China e sua relação com a península coreana

03/03/2013 14:35 Atualizado: 03/03/2013 14:35
Coreia do Norte pode pensar que seus interesses serão melhor atendidos começando uma guerra
Esta imagem da Agência Central de Notícias Coreana de 14 de fevereiro de 2013 mostra uma celebração na Praça Kim Il-Sung pelo terceiro teste nuclear subterrâneo (KNS/AFP/Getty Images)

Há pelo menos 3.000 anos de história no relacionamento entre a China e a península coreana. Os primeiros registros históricos datam do momento quando o Imperador Wu da Dinastia Zhou estabeleceu senhorias feudais na região.

Ji Zi, o irmão do Rei Zhou (o último imperador da Dinastia Shang), foi nomeado senhor em Pyongyang e o nome do país se tornou ChaoXian (Coreia do Norte). Naquela época, a parte sul da península coreana tinha três divisões semelhantes, todas chamadas Han (Coreia do Sul). Agora, a região no sul da península é chamada País Han, como herdado pela tradição de seus ancestrais.

Várias centenas de anos após o Imperador Wu da Dinastia Zhou nomear senhores feudais, a Coreia do Norte do tempo de Ji Zi já não existia. A Dinastia Han fez dela um domínio chamado Prefeitura Xuan Fu, que significa prefeitura dos tigres negros.

O nome sugere que havia grande quantidade de tigres siberianos na região desde tempos antigos, o que produziu uma grande quantidade de peles de tigre. As pessoas desta região também eram muito intrépidas, produzindo pessoas que poderiam conquistar os tigres.

Outras centenas de anos mais tarde, o grupo étnico coreano mudou-se para a área e se tornou a maioria da população. Após os coreanos estabelecerem seu país, sua relação com a dinastia da Planície Central da China foi complicada.

Às vezes, eles estavam em guerra, às vezes, em paz. Em alguns momentos, eles foram súditos das dinastias chinesas e em outros momentos eles foram independentes. No entanto, sua cultura e relações comerciais com a China sempre foram estritas.

As roupas atuais dos festivais étnicos tanto da Coreia do Norte como do Sul são na verdade o estilo de roupa da Dinastia Song na China, preservado num estado muito completo, mas os leques chineses usados no verão realmente vieram da Coreia.

Na Dinastia Ming na China, uma Coreia sob os reis da família Li foi estabelecida. A relação entre este reino peninsular e a dinastia na Planície Central da China foi estabilizada e preservada por centenas de anos.

No entanto, a estrutura social na Coreia não copiou o que havia na China. Em vez disso, continuou-se uma sociedade feudal que era semelhante à que havia no Japão. A maioria da população era constituída de escravos e servos com uma capacidade de produção atrasada.

Sua economia, política e defesa dependiam da dinastia chinesa, que era semelhante à relação entre as colônias ocidentais e seus estados suseranos.

Um soldado norte-coreano faz guarda em frente a um foguete Unha-3 no centro espacial Tangachai-ri em 8 de abril de 2012 (Pedro Ugarte/AFP/Getty Images)

Coreia moderna

Esta situação continuou até a guerra sino-japonesa de 1894-1895. Depois, a sociedade, a economia e a cultura da Coreia progrediram rapidamente para desenvolver um país moderno. Após a 2ª Guerra Mundial, segundo o acordo entre os Estados Unidos e a União Soviética, a península foi dividida em duas partes.

O Norte tornou-se um país comunista, enquanto o Sul continuou aprendendo com o Ocidente. Eventualmente, o Sul foi capaz de se unir as fileiras dos países ocidentais e se modernizar. Este desenvolvimento separado foi semelhante aos rumos das regiões norte e sul da China.

No entanto, diferente dos tempos antigos, a Coreia atual não é uma cultura feudal atrasada em relação à planície central da China. O Japão, que se movia no sentido da modernização, foi capaz de injetar muito conteúdo na cultura coreana, incluindo ciência, tecnologia, literatura, música, etc., além do nacionalismo, que fora popular na Europa.

Os sul-coreanos abdicaram gradualmente a cultura confucionista que seguiram por centenas de anos e retomaram o espírito independente, por vezes arrogante, dos antigos coreanos.

Assim, os sul-coreanos não somente protestaram continuamente contra os norte-americanos que os protegem, mas os ditadores do Norte também nunca foram realmente gratos ao regime comunista chinês que os protege.

Agora e antes, esses ditadores tiveram péssimas ideias que causam dor de cabeça no regime chinês. Antes do colapso da União Soviética, Kim Il-Sung oscilou entre a China e a União Soviética, dependendo das recompensas concedidas por cada lado, e manteve o regime ditatorial e extremamente atrasado no Norte.

Na época de Kim Jong-Il, o filho de Kim Il-Sung, não havia União Soviética, assim, ele perdeu a oportunidade de jogar com os dois lados. Então, Kim Jong-Il simplesmente atuou erraticamente. Às vezes, a Coreia do Norte seria o capanga do regime comunista chinês, mas, de vez em quando, Kim Jong-Il exibiria mau comportamento pelos comunistas chineses como uma forma de mostrar sua independência diante do povo norte-coreano, para incentivar sua psicologia arrogante e assim manter sua autoridade.

