Chefe da agência anticorrupção do regime chinês sugere novos alvos

29/08/2014 13:28 Atualizado: 29/08/2014 13:28

Wang Qishan, principal autoridade anticorrupção do Partido Comunista Chinês, abriu um parênteses em suas observações preparadas numa tediosa reunião política comunista recente, deixando escapar um comentário enigmático sobre o futuro da campanha anticorrupção que ele está supervisionando.

A ocasião era o 7º Encontro da 12ª Conferência Consultiva Política Popular (CCPP), uma espécie de órgão de consulta política que é usado para demonstrar o carácter supostamente inclusivo de regime autoritário do Partido Comunista Chinês (PCC). Wang Qishan proferiu o discurso familiar e clichê do PCC por cerca de 70 minutos, em seguida, ele respondeu a perguntas da Assembleia.

Num ponto, Wang Qishan foi perguntado se haveria um “tigre” maior na campanha anticorrupção, depois que o ex-chefe da segurança interna Zhou Yongkang foi eliminado. Zhou Yongkang supervisionou o sistema de segurança nacional do Partido Comunista Chinês entre 2007-2012, e foi anteriormente chefe do gabinete de segurança pública, dois cargos obtidos por meio da influência de Jiang Zemin, o líder supremo do PCC na década de 1990 e 2000.

Wang sorriu, mas absteve-se de responder. Ele foi então perguntado se a resposta seria a frase agora muito citada “Você sabe o que está acontecendo”, dita primeiramente em março por Lu Xinhua, o porta-voz da CCPP, para esquivar-se de uma pergunta a respeito de Zhou Yongkang. A frase chinesa “ni dongde” é agora essencialmente tomada como uma afirmação velada de uma pergunta. Wang sorriu e disse: “Você entenderá aos poucos.”

No mesmo dia em que Wang Qishan disse esta linha, Yan Zhaowei, um repórter sênior da mídia estatal Xinhua, publicou um artigo intitulado: “Que regras Wang Qishan quebrou ao agir em Shanxi?” A manchete fazia referência à limpeza de mais de 20 funcionários na província de Shanxi, uma área rica em carvão amplamente vista como mergulhada na corrupção.

A regra que Wang quebrou, segundo Yan, foi: “Quando um ato é amplamente aceito, mesmo que não seja permitido pela lei, a lei não punirá a pessoa que o comete.” Portanto, segundo o repórter Yan Zhaowei, Wang Qinshan teria violado os grupos de interesse, os “tigres”, os “grandes tigres” e as “teias de aranha”, que vieram a habitar e constituir os círculos políticos na China, abrindo o caminho para a reforma.

Outro possível significado da declaração de Wang, e a referência de Yan Zhaowei às “teias de aranha”, se relacionam ao ex-líder chinês Jiang Zemin. Jiang, que assumiu o poder em 1989 e só abriu mão de seu último cargo oficial em 2005, instalou muitos dos altos funcionários que o atual líder chinês Xi Jinping está gradualmente expurgando. Estes incluem Zhou Yongkang, que Jiang nomeou para supervisionar sua campanha pessoal de perseguição à prática espiritual do Falun Gong, e o general Xu Caihou, um dos militares mais poderosos da China. Uma tremenda expansão da corrupção burocrática na China ocorreu sob o governo de Jiang Zemin. Jiang tem sido chamado de “aranha semimorta” por internautas chineses e os rumores de que Xi Jinping lidaria diretamente com ele têm crescido nos últimos meses.