Chefe-executivo de Hong Kong estaria com os dias contados

13/07/2014 12:39 Atualizado: 13/07/2014 12:39

O povo de Hong Kong começou a falar não se Pequim removerá seu chefe-executivo do poder, mas quando.

Leung Chun-ying nunca foi popular na Região Administrativa Especial de Hong Kong. Logo depois de ele assumir o cargo em 2012, Leung tentou introduzir um currículo educacional da China continental nas escolas locais, o que foi repudiado pelos pais de Hong Kong que interpretaram o conteúdo como doutrinação comunista e lavagem cerebral. Após enormes protestos, Leung foi forçado a recuar sua proposta e engavetá-la.

Grupos com laços com Pequim e apoiados por Leung têm assediado praticantes do Falun Gong e ativistas da democracia. O governo de Hong Kong tem ignorado a perturbação da ordem pública e a violação dos direitos individuais quando é do seu interesse.

Impostos imobiliários altos têm irritado os empresários de Hong Kong e agentes imobiliários. A proposta recente de Leung de desenvolver os Novos Territórios do Nordeste enfureceu os moradores locais e reforçou a impressão de que ele é indiferente, desconectado da realidade e manobrado por grupos de interesses.

Mas o endosso de Leung em 10 de junho a uma diretriz política emitida pela Secretaria de Propaganda Exterior de Pequim provocou a ira fervorosa dos cidadãos de Hong Kong contra Leung.

Essa diretriz, ou livro branco, questionava o princípio de ‘um país, dois sistemas’ que tem garantido a Hong Kong um sistema político diferente do existente no continente. Desde a transferência para a República Popular da China em 1997, Hong Kong tem desfrutado de sua herança de estado de direito, um sistema judiciário independente e direitos de expressão, imprensa e reunião.

Protestos pela democracia

Um sinal da ira do povo foi o enorme comparecimento da população na marcha anual pela democracia em 1º de julho.

Em meio à chuva, uma multidão de 510 mil, segundo estimativas conservadoras dos organizadores, ou 1 milhão, segundo o website de notícias Boxun, marchou por várias horas pelo centro da cidade de Hong Kong carregando cartazes em favor do sufrágio universal e exigindo o fim do regime do Partido Comunista Chinês.

A marcha de 1º de julho ocorreu logo após um referendo informal que contou com a participação de 800 mil cidadãos de Hong Kong votando pelo sufrágio universal e, pouco antes, centenas de milhares também compareceram na vigília de 4 de junho no Parque Vitória em Hong Kong em memória às vítimas do massacre da Praça Paz Celestial de 1989.

Na agenda para o final desta temporada: o movimento ‘Ocupar Central com Amor e Paz’, uma campanha planejada de desobediência civil no distrito empresarial da cidade, apelará novamente pelo sufrágio universal. A aproximação do prazo para Pequim fornecer os parâmetros da reforma política em Hong Kong teria de qualquer caso incentivado à mobilização dos cidadãos locais que exigem a democracia.

A questão é se Pequim permitirá o sufrágio universal nas eleições de Hong Kong, incluindo a escolha do chefe-executivo, ou continuará com alguma versão do atual sistema de eleições indiretas. Esse sistema permite a Pequim controlar firmemente o governo de Hong Kong, enquanto corrói gradual e progressivamente os direitos e liberdades dos cidadãos de Hong Kong. Mas a efervescência popular, despertada pelas demandas por democracia, tornou-se mais intensa devido à atitude de Leung em relação ao povo de Hong Kong.

Liao Shiming, um comentarista sênior sobre política e economia da China e Hong Kong, disse recentemente que o governo de Leung foi responsável pela raiva exibida na marcha de 1º de julho. “Todos os protestos democráticos extremos são o resultado das pessoas não serem capazes de se comunicar com o governo de forma normal”, disse Liao.

Há sinais de que Pequim agora quer usar Leung como bode expiatório, desviando a atenção do povo de Hong Kong e tentando satisfazê-los com o espetáculo da demissão ou mesmo prisão do chefe-executivo.