No entanto, este truque barato de duplicidade é difícil de manter. Uma vez exposto, ele conduzirá ao colapso. Provavelmente, o terceiro jovem imperador dos Kim percebeu isso e se prepara para aprender algo de Deng Xiaoping ao tentar fazer alguma reforma econômica. Embora ele seja muito discreto e reservado sobre o assunto, é isto que mostra a tendência, sem um caminho para voltar atrás.

Pedindo doces

Após a dissolução da União Soviética, o regime comunista chinês tornou-se o único estado suserano para a Coreia do Norte. Ao contar com o atraso dos norte-coreanos, os comunistas chineses foram capazes de forçar os pequenos imperadores Kim a serem peões do regime chinês, ameaçando-os com sua própria sobrevivência.

Agora, os comunistas chineses ainda tentam controlar o comércio da Coreia do Norte de forma contínua, usando a Coreia do Norte como seu fantoche.

Nestas circunstâncias, surgiu o esquema da Coreia do Sul e dos Estados Unidos de usar o auxílio, principalmente alimentar, para substituir o controle dos comunistas chineses. Mas esse esquema com certeza não será bem sucedido, pois eles não entendem o Partido Comunista.

Os ditadores do Partido Comunista não são tolos. Eles sabem que tolerar o mau comportamento de seus próprios aliados comunistas não subverterá suas dinastias. Mas tolerar o controle de seus confederados por um sistema político hostil fará com que o sistema político ditatorial dos comunistas entre em colapso ou se deteriore rapidamente.

Manter o regime ditatorial do comunismo que unifica a Igreja e o Estado é sempre seu princípio básico. Sobre esta questão, Deng Xiaoping foi mais sincero. Os outros podem não falar, mas estão claros sobre isso. Esses comunistas não serão enganados facilmente.

Exatamente por causa deste princípio básico, os comunistas chineses mantêm sua ajuda econômica à dinastia do terceiro imperador Kim com total confiança. O terceiro imperador Kim Jong-Un se comporta exatamente como seu pai Kim Jong-Il – agora, como antes, ele faz algo que ultrapassa o limite, agindo como uma criança mimada e pedindo doces.

Kim Jong-Un jogou primeiramente com foguetes e em seguida com armas nucleares. Na superfície, ele parece fazer isso visando o Ocidente. Na realidade, ele encena essas ações pelos benefícios de Pequim, como uma forma de pedir mais doces.

Brincando com fogo

No entanto, as situações detalhadas das três partes têm várias complicações. Esta conduta de brincar com fogo com a finalidade de obter doces pode realmente causar um incêndio de grandes proporções por duas razões principais.

A primeira é devido ao conflito interno na Coreia do Norte. O regime da ditadura extrema é muito difícil de manter com mentiras hodiernamente, pois a informação se propaga mais facilmente. Mesmo o regime comunista chinês tem dificuldade de se manter apesar de fazer concessões à sociedade chinesa, sem mencionar que o regime cruel da dinastia Kim faz o povo norte-coreano cada vez menos tolerante com sua liderança.

Esta é a razão que motiva a rebelião interna e que se torna cada vez mais forte. Esta situação fará os governantes considerarem lançar o conflito interno para o exterior. Ou, para simplificar, usar a guerra para resolver o conflito interno.

A segunda razão é que essa psicologia fantoche da dinastia Kim está segura no conhecimento de ser forte devido ao apoio do regime chinês, sem a preocupação de ser contida. Quando for necessário, a dinastia fará o que quiser segundo sua mentalidade arrogante.

Afinal, ela tem ligações com os poderosos, por isso, tentará resolver os problemas pela guerra. Então, os mestres comunistas chineses serão arrastados despreparados para uma guerra por este lacaio arrogante, assim como em 1950, quando a China foi envolvida por seu avô numa guerra que foi extremamente desfavorável à China.

Esta nova guerra será extremamente desfavorável para a China, os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Ela será favorável apenas para o terceiro imperador da Dinastia Kim e talvez para a Rússia.

Nem os Estados Unidos, o Japão ou a Coreia do Sul tem a capacidade de controlar essa perspectiva, somente a China pode mudar esta situação. Isto é, retirando claramente sua atitude de proteção incondicional à Dinastia Kim, forçando-a a parar seu comportamento de risco e a iniciar reformas políticas e econômicas em seu sistema.

Se a China continuar o que fez durante os mandatos dos líderes Jiang Zemin e Hu Jintao, ou seja, oferecer doces quando o garoto mimado cria problemas, então brevemente a Coreia do Norte será um desastre para a China. A China deve domar este cão indisciplinado e colocar uma corrente em seu pescoço, para fazê-lo ao menos seguir os passos do mestre em vez de causar problemas caoticamente. Caso contrário, a China deve substituir o cão com um melhor.

Wei Jingsheng é um proeminente dissidente chinês e ganhador de muitos prêmios de direitos humanos incluindo: o ‘Prêmio de Direitos Humanos em Memória de Robert F. Kennedy’ em 1996, o Prêmio Sakharov do Parlamento Europeu pela Liberdade de Pensamento e o Prêmio Memorial Olof Palme.

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