O chefe da muito louvada Zona de Livre Comércio de Shanghai foi destituído do posto pouco antes do aniversário da iniciativa.
Observadores do projeto em geral concordam que muito pouco emergiu da Zona de Livre Comércio (ZLC) de Shanghai, que anteriormente recebeu grande destaque na imprensa estatal como uma iniciativa principal para as políticas de reforma econômica do regime. Um ano depois, parece que os obstáculos colocados por forças políticas locais têm impedido o progresso e frustrado a liderança chinesa.
A mídia estatal Xinhua anunciou que Dai Haibo, o chefe da ZLC de Shanghai, não mais ocupava o cargo em 15 de setembro. Dai Haibo, além de ser o vice-governador de Shanghai, também era vice-diretor do comitê da ZLC e secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) local, o posto de maior poder na região.
Reportagens da mídia chinesa disseram que a ex-esposa de Dai Haibo delatou-o às autoridades anticorrupção, que em seguida começaram a investigar a denúncia de sua acumulação de imóveis – algo que seu salário de funcionário público não permitiria.
A demissão também sugere a tentativa do Partido Comunista de revigorar os esforços na ZLC, que foi instalada no quintal da rede política mais indisposta às iniciativas do líder chinês Xi Jinping e seu primeiro-ministro Li Keqiang: a facção do ex-líder chinês Jiang Zemin.
Jiang Zemin foi secretário-geral do PCC e presidente da China entre 1989-2002, mas manteve influência desmedida por mais uma década. Por décadas, ele fez de Shanghai sua base de operações. Funcionários e familiares leais a ele ainda têm forte influência na cidade.
Dai Haibo tinha laços estreitos com Han Zheng, o chefe do PCC em Shanghai que tem sido aliado de longa data de Jiang Zemin.
A Duowei News, uma mídia estrangeira que às vezes parece falar pelo regime chinês, informou que, para lidar com Dai Haibo, as autoridades do PCC despacharam Wang Qishan, o chefe do Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID), para lidar pessoalmente com o problema em Shanghai.
O sr. Xu, um morador de Shanghai, capturou o sentimento nas ruas numa entrevista por telefone, dizendo: “É muito significativo que Wang Qishan tenha vindo pessoalmente aqui. Isso significa que há problemas que requerem atenção especial de Wang Qishan – a tamanho do ‘tigre’ deve ser grande. Isto está relacionado a Jiang Zemin e seus dois filhos.” [‘Tigre’ é um jargão político chinês que se refere a funcionários corruptos do alto escalão do regime.] Os dois filhos são Jiang Mianheng e Jiang Miankang; o primeiro ocupou cargos políticos de destaque, enquanto o outro tende a ficar longe dos holofotes.
A ZLC seria um espaço de teste para as reformas econômicas na China, dando melhores condições para investidores e importadores estrangeiros e removendo barreiras burocráticas para o estabelecimento de novas empresas, por exemplo. Antes de a ZLC ser estabelecida, foi sugerido que o acesso à internet sem censura seria permitido na zona (embora isso não tenha se concretizado).
No entanto, a reforma econômica na China frequentemente afeta interesses políticos arraigados. A mídia Peng Pai, financiada pelo Estado chinês, publicou uma reportagem em 10 de setembro anunciando que a Sun Rise Duty Free, controlada pela Boyu Capital, uma empresa de capital privado criada por Alvin Jiang, o neto de Jiang Zemin, abriria uma filial na ZLC de Shanghai. Esse artigo foi posteriormente censurado e excluído, o que sugere que ele carregava conotações políticas indesejáveis.
“A ZLC de Shanghai diz respeito à reforma econômica e não à politicagem”, disse Hua Po, um comentarista político independente sediado em Pequim. A ZLC foi conhecida desde o início como uma prioridade para o primeiro-ministro Li Keqiang, que fez uma série de aparições públicas e discursos de destaque sobre a importância da iniciativa.
Hua Po disse que a liderança central do Partido Comunista Chinês tem enviado sinais para “colocar pressão sobre eles e forçá-los a obedecer”. Hua Po acrescentou: “A liderança chinesa está dizendo: ‘Sabemos o que você está fazendo. Não nos force a derrubar seu filho e neto.’”