Abrandando a raiva

Em 7 de julho, o website de notícias Post 852 citou uma fonte anônima no regime chinês dizendo que Pequim poderia desfazer-se de Leung para culpá-lo e responsabilizá-lo pelo descontentamento em Hong Kong, ou simplesmente prendê-lo para acalmar a ira do povo.

De acordo com o Post 852, os ricos de Hong Kong têm discutido acaloradamente sobre como o líder chinês Xi Jinping começou a observar atentamente o desempenho do Leung. Assim, Leung estaria tendo sua última chance. Se algo der errado com o desenvolvimento dos Novos Territórios do Nordeste, Leung estaria acabado e seria derrubado.

O Post 852 citou sua fonte no regime chinês a respeito dos planos para a substituição de Leung. Tsang Yok-sing, o presidente do Conselho Legislativo de Hong Kong (CoLegHK) se tornaria o chefe-executivo, enquanto John Tsang Chun-Wah se tornaria o secretário-chefe da administração e Antony Leung Kam-Chung seria o secretário financeiro.

Entrada de Tsang

Como uma sugestão dessas mudanças, em 8 de julho, Tsang Yok-sing, que sempre foi um forte aliado de Pequim, emergiu como um crítico público de Leung. Na reunião deste dia no CoLegHK, Leung culpou um bloco de 20 legisladores democratas por atrasar os negócios do conselho exibindo faixas e fazendo protestos, mas afirmou: “Não houve qualquer problema entre os poderes executivo e legislativo.”

Tsang respondeu que, apenas culpando alguns legisladores, o governo simplificou demais o problema de suas contas terem sido bloqueadas. “Mais de 20 legisladores se levantaram e deixaram a sessão quando funcionários de chefia tentaram defender o projeto de lei. Eu não acredito que ainda exista uma relação saudável entre o Executivo e o Legislativo. A Administração deve saber o calendário do Conselho Legislativo e que projetos são controversos e quais não são. Como colocar os projetos na ordem certa sempre foi uma decisão da Administração”, disse Tsang.

Mais críticas da esquerda

O Oriental Daily News (ODN) é conhecido em Hong Kong por ser um defensor fiel do regime comunista da China continental e de Leung Chun-ying. Em 7 de julho, o jornal expressou-se fortemente contra Leung. Sua manchete dizia que Leung “causou caos político e miséria para o povo de Hong Kong”, segundo uma pesquisa.

Em 8 de julho, o ODN voltou ao ataque com outro artigo de primeira página, novamente usando uma pesquisa. Esta, feita pela Universidade Chinesa de Hong Kong, dizia que os jovens de Hong Kong estavam irritados com Leung por ignorar a opinião pública.

Também em 8 de julho, o jornal publicou um editorial impiedoso. Este começava observando que tem havido recentemente ondas políticas sucessivas em Hong Kong e descreveu o governo de Leung como “um pato manco” que sofreu um “grave derrame” e ficou “paralisado”. O editorial afirmou que Leung seria “na melhor das hipóteses um zumbi”, mesmo que se esforçasse para terminar seu mandato.

Ainda recentemente, em 28 de março, o ODN informou numa reportagem de primeira página que recebeu “informações fidedignas”, dizendo que Pequim apoiava a reeleição de Leung e esperava que ele estabilizasse a situação política em Hong Kong.

Os problemas atuais de Leung são um reflexo da luta interna entre facções do Partido Comunista Chinês (PCC). Leung é conhecido por ser um aliado da facção do ex-líder chinês Jiang Zemin, e o livro branco que Leung apoiou foi proposto por outro assecla de Jiang, ou Liu Yunshan, um membro do Comitê Permanente do Politburo.

De acordo com fontes no PCC, a facção de Jiang planejava usar o livro branco para criar tumultos em Hong Kong e assim criar problemas para o líder chinês Xi Jinping. A resposta pacífica mas enorme do povo de Hong Kong derrotou esse plano e deixou Leung isolado e numa péssima posição.