Inflação ameaça o país devido à emissão excessiva de moeda e a aplicação de políticas incorretas, segundo especialistas
O ano de 2010 foi um ano de aumento constante nos preços dos alimentos na China. Começando com os altos preços dos grãos, alho, gengibre, e agora também o óleo de cozinha, maçãs e carne de porco.
Especialistas acreditam que o aumento geral dos preços na China é o resultado da emissão excessiva de moeda pelos responsáveis pelo planejamento econômico. Durante os últimos dois anos, os bancos na China entregaram 17,3 bilhões de yuanes (c. 2,5 bilhões de dólares) para novos empréstimos. Uma quantidade tão grande de dinheiro deve ser absorvida pelo mercado.
Em 2009, os índices das ações dobraram, e absorveram uma grande quantidade do dinheiro. Além disto, no primeiro trimestre de 2010, o imenso mercado imobiliário também absorveu parte deste dinheiro.
No entanto, muitas áreas metropolitanas recentemente estabeleceram limites para a venda de casas e, portanto, esfriaram o mercado. Agora, o dinheiro novo é dirigido para os produtos agrícolas e outros bens, sendo a principal razão da subida dos preços.
“Tudo está subindo”
A frase mais popular que se ouve hoje entre os moradores de Pequim é “tudo está subindo”. No mercado Haidian, muito poucos legumes, verduras ou frutas custam menos de 2 yuanes (0,3 dólares) por jin (0,49 kg). Somente dois tipos ainda são mais baratos, tomates e pepinos.
A maior preocupação é o aumento do preço do arroz. “Aumentou 30% nos últimos dois meses. De pouco mais de 2 yuanes por jin, foi a 3 yuanes (0,45 dólares) por jin”, disse um morador de Pequim.
O mesmo vale para o óleo de cozinha, que aumentou 20%. Em 20 de outubro de 2010, o Centro Nacional de Grãos e o Centro de Comercialização de Óleo verteram no mercado 300 mil toneladas de óleo comestível do armazém estatal para tentar estabilizar o preço do óleo de cozinha, mas o efeito foi limitado.
O aumento dos preços de outros produtos agrícolas como feijão, mungo e alho, teve um efeito direto sobre as maçãs: o preço das maçãs produzidas nas províncias de Shanxi e Shandong subiu até 30%.
O açúcar não foi exceção, variou de 4.500 yuanes (675 dólares) por tonelada para o preço recorde de 6 mil yuanes (900 dólares) por tonelada em meados de outubro de 2010. Desde 25 de outubro, o açúcar custava mais de 7.400 yuanes (1.110 dólares) a tonelada em algumas áreas de produção, e o preço tem flutuado em 600 yuanes (90 dólares) num só dia.
Nestas circunstâncias, muitos começaram a estocar produtos de necessidade básica. A Sra. Sun, uma moradora de Pequim, disse que com base na experiência, uma pessoa nunca vai se equivocar se guardar provisões de algumas coisas como óleo de cozinha, farinha, doces, lanches, bebidas, toalhas, e até mesmo maquiagem. “Vou me abster de tudo que possa no futuro”, disse ela.
Algodão e Carvão
Não apenas os alimentos têm elevado os preços, mas também outros itens importantes, tais como o algodão e o carvão. Desde que entrou algodão novo no mercado no final de agosto de 2010, o preço aumentou quase 40%, indo de 18 mil yuanes (2.687 dólares) para mais de 25.300 yuanes (3.792 dólares) por tonelada, o que significa um aumento médio de 100 yuanes (15 dólares) por dia. Os preços futuros do algodão também alcançaram aumentos recordes, em novembro de 2010 já alcançavam 24 mil yuanes (3.597 dólares) por tonelada.
O aumento do preço do algodão na província de Xinjiang atraiu investimentos privados da província de Zhejiang e também provocou a retirada de pelo menos 10 bilhões de yuanes (1,5 bilhões de dólares) das minas de carvão de Shanxi e dos mercados imobiliários. Consequentemente, os preços dos derivados do algodão, como o algodão em pluma e em fios, estão em ascensão, o que afasta potenciais investidores nos itens relacionados. Atualmente, o algodão tem um preço alto, mas pouca demanda.
Enquanto isto, o preço do carvão também está aumentando diariamente. De acordo com o Western China City Daily, o preço do carvão na cidade de Baotou, na Mongólia Interior, aumentou de 900 yuanes (135 dólares) por tonelada antes de 1º de outubro para 1.300 yuanes (195 dólares) por tonelada, em novembro de 2010. O antracito na cidade de Yangquan, província de Shanxi, passou de apenas 1.000 yuanes (150 dólares) a 1.600 yuanes (240 dólares) por tonelada no mesmo período.
Como os preços de muitos produtos de consumo diário em Shenzhen ultrapassaram os dos seus vizinhos na cidade de Hong Kong, muitos residentes de Shenzhen viajam regularmente a Hong Kong para comprar alimentos, que vão desde leite para criança até papel higiênico, assim como produtos digitais.
Resultados da Inflação
Segundo a Secretaria Nacional de Estatísticas da China, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em setembro de 2010 foi de 3,6% superior ao mesmo período do ano anterior, e 0,6% maior que em agosto de 2010. Isto representa o maior aumento nos últimos 23 meses. O aumento do IPC em setembro foi impulsionado principalmente pelos preços dos alimentos.
Embora as autoridades chinesas tenham negado várias vezes a presença de inflação, o aumento repentino das taxas de juro pelo Banco Popular da China em 19 de outubro de 2010, geralmente, é considerado como uma resposta a uma inflação emergente. Numa declaração em 27 de outubro, o banco também admitiu a possibilidade de que os aumentos de preços continuassem no futuro.
O economista Frank Xie disse que a inflação é o resultado do desequilíbrio das estruturas econômicas e das políticas incorretas. “O Banco Popular da China emitiu moeda em excesso”, disse Xie, professor assistente na Escola de Administração de Empresas na Universidade Aiken da Carolina do Sul, EUA. Ele disse que “com uma economia impulsionada por exportações, a China tem cada vez mais reservas de divisas. Como resultado, o Banco Popular da China teve de emitir mais yuanes para uso doméstico, levando a uma inflação crescente.”
Xie acredita que o chinês médio seria prejudicado pela inflação grave, porque o preço das habitações já está muito além do alcance da maioria dos chineses. “Os aumentos de preços nos abastecimentos diários conduzirão inevitavelmente a conflitos sociais mais frequentes, criando mal-estar social”, acrescentou.