Regime chinês enviará artistas a zonas rurais para obterem ‘visão correta’

07/12/2014 18:08 Atualizado: 07/12/2014 18:08

O maior órgão regulador da indústria do cinema e da televisão da China informou que enviará artistas para áreas rurais e comunidades de base para que obtenham o “ponto de vista literário correto”.

A Administração Geral de Imprensa, Publicidade, Rádio, Cinema e Televisão do Estado definirá anualmente temas para cinco filmes e cinco séries de TV, e enviará diretores, roteiristas, atores e demais membros do elenco para conviverem com comunidades de base para terem uma experiência de vida, informou o relatório do órgão.

Paralelamente a isso, anualmente, 100 profissionais que produzem programas e reportagens para emissoras de TV do governo serão enviados para “antigas áreas revolucionárias de base, áreas de minorias étnicas e áreas de fronteira” para que entrevistem pessoas e obtenham matérias para seus programas.

Os artistas chineses terão que viver entre o povo rural por pelo menos 30 dias por ano. Os lugares de base, para onde artistas serão enviados, se referem a: áreas montanhosas, fazendas, escolas de comunidade, quartéis, oficinas, fábricas, minas e assim por diante, diz o relatório.

Por exemplo, as estações de televisão de Jiangsu e de Zhejiang enviarão seus funcionários a antigas áreas revolucionárias de base nas montanhas Taihang e Yimeng para que assim eles se inspirem e produzam uma série de animação sobre “pequenos heróis anti-japoneses” e outros temas relacionados ao “Sonho da China”.

Wu Baoan, porta-voz da Administração Geral de Imprensa, Publicidade, Rádio, Cinema e Televisão do Estado, disse à imprensa chinesa que o plano foi idealizado de acordo com as diretrizes extraídas de um discurso proferido pelo líder chinês Xi Jinping em 15 outubro. Wu disse que o plano é um esforço de longo prazo para fazer que profissionais da arte tenham um “ponto de vista literário e artístico correto” e “se autodisciplinem do ponto de vista da ação ideológica”.

Nesse discurso, Xi Jinping criticou a baixa qualidade e o mau-gosto das obras literárias e artísticas da China contemporânea. “A literatura não pode ser escrava do mercado e não deve suportar o mau cheiro do dinheiro”, disse Xi salientando que as obras literárias e de arte devem servir ao socialismo.

Muitos meios de comunicação e estudiosos associaram o discurso de Xi Jinping ao realizado por Mao Tsé-tung, o ex-líder fundador do PCC, no Encontro de Literatura e Arte de Yan’an em 1942, no qual ele enfatizou que o trabalho literário e artístico deve estar a serviço do poder político e da revolução. “Escritores e artistas revolucionários da China bem como escritores e artistas promissores devem conviver com as massas”, afirmou Mao.

O envio de pessoas formadoras de opinião, o que inclui artistas, para zonas rurais para aprenderem os valores socialistas foi algo fortemente implementado na China sob o comando de Mao, principalmente durante a Revolução Cultural na década de 1960 e 70. Na época, mais de 16 milhões de jovens chineses das cidades foram enviados para comunidades rurais.

Nessa época, Xi Jinping integrou o grupo chamado de “geração dos enviados” e passou sete anos, de 1969 a 1976, na rural província de Shaanxi. Xi publicou um relatório sobre sua experiência como um “enviado”, no qual afirmou que isso fortaleceu sua confiança e foi benéfico porque permitiu a ele conhecer a dura vida no campo.

A Administração Geral de Imprensa, Publicidade, Rádio, Cinema e Televisão do Estado também emitiu diretrizes proibindo o uso de trocadilhos e jogo de palavras em programas de rádio e TV. “As autoridades de rádio e televisão em todos os níveis devem reforçar o controle e impedir o uso irregular e impreciso da língua chinesa, especialmente o mau uso de expressões idiomáticas.” O uso indevido da língua chinesa é considerado prejudicial ao conteúdo ideológico e valor moral, diz o informe.