Chefe do Estado Maior dos EUA discute sobre exército do futuro

01/07/2012 03:00 Atualizado: 01/07/2012 03:00

Soldados dos EUA e da Coreia do Sul participam de uma operação de desembarque conjunta na costa de Pohang, em 29 de março, na Coreia do Sul. (Chung Sung-Jun/Getty Images)Militares devem se ajustar às mudanças na guerra, diz o general Odierno

WASHINGTON – O futuro do Exército dos EUA terá um foco mais amplo do que o que ele tem agora, segundo o general Raymond T. Odierno, o Chefe do Estado Maior do Exército dos EUA.

O foco atual em contrainsurgência e contraterrorismo não desaparecerá nem será diminuído no futuro previsível, diz Odierno. Mas a natureza da guerra está mudando e por isso “temos de pensar em como mudaremos com ela”. Vários ajustes estão reservados, segundo o general. Na década seguinte, os militares dos EUA verão uma mudança nas prioridades do Oriente Médio para a Ásia. Também terão de aprender a fazer mais com menos, com o declínio dos orçamentos do Departamento de Defesa.

O Conselho das Relações Exteriores (CFR) entrevistou Odierno e publicou seu comentário, “O Exército dos EUA num momento de transição”. O artigo está na edição de maio/junho da Foreign Affairs, uma publicação influente sobre questões internacionais que publica desde 1922.

Odierno, de 57 anos, tornou-se Chefe do Estado Maior do Exército há nove meses. Ele comandou a 4ª Divisão de Infantaria durante a Operação Liberdade Iraquiana de abril de 2003 a março de 2004 e mais tarde foi comandante-geral das forças multinacionais e dos EUA no Iraque. Ele também atuou como assistente do presidente do ‘Conselho dos Chefes do Estado Maior’, quando foi o principal assessor-militar dos secretários de Estado Colin Powell e Condoleezza Rice.

Uma revisão completa da força total foi realizada recentemente, quando os chefes do conselho e comandantes combatentes simularam “cenários bem desenvolvidos” para encontrar a solução ideal para uma força menor. Odierno disse que a questão principal perguntada foi, “Nós temos as forças terrestres, aéreas e marítimas para antecipar a necessidade?”

Em janeiro de 2013, a Lei de Controle do Orçamento está definida para desencadear uma série de cortes, o chamado sequestro, que Odierno disse que não é a maneira correta de alocar recursos. Ele diz que cortar cada item 10 a 15% significa dobrar o já dolorido 487 bilhões de dólares de perda que o Departamento de Defesa terá de enfrentar nos próximos 10 anos. Ele adverte sobre a inadimplência em contratos de recursos e “caos dentro de nosso sistema” se os cortes automáticos tiverem efeito.

Odierno escreve que as reduções nas forças do Exército na ativa são dolorosas, mas necessárias, e podem ser feitas de forma responsável. “A força de hoje é qualitativamente diferente do Exército de uma década atrás […] Tem mais experiência de combate, mais integração com outros serviços militares e forças de operações especiais e é tecnologicamente mais avançada”, escreve ele.

Segundo o general, o Exército de hoje depende mais do que nunca da reserva da Guarda Nacional e do Exército. Embora as reservas tenham sido desenvolvidas no final da Guerra do Vietnã, elas raramente foram utilizadas. Durante a Guerra Fria, soldados da reserva foram depreciativamente chamados de “guerreiros de fim de semana”, por serem requisitados uma vez por mês para servir.

Soldados da reserva foram originalmente concebidos para servir somente no caso de uma terceira guerra mundial. Isso mudou na década de 1990, quando não havia soldados ativos suficientes para cobrir desdobramentos operacionais no Iraque, Haiti, Somália, Bósnia e Kosovo, segundo John Nagl e Travis Sharp, autores de “Uma força indispensável” do Centro da Nova Segurança Norte-Americana.

As reservas tiveram um bom desempenho no Senário do Oriente Médio e os oficiais acreditam que podem contar mais com elas. Além da Reserva do Exército e das unidades da Guarda Nacional do Exército, componentes da reserva equivalentes existem na Força Aérea, Marinha, Fuzileiros Navais e Guarda Costeira. Em setembro de 2010, um quinto das baixas militares no Iraque e no Afeganistão foram de reservas e unidades da guarda, segundo um relatório de 2010 do GAO.

O general Raymond T. Odierno, Chefe do Estado Maior do Exército dos EUA, acredita que o Exército dos EUA precisa se preparar para realizar diferentes objetivos bem. Ele falou no Conselho das Relações Exteriores em 20 de junho. (Gary Feuerberg/The Epoch Times)Foco na Ásia

Embora o foco tenha sido no Oriente Médio por um bom tempo, Odierno vê o papel crítico do Exército dos EUA como uma força equilibradora de exércitos hostis na Ásia, supostamente da China e da Coreia do Norte. “Os países do Pacífico são dominados politicamente por exércitos”, disse ele, enfatizando a importância de desenvolver relações com aqueles militares.

De acordo com Odierno, os oficiais militares seniores do Paquistão num momento foram educados nos Estados Unidos, mas isso mudou na década de 1990 quando os Estados Unidos romperam relações sobre questões nucleares. Desde então, quase nenhum dos oficiais do Paquistão foram para os Estados Unidos e as relações militares têm azedado.

O general escreve sobre o treinamento recente anunciado entre os Estados Unidos e a Austrália e parcerias do exército e exercícios com a Coreia do Sul, Japão e Tailândia, bem como missões de treinamento para as forças de operações especiais nas Filipinas.

O general Martin Dempsey, o presidente do Conselho dos Chefes do Estado Maior, disse em 19 de junho que o Departamento de Defesa planeja cortar a presença militar norte-americana na europeia pela metade, segundo Govexec.com. Odierno escreve que duas brigadas do exército estão para ser removidas da Europa.

Enquanto algumas localidades terão menos tropas, o Exército dos EUA continuará a ter uma presença forte no Oriente Médio, especialmente se outros recursos navais forem direcionados ao Pacífico, escreve ele.

O Novo Exército

O general Odierno disse que o Exército terá de reforçar sua relação com forças conjuntas de operações especiais vitais para missões de contraterrorismo. “A evolução desta parceria na última década tem sido extraordinária e os laços podem se tornar ainda mais fortes à medida que continuamos a desenvolver novos conceitos operacionais”, escreve ele.

Odierno falou em termos mais gerais sobre a transição que o Exército terá de fazer nos próximos anos. Ele falou da integração da guerra cibernética às unidades táticas e operacionais.

A natureza da guerra evoluiu de outras formas também, algo que o general se refere como “guerra híbrida”. O Exército opera cada vez mais em ambientes com “militares regulares e paramilitares irregulares ou adversários civis, com potencial para terrorismo, criminalidade e outras complicações […] Agora, qualquer atividade que um soldado desempenhe pode evoluir rapidamente para uma combinação de combate, governança e missões de apoio civil.”

O Exército do futuro terá de estar pronto para executar uma gama muito maior de missões. Além do combate, o soldado futuro pode estar envolvido em atividades como ajudar vítimas de enchentes e restabelecimento da ordem num Estado em colapso com grande atividade criminosa. Odierno vê que algumas unidades se especializarão em “combate de maior impacto”, enquanto outras dedicarão grande parte de seu treinamento ao alívio de desastres.