implementação de todas as reformas que foram decididas durante a última revisão em 2010, e tem postergado a nova revisão até o trabalho estar completo. A data limite é o dia 30 de junho.

Embora o FMI tenha gradualmente se oposto às criticas quanto à inclusão do yuan nos DSE, por exemplo, dizendo que a moeda já não está subvalorizada, outros aspectos não correram tão bem.

Por exemplo, o conselho de administração do FMI deveria se reunir em maio para discutir as aspirações da China, mas o encontro foi adiado.

Isto não significa que o processo irá ser travado, pois há outra revisão formal em outubro. Isso irá dar mais tempo à China para cumprir com outras reformas requeridas, e só no último momento terá de revelar informações sensíveis, como a quantidade de suas reservas de ouro.

As datas dos acordos a portas fechadas podem também incluir um aumento do poder de voto da China durante a próxima revisão de quotas.

“Teria que ser uma negociação. Tem que haver compensações. Isto será comparável à ascensão da China na Organização Mundial do Comércio”, disse Nolt . Segundo ele, os Estados Unidos irá apoiar a adesão, mas só se certos requisitos forem cumpridos. Adiar a reunião permitiria que ambas as partes tivessem mais tempo para chegar a um acordo.

“As companhias americanas de capital financeiro estão interessadas em obter maior acesso aos mercados de capitais chineses. Eu não penso que isso seria um grande sacrifício. Existe certamente um negócio a ser feito que todas as partes consideram benéfico”, disse Nolt.

Contudo, a conta de capital da China ainda está fechada, restringindo transferências para dentro e para fora do país. E o yuan está atrasado em relação ao uso de derivativos, assim como de títulos de rendimento fixos.

“Com o tempo, a China tem de se tornar um emissor de título regular. Eles não vão se tornar um grande emissor em logo no primeiro dia e nem vão deixar sua moeda flutuar em um único dia”, disse Peter Tchir, da Brean Capital.

Dado o vago critério apresentado pelo protocolo do FMI, em último caso, será uma questão da China e dos Estados Unidos negociarem. “Eu estou certo de que o yuan será incluído nos próximos DSE”, disse Stöferle. “Haverá uma decisão a tomar em setembro ou outubro”.