Devido à pressão coletiva da Organização Mundial do Comércio (OMC) e do retorno da concorrência estrangeira, o controle global da China sobre minerais de terras raras está vacilando. As autoridades chinesas agora procuram revidar e em 3 de janeiro aprovaram um plano para colocar toda a indústria da China de minerais nas mãos de seis empresas estatais.
O plano foi elaborado pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MITI) da China. “A aprovação do regime é apenas o começo”, informou o jornal estatal Xinhua. “O próximo passo é que os seis grupos têm de apresentar planos de reorganização detalhados ao MITI.”
As empresas privadas já estão sendo “consolidadas” em grandes empresas estatais. A Reuters relatou em 3 de janeiro que o Baotou Steel Rare Earth Group da Mongólia Interior, que responde por 51% dos minerais de terras raras da China, adquiriu uma participação de 51% em cada uma das nove empresas de mineração locais sem qualquer custo.
As autoridades chinesas afirmam que a maioria das empresas de menor porte opera sem licença. O Wall Street Journal cita estimativas de analistas anônimos que 80% dos mineiros, processadores e comerciantes de terras raras da China – essencialmente, toda a indústria – não são licenciados.
Resposta à pressão
O anúncio da China vem na esteira de um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA de 16 de dezembro, dizendo que o mundo se tornou menos dependente da China para os minerais. E observa que o preço dos minerais caiu 60% desde 2011, quando a China controlava quase 95% da oferta global. A China ainda controla cerca de 90% do mercado.
O relatório do governo dos EUA, entretanto, veio apenas alguns dias após a China anunciar que cortaria as exportações de minerais de terras raras e depois que tanto a OMC quanto a União Europeia (UE) apresentaram queixas contra a China pelo movimento.
O corte nas exportações anunciado pelas autoridades chinesas seria o primeiro desde 2011, quando a China cortou as exportações de minerais de terras raras e fez os preços subirem rapidamente. O movimento causou uma bolha no mercado e segundo a Rare Earth Investment News: “Essa bolha estourou em 2012 e o mercado de terras raras ainda tem de recuperar sua antiga glória… colocando assim uma rachadura na produção chinesa em que os preços são tão fortemente dependentes.”
O jornal estatal chinês Xinhua informou que os próprios mineiros da China têm reduzido a produção, pois “o aumento dos fornecedores no exterior reduz sua posição dominante no mercado global”. Analistas acreditam que o corte de produção imposto pelo Estado é um movimento das autoridades chinesas para recriar o preço inflacionário de 2011.
Oferta limitada
O incidente de 2011 também começou uma onda de preocupação internacional sobre se a China seria uma fonte estável de minerais de terras raras. Os Estados Unidos e o Japão começaram a procurar outros mercados, a Rússia investiu US$ 1 bilhão numa mina de terras raras no campo de Tomtorsky, na região de Yakutia, e a Groelândia reabriu suas operações de mineração.
Perder uma fonte de minerais de terras raras significaria o fim para a maioria dos aparelhos eletrônicos modernos. Eles são usados em quase tudo, desde telefones celulares até computadores e painéis solares. Eles também são fundamentais para os militares dos EUA, que, segundo o relatório do Government Accountability Office, usam cerca de 5% dos minerais de terras raras nos Estados Unidos.
Um estudo de 2 de dezembro de Yale descobriu que não há substitutos para muitos dos minerais de terras raras. Pesquisadores de Yale avaliaram como todos os 62 dos metais raros e metaloides são usados em produtos de consumo, e concluíram que “nenhum metal tem um substituto ‘exemplar’ para todos os seus principais usos”.
Os pesquisadores levantaram várias questões, especialmente sobre quanto tempo a oferta mundial de minerais de terras raras pode atender à demanda por produtos eletrônicos.
“Todos gostamos de nossos aparelhos, todos gostamos de nossos smartphones. Mas em 20 ou 30 anos será que ainda teremos acesso a todos os elementos necessários para fornecer as funções específicas que tornam um smartphone tão bom?”, questionou a pesquisadora de Yale e coautora do estudo Barbara Reck, num comunicado de imprensa.
“Com base em nossos resultados, é improvável que apenas a substituição possa resolver possíveis restrições de fornecimento de qualquer dos metais na tabela periódica”, disse Reck.
Minerais de terras raras incluem 17 elementos da tabela periódica, que têm boa condutividade elétrica.
Impacto ambiental
Embora a China atualmente controle a maior parte do mercado global de minerais, eles não são particularmente raros. O problema é que eles devem ser separados de outros metais e, na China, tanto a mineração como o processamento têm sido altamente poluente. Isso teria deixado para trás metais pesados, materiais radioativos e outros contaminantes.
O governo chinês, por sua vez, admitiu o dano ambiental que a mineração tem causado no país. Ele afirmou num estudo de 20 de junho de 2012 que esta indústria tem “danificado severamente a vegetação de superfície, causado erosão do solo, poluição e acidificação, e reduzido ou eliminado a produção de culturas alimentares”.
O estudo afirma que os metais pesados da mineração têm danificado o solo e causado “grave poluição das águas superficiais, dos lençóis freáticos e da terra”. E acrescenta que, em algumas áreas, “a mineração excessiva de terras raras resultou em deslizamentos de terra, rios bloqueados, poluição ambiental emergencial e inclusive acidentes graves e desastres, causando grande prejuízo à segurança e à saúde das pessoas e do ambiente ecológico”.