Chefe anticorrupção proíbe bolinhos e cartões em datas festivas

09/09/2014 13:17 Atualizado: 09/09/2014 13:17

Wang Qishan, o secretário da força-tarefa anticorrupção do Partido Comunista Chinês, desenvolveu a reputação de ser um oficial austero e seríssimo na repressão implacável contra casos grandes e pequenos de peculato, fraude e má-fé no funcionalismo do regime.

Os mais recentes acréscimos na lista de proibições são: cartões de festas e bolinhos da lua. Wang Qishan se manifestou contra a influência nefasta destas formas de corrupção no final de agosto numa grande reunião política interna, mas só recentemente observações detalhadas sobre o que ele disse se difundiram na mídia chinesa.

Wang teria “criticado duramente” o envio de bolinhos da lua e cartões festivos. “Isso está ficando cada vez mais fora de controle”, teria dito ele na reunião.

“Mais tarde, quando o Ano Novo se aproximar, começaremos a reprimir os cartões comemorativos… Eu abordei isso com o Comitê Permanente e aprovamos uma resolução a respeito. Todos apoiaram”, disse Wang, referindo-se ao Comitê Permanente do Politburo, o círculo de sete homens, do qual Wang faz parte, que efetivamente dirige a China.

Ao longo dos anos, cartões comemorativos e bolinhos da lua se tornaram ocasiões para funcionários do Partido Comunista se congraçarem e subornarem seus superiores. O humilde bolinho da lua, por exemplo, era originalmente um símbolo de reunião durante o Festival de Meados de Outono, uma festa tradicional da colheita no calendário chinês. Mas presentes cada vez mais elaborados com bolinhos da lua – confeitos arredondados recheados com feijão vermelho doce ou pasta de semente de lótus – passaram a acompanhar pacotes de dinheiro de funcionários que buscam a promoção ou favores de superiores.

As declarações de Wang foram amplamente reportadas pela mídia chinesa no exterior, como a Duowei News e o Phoenix Weekly, ambos afiliados ao regime chinês e publicadores regulares de comentários e notícias que apoiam e validam a propaganda oficial, embora tentem simular um ar independência. O atraso entre as observações de Wang – elas foram feitas em 25 de agosto na 7ª Sessão Plenária da 12ª Conferência Consultiva Política Popular, um órgão consultivo fajuto do regime – pode indicar que os artigos foram aprovados pelos mestres da propaganda em Pequim antes de serem publicados online.

Em outra parte do discurso, Wang disse que a campanha anticorrupção continuaria e se aprofundaria. Ele disse que há três passos para o sucesso do “trabalho anticorrupção”: funcionários que “não se atrevem, não são capazes e não querem” se envolver em corrupção. Wang acrescentou: “Posso dizer a todos com convicção que tivemos sucesso em fazer as pessoas ‘não se atreverem’” a se envolver em corrupção.

Dada a natureza profundamente arraigada da corrupção em todos os níveis do Partido Comunista e em outros nichos da sociedade chinesa, a tarefa de mudar a cultura política do Partido Comunista não é uma tarefa fácil.

Wang deu seu assentimento ao papel dos meios de comunicação e da mídia social online no avanço da campanha anticorrupção, monitorando funcionários corruptos e expondo a corrupção.

“No Comitê Central de Inspeção Disciplinar, estamos empenhados num ponto”, disse Wang. “Isso é: a exposição. Os governadores provinciais e secretários me dizem: Camarada Qishan, como quer que você lide com a gente está bom, apenas não nos exponha. Eu disse, mesmo que não lidemos com vocês, ainda precisamos expô-los.”

No entanto, observadores têm apontado consistentemente que o maior problema do Partido Comunista Chinês (PCC) quando se trata de corrupção é que o PCC não permite que qualquer órgão externo fiscalize, puna ou supervisione seus membros. O Partido Comunista controla a investigação de seus membros em segredo antes de entregar os infratores ao sistema judicial. Mas o PCC também controla os tribunais, os juízes, o Ministério Público, a polícia e a mídia. Maior adesão à disciplina do PCC pode ter um efeito temporário na redução da corrupção, mas mudanças fundamentais só podem ocorrer por meio de salvaguardas institucionais, como o estado de direito, um Judiciário independente, etc., conforme cientistas políticos têm defendido repetidamente.

Um exemplo da necessidade do regime de controlar firmemente o processo mesmo de eliminar a corrupção em suas fileiras é seu tratamento dos ativistas chineses que pedem a divulgação dos bens dos funcionários chineses. Na superfície isso seria um desenvolvimento que o regime favoreceria no combate à corrupção. No entanto, muitos dos ativistas que defenderam essas ideias reformistas foram encarcerados e silenciados.