Cerco se aperta em torno do ex-chefe da segurança interna da China

24/02/2014 09:48 Atualizado: 24/02/2014 09:48

Uma série de novas prisões de altos funcionários do Partido Comunista Chinês, todos associados com Zhou Yongkang, indicam que a atual liderança do regime avança rapidamente em sua investigação sobre o ex-chefe da segurança. Os líderes chineses estão marcando publicamente cada fase de sua campanha sistemática para desmantelar a rede de apoio de Zhou antes de, presumivelmente, lidar com ele.

A detenção mais recente conhecida foi o de um oficial da segurança chamado Liang Ke, que era o diretor do Ministério da Segurança do Estado (MSS) no município de Pequim, uma das forças da polícia política secreta da China. O MSS é uma agência de inteligência que se concentra tanto em espionagem internacional como na supervisão e repressão do povo chinês que o Partido Comunista considera uma ameaça a seu poder.

A prisão de Liang Ke foi divulgada nos principais websites estatais e nacionais. Isso envia um sinal às fileiras do Partido Comunista Chinês (PCC) e sobre o status da investigação de Zhou Yongkang, porque questões relativas aos serviços de segurança geralmente são envoltas em segredo.

Liang disse ter transmitido informações para Zhou Yongkang obtidas por meio de sua rede de espionagem, interceptações telefônicas e acesso aos segredos da liderança. O New York Times diz que um assessor de política e um ex-oficial de segurança disseram que Liang era suspeito de ajudar Zhou “além dos meios e canais aprovados”.

Zhou Yongkang, de 71 anos, é um dos mais altos funcionários do Partido Comunista a ser envolvido numa investigação deste tipo desde que o PCC tomou o poder na China em 1949.

Antes da penetração da investigação nas forças de segurança, a liderança do Partido desmantelou as redes políticas de Zhou no setor petrolífero monopolizado pelo Estado e na província de Sichuan rica em energia.

Vice-governador provincial sob os holofotes

Na semana passada, as autoridades anunciaram que Ji Wenlin, o vice-governador da província de Hainan, uma ilha no Sul da China, foi posto sob investigação.

A notícia da prisão de Ji Wenlin foi amplamente seguida por observadores políticos por causa de sua proximidade com Zhou Yongkang. Por cerca de uma década, de 1998 a 2008, ele foi o assistente pessoal de Zhou e acompanhou-o numa variedade de papéis, inclusive na indústria do petróleo e no sistema de segurança.

Após Zhou assumir seu papel como chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), Ji Wenlin se tornou o vice-diretor do Escritório Central de Manutenção da Estabilidade, um papel que reportaria diretamente a Zhou, que supervisionava todo o amplo sistema de segurança.

Quando a notícia da prisão de Ji foi anunciada, reportagens na China continental foram invulgarmente explícitas sobre sua conexão com Zhou Yongkang. Normalmente, se um caso é altamente sensível politicamente, os censores do Partido Comunista esterilizam a internet de todas as referências desfavoráveis.

Assim, os observadores interpretaram isso como mais um sinal de que a maré tinha virado contra Zhou Yongkang, outrora um dos mais poderosos funcionários do PCC.

Zhou Yongkang foi o chefe do aparato de segurança do Partido Comunista até novembro de 2012, quando a nova liderança foi instalada. Desde então, as redes políticas que Zhou e seus aliados cuidadosamente construíram ao longo de mais de uma década foram desmanteladas uma a uma. Por um longo tempo agora, há rumores de que Zhou estaria no centro das investigações.

Nova liderança deixa sua marca

A destruição de Zhou Yongkang é um evento distintivo na política chinesa, demonstrando o peso da nova liderança e a velocidade com a qual tem dominado as alavancas do poder na China comunista. Zhou é entendido como sendo um dos principais alvos pelos atuais líderes por causa de seus laços estreitos com Bo Xilai, o ex-membro do Politburo que agora cumpre prisão perpétua, e por causa do poder que ele acumulou na chefia das forças de segurança.

Zhou foi instalado como chefe do aparato de segurança nacional pelo ex-líder chinês Jiang Zemin, que necessitou de um assecla de confiança para continuar a implementar a campanha contra o Falun Gong, uma prática espiritual que ele começou a perseguir em 1999.

Para Bo Xilai, Zhou Yongkang, Jiang Zemin e outros funcionários associados com eles, a repressão ao Falun Gong foi um empreendimento conjunto do qual eles poderiam se beneficiar pessoal e politicamente. A necessidade de garantir que os líderes comunistas posteriores não encerrassem a campanha ou permitissem a exposição dos abusos extremos associados com ela – execuções, tortura, detenções secretas, extração forçada de órgãos de pessoas vivas para o lucro… – teria impulsionado grande parte de sua atividade política, e, finalmente, o comportamento imprudente que resultou na queda de Bo Xilai em 2012.

Após a ascensão de Xi Jinping ao poder no final de 2012, o sistema de reeducação por meio dos campos de trabalho forçado, que funcionavam na China desde a década de 1950, foi desmantelado (embora muitas instalações ainda estejam operando com outros nomes); e Li Dongsheng, o chefe da Agência 610, uma força-tarefa da polícia secreta encarregada de erradicar o Falun Gong, foi preso e colocado sob investigação. Esses movimentos, no entanto, não são considerados por analistas políticos como uma tentativa de Xi Jinping de retratar o Falun Gong, mas um meio pragmático de lidar com seus adversários políticos.

Sobre o isolamento de Zhou Yongkang por meio do desmonte de sua rede, o ex-oficial Wu Wei foi citado pelo New York Times dizendo: “Isso equivale a arrancar os dentes de um tigre para que ele se transforme num gato doente.” O líder chinês Xi Jinping havia dito que sua campanha anticorrupção teria como alvo os “tigres” e “moscas”, referindo aos funcionários de alto e baixo escalão, respectivamente.

Estas manobras políticas também ocorreram pouco antes dos “dois encontros” esperados em Pequim em março. O legislativo-carimbo do Partido Comunista e seu órgão consultivo se reúnem na capital ritualmente todos os anos nesta época.

Hua Po, um analista político independente, disse à emissora NTDTV que “haverá lutas de vida e morte entre os dois lados nas duas reuniões. Para garantir que as reuniões corram bem, eles poderiam previamente expor e punir Zhou Yongkang.”