China ganha título de “pior aprisionador de jornalista” de 2014

02/01/2015 16:44 Atualizado: 02/01/2015 16:45

O regime chinês prendeu o maior número de jornalistas no mundo em 2014.

Em seu relatório anual, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) observa que o regime chinês deteve 44 jornalistas em prisões – o número mais alto observado no país segundo os registos do CPJ – conferindo-lhe o título de “pior aprisionador de jornalistas de 2014”.

Leia também:
• Mídia oficial chinesa promete ‘eliminar resolutamente’ as celebridades inconvenientes
• Partido Comunista ‘envia seus cumprimentos’ com ciberataques ao Epoch Times
• Por que o Partido Comunista Chinês continua atacando o Epoch Times

No total, 220 jornalistas estão atualmente em prisões em todo o mundo, atrás apenas do recorde de 232 em 2012. O CPJ acompanha este fenômeno desde 1990.

Jornalistas uigures e tibetanos constituem cerca de metade dos detidos. Entre os uigures presos estava o professor Ilham Tohti, um blogueiro franco e popular que foi condenado à prisão perpétua em setembro.

Sem justificativa para detenção injusta

Alguns dos incluídos na lista do CPJ estão na prisão há anos.

Yang Tongyan, mais conhecido pelo pseudônimo ‘Yang Tianshui’, foi sentenciado em 17 de maio de 2006 a 12 anos de prisão por “subverter a autoridade do Estado”. Ele contribuiu anteriormente com artigos para o Epoch Times.

O conhecido crítico do Partido Comunista Chinês (PCC) foi atingido com uma dura sentença porque supostamente foi “eleito” para ser o líder de um ficcional “governo democrático chinês de transição” que substituiria o PCC quando que este caísse. Pouco antes, Yang tinha escrito um artigo para o Epoch Times em apoio ao modelo político democrático.

Yang, que esteve preso por 10 anos por se opor ao massacre da Praça da Paz Celestial de 1989, afirma que não teve conhecimento prévio de que seu nome foi sugerido por uma “eleição” online que foi iniciada por chineses no estrangeiro.

Por causa do julgamento relâmpago e rápido veredito do tribunal (Yang foi detido em 23 de dezembro de 2005), Yang deduziu que recebeu um julgamento encenado e decidiu não recorrer porque tinha a consciência limpa em relação às acusações, que segundo ele foram fabricadas por um regime paranoico e eram completamente injustas.

De acordo com o grupo de liberdade de expressão PEN American Center, Yang está detido no Centro de Detenção do Distrito de Dantu, em Zhenjiang, província de Jiangsu, Leste da China. O PEN American Center premiou Yang com o Prêmio PEN/Barbara Goldsmith de Liberdade de Escrita em 2008.

Quando parentes visitaram Yang em setembro de 2013, eles o encontraram sofrendo de doenças crônicas e teria recebido péssimo tratamento.

Ilham Tohti, professor universitário, blogueiro e membro da minoria muçulmana uigur, pausa por um momento para observar a vista, numa sala de aula em Pequim, em 12 de junho de 2010 (Frederic J. Brown/AFP/Getty Images)
Ilham Tohti, professor universitário, blogueiro e membro da minoria muçulmana uigur, pausa por um momento para observar a vista, numa sala de aula em Pequim, em 12 de junho de 2010 (Frederic J. Brown/AFP/Getty Images)

Presos pela verdade

Pelo menos Yang recebeu algum tratamento. Em 2000, os fundadores do escritório de curta duração do Epoch Times na China foram detidos, torturados, interrogados, submetidos a trabalho forçado desumano por longas horas e presos por até 10 anos.

O Epoch Times foi iniciado como um jornal online em julho de 2000 por um grupo de imigrantes chineses que vivem em Atlanta, EUA. Zhang Yuhui, o chefe do escritório na China, e sua equipe faziam a cobertura das notícias do continente a partir de seu apartamento na cidade de Zhuhai, província de Guangdong.

“O website apresentava notícias sem censura para as pessoas, especialmente para os chineses, porque os chineses não têm acesso a notícias livres”, disse Huang Kui, um dos funcionários originais na China.

Huang foi um dos 10 jornalistas do Epoch Times presos quando a polícia bateu em suas portas em 16 de dezembro de 2000. Zhang Yuhui, Meng Jun e Shi Shaoping receberam pena de 10 anos de prisão. Huang Kui recebeu uma pena de 5 anos, possivelmente porque cobria notícias internacionais, enquanto os outros se focavam em assuntos da China, particularmente sobre a perseguição do regime chinês ao Falun Gong.

O Falun Gong é uma prática espiritual tradicional chinesa baseada nos princípios da verdade, compaixão e tolerância. A prática foi proibida pelo PCC em 1999, pouco depois de uma pesquisa estatal estimar que havia pelo menos 70 milhões de pessoas praticando o Falun Gong na China, mais do que os membros do PCC.

Huang foi finalmente enviado para um campo de trabalho, onde foi submetido a 16 horas de trabalho forçado diariamente, incluindo abrir pistaches com grandes alicates. “O [uso intenso do] alicate criou grandes bolhas em minhas mãos, muito dolorosas”, lembrou Huang.

Frequentemente, os guardas prisionais atacariam Huang com bastões elétricos. Porque Huang é um praticante do Falun Gong, ele também teve de passar por sessões intermináveis de lavagem cerebral, onde seus carcereiros tentaram, sem sucesso, forçá-lo a desistir da prática e de seus princípios pacíficos.

Huang foi finalmente libertado em 15 de dezembro de 2005, ganhou uma bolsa para a Universidade Estadual de Ohio, e agora é um engenheiro que vive em Illinois. O editor-chefe Zhang Yuhui, que estava na casa dos 30 anos quando foi encarcerado, foi libertado em dezembro de 2010.

De acordo com Huang, Zhang foi colocado no infame instrumento de tortura chamado “Tábua do Tigre” por sete dias e noites quando estava na prisão. A “Tábua do Tigre” obriga a pessoa a permanecer sentada com as pernas esticadas numa prancha lisa com cordas amarrando os joelhos à tábua. Objetos são então forçados sob os pés para forçar os joelhos inversamente, provocando dor extrema.

Repressão da mídia

Hoje, o regime chinês reprime a mídia da mesma forma ou até pior. No relatório anual de 2014, o CPJ também observou que o líder chinês Xi Jinping tem sido particularmente repressivo em relação à mídia em 2014.

Repórteres da mídia internacional – como o New York Times, Reuters e Bloomberg – tiveram seus vistos recusados. Em julho, a mídia estatal chinesa Xinhua anunciou novas regras de mídia que proíbem a disseminação de “segredos de Estado”, mas não definiu com clareza o que se enquadra nessa categoria.

Estas medidas representam uma continuação da “ampla repressão à liberdade de expressão desde que Xi Jinping assumiu o cargo” em 2012, disse o CPJ.