Ex-chefe da segurança pública chinesa teria sido preso

06/12/2013 12:22 Atualizado: 06/12/2013 12:22

Um jornal de Taiwan e um jornal de Hong Kong relataram independentemente que Zhou Yongkang, anteriormente um dos indivíduos mais poderosos do regime chinês, foi preso. Oficiais do regime não comentaram ou confirmaram os relatos, mas especialistas dizem que, se Zhou ainda não foi preso, é apenas uma questão de tempo.

Os artigos de 2 de dezembro do United Daily News de Taiwan e de 3 de dezembro do Sing Tao Daily de Hong Kong são apenas as alegações mais recentes que o Partido Comunista Chinês (PCC) teria reprimido Zhou Yongkang, que comandou o aparato de segurança nacional da China por cinco anos.

Em março de 2012, o Financial Times informou que Zhou Yongkang “já estava sob algum tipo de controle”. Em maio de 2012, fontes disseram ao Epoch Times que Zhou havia sido colocado sob investigação. Em setembro de 2013, o site de notícias Daily Beast informou que Zhou estava em prisão domiciliar. Em outubro de 2013, o Mingjing News de Hong Kong informou que Zhou estava sob nova investigação.

Shi Changshan, um analista da política chinesa baseado em Washington DC, disse: “Prender Zhou Yongkang é apenas uma questão de tempo. Isso envolve tantas questões complicadas para o PCC que qualquer movimento descuidado pode causar turbulência política.”

De acordo com Shi, o PCC quer que os relatos da prisão de Zhou circulem por alguns dias como forma de testar da opinião pública. A lenta liberação da notícia de prisão também serve para minimizar o potencial impacto quando a notícia for finalmente confirmada, segundo Shi.

O antigo poder de Zhou

Zhou Yongkang serviu entre 2007-2012 como chefe do Comitê de Assuntos Político-Legislativos (CAPL), o órgão do PCC que controlava quase todos os aspectos da aplicação da lei, incluindo a polícia civil e militar, os tribunais, os advogados, o Ministério Público, os campos de trabalho e as prisões.

Zhou tinha nas mãos um orçamento de mais de US$ 100 bilhões – mais do que o orçamento oficial de defesa – e a polícia militar reunia uma força de 1,1 milhão. Antes de assumir o CAPL, Zhou foi seu vice-diretor por cinco anos e também diretor simultaneamente do Ministério da Segurança.

Entre 2007-2012, Zhou foi membro do Comitê Permanente do Politburo, o grupo de nove que comanda o PCC.

Ocupando os cargos de chefe do CAPL e de membro do Comitê Permanente, Zhou formou um segundo centro de poder no PCC, quase independente do então secretário-geral Hu Jintao, e era uma ameaça a outros líderes do PCC.

Durante seus dez anos nas proximidades ou no topo do aparato de segurança da China, Zhou Yongkang usou a perseguição à disciplina espiritual do Falun Gong, que ele entusiasticamente reprimiu, para expandir seu orçamento, aumentar seu poder e remover eventuais restrições no sistema legal da China, segundo o comentarista Heng He do Epoch Times.

Antes de assumir posições de liderança no aparato de segurança, Zhou foi secretário do PCC na província de Sichuan, sudoeste da China, e formou uma rede de funcionários leais a ele lá.

No início de sua carreira, ele dirigiu a estatal Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC). Ele tem sido referido como o chefão da indústria do petróleo, por causa de seu sucesso em assegurar que seu pessoal comande este setor rico e politicamente estratégico.

Capturando um tigre

Num discurso em janeiro de 2013, o líder chinês Xi Jinping se referiu à forma como o PCC precisava ser ousado o suficiente na campanha anticorrupção que ele lançou para capturar “tigres”, que significa altos funcionários. Zhou, se foi preso, seria qualificado como um grande tigre.

Desde março de 2012, quando o aliado de Zhou Yongkang e ex- membro do Politburo, Bo Xilai, foi preso, as bases do poder de Zhou foram sendo sistematicamente desmanteladas.

De acordo com uma fonte bem colocada em Pequim; em março de 2013, um ex-oficial de alto escalão no CAPL apresentou um relatório à liderança do PCC que afirmava que 452 funcionários do CAPL haviam sido presos nos últimos três meses. Além disso, 12 ex-funcionários de alto escalão do CAPL teriam se suicidado.

Entre aqueles que foram presos recentemente estão: companheiros e ex-subordinados de Zhou na indústria do petróleo e na província de Sichuan; Wu Bing, responsável pela lavagem de dinheiro da família Zhou; e Zhou Bin, o filho de Zhou.

Protocolo

Segundo o artigo do Sing Tao de 3 de dezembro, um documento está sendo circulado entre altos funcionários do PCC detalhando as razões da prisão de Zhou Yongkang.

De acordo com Heng He, a prisão de uma figura tão importante do PCC como Zhou tem que passar por um determinado protocolo. “O anúncio oficial da prisão de Zhou não poderia ser feito antes de ele ser totalmente controlado”, disse Heng He. “Então, altos funcionários são informados, em seguida os funcionários medianos e por último o público.”

Há cuidados especiais necessários no caso de Zhou, porque como ex-chefe da segurança, ele conheceria muitos segredos dos membros do PCC. A atividade na internet chinesa também parecia preparar o público para possíveis revelações surpreendentes.

Em 2 de dezembro, o dia que o United Daily News relatou sobre a prisão de Zhou, as buscas na internet chinesa por “Zhou Yongkang” foram bloqueadas. Mais tarde, porém, uma mensagem começou a circular dizendo que, como Zhou fora chefe dos agentes secretos da China, informação sensível sobre outros líderes do PCC agora seria revelada.

Razões

Em primeiro lugar, a importância da detenção de Zhou envolve quebrar o que seria uma lei não escrita do PCC, segundo Heng He. Os membros do Comitê Permanente do Politburo teriam uma vida livre da cadeia e não podiam ser presos. Ao prender Zhou, a liderança do PCC está entrando em território desconhecido.

As acusações contra Zhou provavelmente não refletirão a importância de sua prisão, disse Heng He. O aliado de Zhou, Bo Xilai, foi acusado de suborno, corrupção e abuso de poder, ao invés de outros crimes muito mais graves. Zhou provavelmente será tratado de forma semelhante, embora Heng He sugira que ele também pode ser acusado de assassinar membros do PCC.

A verdadeira razão de a liderança derrubar Zhou, segundo Heng He, são os planos que ele e Bo Xilai fizeram para destituir o atual líder Xi Jinping logo depois que este assumisse o poder. A liderança não podia permitir que a tentativa de golpe de Estado ficasse impune.

De acordo com Heng He, os poderes extraordinários que Zhou possuiu na perseguição ao Falun Gong o fizeram pensar que o golpe poderia ser efetivado. O medo que Zhou tinha de poder ser responsabilizado pelas enormes violações dos direitos humanos cometidas na perseguição ao Falun Gong fizeram o golpe parecer necessário.