Chefe de transplante espanhol recomenda punir turismo de transplante

01/11/2013 10:11 Atualizado: 20/04/2014 21:07

Uma autoridade de transplante na Espanha disse que os países ao redor do mundo devem reforçar as medidas para dissuadir seus cidadãos de viajar ao exterior para receber transplantes de órgãos ilícitos, especialmente de países como a China, que extraem os órgãos de prisioneiros executados e, segundo pesquisadores, de prisioneiros de consciência.

O Dr. Rafael Matesanz, diretor da Organização Nacional de Transplantes da Espanha, explicou em entrevista ao Epoch Times que a lei espanhola é única em punir as pessoas que vão ao exterior para comprar um órgão sob circunstâncias questionáveis.

“Qualquer pessoa que vai ao estrangeiro e recebe um transplante que consideramos ilegal, esta ação também é ilegal quando ela volta para a Espanha”, disse o Dr. Matesanz. “Nós não queremos punir o paciente, mas realmente queremos evitar a possibilidade de que esse paciente viaje ao exterior, pague por um fígado e volte para a Espanha.”

Ele acrescentou que se os principais países desenvolverem essa legislação, o fenômeno do tráfico de órgãos seria em grande parte eliminado.

‘Como as drogas’

“O tráfico de órgãos é como as drogas. Há pessoas que vendem órgãos, porque há outros que compram. O principal problema não está na Ásia ou na América Latina. O principal problema está nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Japão – é nestes países que as pessoas estão procurando por órgãos e então vão ao estrangeiro.”

A agência governamental do Dr. Matesanz, a Organização Nacional de Transplantes, criticou publicamente pelo menos um indivíduo que foi à televisão incentivar os cidadãos espanhóis a irem à China por órgãos.

“O problema com alguns países desenvolvidos e ricos é que o turismo de transplante de seus cidadãos no exterior é algo como uma ‘válvula de escape’ para sua escassez de órgãos e muitos cirurgiões e políticos ‘compreendem’ as pessoas que vão ao exterior para comprar um órgão”, disse em Matesanz numa entrevista publicada no site dos ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’, um grupo de defesa da saúde baseado em Washington DC.

“Há um consenso geral entre os cirurgiões para ‘proteger’ seus pacientes”, disse o Dr. Matesanz numa entrevista com o Epoch Times. “Eu não acho que seja realmente uma coisa muito boa que, a fim de proteger o paciente, se esteja desprotegendo outro paciente ou pessoas que estão vendendo o fígado ou o rim.”

Reserva dos médicos

É difícil saber definitivamente se as organizações de transplante e grupos médicos de todo o mundo estão relutantes em aprovar essas políticas. A Sociedade de Transplantes, um organismo internacional, não respondeu imediatamente a questionamentos do Epoch Times sobre sua postura sobre o assunto.

A Sociedade de Transplantes da Austrália e da Nova Zelândia disse no início deste ano, em resposta a um e-mail, que: “É o ponto de vista da sociedade que a decisão de impor sanções contra pessoas que receberam órgãos humanos que foram obtidos sem consentimento é uma decisão para governos tomarem ao invés de organizações individuais.”

Um parlamentar do estado de Nova Gales do Sul na Austrália propôs recentemente uma lei que atuaria de forma similar à da Espanha, na tentativa de criminalizar a recepção de órgãos ilícitos.

O Dr. Torsten Trey, o diretor executivo dos ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’, sugeriu que a Sociedade de Transplantes da Austrália e da Nova Zelândia poderia ter sido mais assertiva na ética da questão. “Sim, as leis estão nas mãos dos governos, mas os governos pedem conselho aos representantes das profissões e por leis de transplante quando consultam os médicos.”

Pressão necessária

O Dr. Trey disse que não abordar essas práticas falharia em colocar o regime chinês sob pressão por sua prática generalizada de colheita de órgãos de prisioneiros executados e também de praticantes do Falun Gong, uma prática espiritual perseguida pelo regime comunista chinês desde 1999.

David Kilgour e David Matas, pesquisadores canadenses que prepararam um relatório sobre o tema, dizem que os órgãos de praticantes do Falun Gong, que são sacrificados na extração forçada de seus órgãos, constituíram a maior parte dos transplantes de órgãos na China desde 2001.

O Dr. Matesanz, em entrevista ao Epoch Times, disse que a questão da colheita de órgãos do Falun Gong foi “perfeitamente provada” e que está na hora de as autoridades chinesas tornarem transparente seu sistema de transplante de órgãos.

“Um dos padrões principais é saber a origem de cada órgão que é transplantado. É de um doador vivo? A fim de ganhar credibilidade a nível internacional, a China deve fornecer toda esta informação, que é agora uma prática comum para a maioria dos países da comunidade internacional.”