Os Estados Unidos assumiram uma posição contra o arrebatamento de Pequim do espaço aéreo sobre o território disputado com o Japão e a Coreia do Sul, dizendo que não reconhecerão a Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA), nem a exigência de que os aviões que entrem na zona se identifiquem e seus planos de voo.
O secretário de Estado americano John Kerry disse que os EUA acreditavam na “liberdade de sobrevoo” e outros usos legais do ar e do espaço, essenciais para a estabilidade e a prosperidade na região. “Não apoiaremos os esforços de qualquer Estado para aplicar os procedimentos da ZIDA para identificação de aeronaves estrangeiras que não têm intenção de entrar no espaço aéreo nacional”, disse ele em comunicado. “Os EUA não aplicam os procedimentos da ZIDA para aeronaves estrangeiras que não pretendem entrar no espaço aéreo nacional dos EUA.”
O Ministério da Defesa chinês publicou informações sobre a ZIDA em seu website em 24 de novembro, incluindo mapas e regras. Todas as aeronaves são obrigadas a se identificar ao entrar na zona, o que inclui as ilhas Senkaku, controladas e administradas pelo Japão, e uma área controlada e administrada pela Coreia do Sul (ROK). O ministério chinês avisou que estaria preparado para tomar “medidas de defesa de emergência” contra aeronaves que não ajam em conformidade.
Kerry disse que os EUA estavam em discussão com o Japão e outros aliados na região e pediram uma abordagem “mais colaborativa e menos conflituosa”. “Exortamos a China que não use ameaças para tomar medidas contra aeronaves que não se identifiquem ou obedeçam as ordens de Pequim”, disse Kerry
Num comunicado separado, o Secretário de Defesa americano Chuck Hagel descreveu o movimento como “desestabilizador” e uma “tentativa de alterar o status quo na região”. Ele disse que os EUA não mudariam a forma como conduzem suas operações militares na região.
Para reforçar o ponto, dois aviões B-52 da Força Aérea dos EUA voaram para a zona recém-declarada em 26 de novembro, segundo a CNN. De acordo com um oficial dos EUA, que a CNN não revelou o nome, o voo durou cerca de uma hora e os pilotos não se identificaram como exigido pela China.
Bonnie Glaser, consultora-sênior para a Ásia do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), sediado em Washington, disse que já há atritos entre as forças de defesa chinesas e japonesas na região disputada. O movimento apenas aumentará a probabilidade de acidentes, disse ela. “Nas águas em torno das ilhas em disputa, os japoneses gritam por megafones aos navios chineses que estão nas águas japonesas e os chineses simplesmente os ignoram”, disse a Sra. Glaser num e-mail.
Se eles farão o mesmo no ar e se os pilotos chineses interceptarão de forma segura é uma preocupação. “Com os pilotos chineses e japoneses voam a Mach 1, a possibilidade de colisão é bastante elevada se a interceptação não for conduzida de forma segura”, escreveu ela.
Região rejeita a zona
O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe exortou Pequim a desfazer-se do novo zoneamento, descrevendo-o como “perigoso” e provavelmente “convida uma ocorrência inesperada”. “Exigimos a China que revogue quaisquer medidas que possam infringir a liberdade de voo no espaço aéreo internacional”, disse ele ao Parlamento japonês em 25 de novembro.
O Japão é um dos pelo menos 20 outros países que têm sua própria ZIDA, mas, ao contrário da China, o Japão solicita, e não exige, que companhias aéreas apresentem seus planos para entrar em suas zonas de defesa aérea.
Taiwan também reivindica a posse das ilhas em disputa, cujas águas ao redor dos recifes são ricas em recursos naturais. O Conselho de Segurança Nacional de Taiwan emitiu um comunicado dizendo que a República da China (Taiwan) continuará a “salvaguardar a sua soberania” sobre as ilhas. “Essa posição não será alterada pelo anúncio da ZIDA da China no Mar do Leste da China”, disse o conselho.
A Coreia do Sul expressou “pesar” sobre as ações da China e um porta-voz do ministério das Relações Exteriores sul-coreano disse que Seul havia dito a autoridades chinesas que está “bastante preocupada”, informou o Financial Times.
O território reivindicado por Pequim na nova zona se sobrepõe à própria ZIDA da Coreia do Sul e inclui o espaço aéreo sobre uma rocha submersa e uma área que os sul-coreanos chamam de Leodo. “Não achamos que seja justo, pensamos que a área é nosso espaço”, disse o porta-voz ao Financial Times.
O governo australiano convocou Ma Zhaoxu, o embaixador chinês recém-chegado, para expressar suas preocupações sobre o zoneamento. A Ministra das Relações Exteriores australiana Julie Bishop emitiu uma declaração descrevendo as ações de Pequim como “inútil à luz das atuais tensões regionais”. “A Austrália tornou clara a sua oposição a quaisquer medidas coercivas ou unilaterais para mudar o status quo no Mar do Leste da China”, disse ela.
As autoridades chinesas têm desconsiderado as preocupações. O coronel Yang Yujun, um porta-voz do Ministério da Defesa Nacional, descreveu a crítica dos EUA ao plano de Pequim como “completamente irracional” e “irresponsável”. Ele também descreveu a reação do Japão como “absolutamente infundada e inaceitável”.
Mas a Sra. Glaser acredita que a reação negativa dos EUA e de outros países pode ter surpreendido os chineses. “Acho que os chineses calcularam mal”, escreveu ela num e-mail. “Eles receberam respostas duras dos EUA, expressões de pesar da Coreia do Sul e de Taiwan e rejeição do Japão. Eu duvido que os chineses tenham antecipado todas essas reações e não serve os interesses chineses ter tensões com tantos vizinhos simultaneamente.”
A China também reivindicou a maior parte do Mar do Sul da China e está envolvida em disputas territoriais com vários outros países da região, incluindo o Vietnã e as Filipinas.