Um novo programa piloto a ser lançado na China permitirá que empresas estrangeiras administrem hospitais em sete cidades e províncias, segundo uma nota emitida conjuntamente pela Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar e pelo Ministério do Comércio.
O plano foi concebido para elevar a saúde na China a um padrão internacional e dar aos chineses acesso às tecnologias médicas e tratamentos mais avançados, disse o anúncio.
Os locais iniciais do programa piloto serão: as cidades de Pequim, Tianjin e Shanghai; e as províncias de Jiangsu, Fujian, Guangdong e Hainan. Esses lugares estarão livres para aprovar o funcionamento de hospitais estrangeiros, mas apenas investidores da Grande China – ou seja, Hong Kong, Macau e Taiwan – serão autorizados a abrir hospitais que ofereçam tratamento segundo os princípios da Medicina Tradicional Chinesa.
As autoridades chinesas nos últimos anos têm permitido maior investimento estrangeiro no sistema de saúde, por exemplo, permitindo joint ventures com até 70% de investimento estrangeiro. Em setembro passado, o Conselho de Estado da China autorizou que hospitais de capital totalmente estrangeiro abrissem na Zona Piloto de Livre Comércio de Shanghai. O Artemend Group, um grupo alemão que administra hospitais, assinou seu primeiro contrato na Zona de Comércio em 22 de julho, tornando-se o primeiro hospital estrangeiro na China.
O investimento hospitalar estrangeiro coincide com o crescente aumento dos custos de despesas de saúde na China, cuja população envelhece rapidamente devido às políticas de planejamento familiar e do filho único. Os gastos de saúde no país subiram 13% no ano passado, atingindo 820 bilhões de yuanes (US$ 133 bilhões), segundo a empresa de consultoria McKinsey & Co. O número deve chegar a 1 trilhão de yuanes (US$ 163 bilhões) até 2020.
Atrair hospitais estrangeiros também pode ajudar a aliviar as tensões extraordinárias entre pacientes e médicos na China, que por vezes se manifestam em explosões de violência, esfaqueamentos e inclusive atentados à bomba contra hospitais ou médicos.
Em 27 de agosto, mais de 200 médicos indignados realizaram uma greve no Hospital do Condado de Yulong, na província de Yunnan, protestando contra a família de um paciente que começou a espancar os médicos. A família reagia ao fato de que a doença do parente começou a piorar após ele ser admitido, um desenvolvimento que a família culpou a equipe médica.
A corrupção nos estabelecimentos médicos da China é conhecida como endêmica e é motivo de graves conflitos sociais. Sem subornar apropriadamente os médicos e pessoal de enfermagem, geralmente com “envelopes vermelhos” recheados com dinheiro ou presentes caros, um paciente pode facilmente ser ignorado ou tratado inadequadamente.
Esta cultura de corrupção gera profunda desconfiança na população. Em junho, um médico e uma enfermeira grávida foram agredidos por familiares de um paciente com câncer de pulmão que morreu sob custódia desses funcionários. No mesmo mês, uma enfermeira foi espancada até a inconsciência por um dos pais, porque ela realizou uma infusão intravenosa na cabeça da criança em vez de usar o braço.
A Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar divulgou dados em 2010 afirmando que 17.243 confrontos ou “incidentes” ocorreram entre pacientes e profissionais de saúde naquele ano, um aumento de cerca de 7 mil casos em relação a 2005. O número de casos reportados na mídia só tem aumentado, mas nenhuma estatística nova foi publicada desde 2010.