Uma nova análise dos hábitos de censura do Partido Comunista Chinês (PCC) aponta para uma estratégia sustentada pelo medo de perder o controle sobre as massas e não necessariamente o medo de ser criticado.
Na China, o propósito da censura da mídia social, independente do conteúdo, é imobilizar “a ação coletiva cortando os laços sociais”, segundo um novo estudo realizado por Gary King e seus colegas de Harvard, discutido no periódico ‘Revisão de Ciência Política Americana’.
Com cerca de 270 milhões de usuários, segundo dados oficiais, os microblogues (Weibo) são o serviço de comunicação social mais popular na China e se assemelhariam de forma grosseira ao Twitter. No entanto, os provedores têm de manter obrigatoriamente uma equipe interna de censura dirigida pelo PCC, que filtra palavras-chave sensíveis.
O Sina e o Tencent são as maiores plataformas de Weibo, com equipes que teriam mil censores. Armados com ferramentas de automação, esse bloco de monitores online pode extinguir vozes desarmônicas em poucos minutos, conforme outro estudo recente.
Rastreando 85 tópicos-chave em milhões de mensagens em cerca de 1.400 serviços de mídia social antes que desaparecessem, pesquisadores de Harvard descobriram que picos de censura tendem a pressagiar a ação das autoridades fora do mundo dos blogues.
“Ao contrário do que se pensava anteriormente, postagens com criticismo negativo ou mesmo sarcasmo contra o governo, seus líderes e suas políticas não são mais propensos de serem censurados”, escrevem King e os coautores Jennifer Pan e Margaret E. Roberts.
“A censura é orientada para tentar impedir atividades coletivas que estejam ocorrendo agora ou possam ocorrer no futuro – e, desta forma, isso expõe claramente a intenção do governo.”
A equipe descobriu que cerca de 13% de todas as mensagens de mídia social são censuradas e isso é bastante estável ao longo do tempo, mas há uma grande flutuação no volume de postagens e nas contramedidas de censura. Quando esses dados foram organizados em torno destes volumes explosivos e correlacionados com eventos do mundo real, um padrão distinto surgiu.
Um episódio de censura não-política foi um dos indicadores. Após a fusão nuclear em Fukishima, foi difundido o rumor de que o iodo protegeria contra a exposição à radiação, provocando uma corrida por sal na província de Zhejiang. A censura logo entrou em ação, embora o rumor fosse falso e não relacionado ao Partido Comunista. No entanto, isso desencadeou uma ação coletiva por pessoas de fora do oficialismo local.
Evidências sugerem fortemente que a censura extrema gira em torno da formação de grupos e que pode crescer com o aumento da ameaça percebida. Esta teoria corresponde a eventos de “corrida armamentista” que ocorreram em torno do aniversário de 4 de maio do protesto ambiental de Sichuan no fim de semana.
A partir de 29 de abril, após termos de busca como “4 de maio” e ” Petroquímica Pengzhou” serem bloqueados online, os moradores espalharam a notícia sobre uma manifestação de boca em boca ou usando mensagem de texto. As engrenagens da manutenção da estabilidade entraram em ação, fazendo uma campanha de panfletagem de porta em porta e com as autoridades locais tentando alterar o calendário, obrigando os potenciais manifestantes a irem ao trabalho e à escola no sábado.
King et al. concluíram que o criticismo virtual a respeito das autoridades locais e centrais pode constranger os oficiais, mas o Partido Comunista percebe que “mal aparência não ameaça sua permanência no poder, desde que eles consigam eliminar discussões associadas a eventos que tenham o potencial de ação coletiva – em que os aspectos de poder e controle, e não os de governo, influenciam os comportamentos das massas do povo chinês”.
“Com relação a este tipo de discurso, o povo chinês é individualmente livre, mas coletivamente prisioneiro.”
Esta estratégia de controle da informação permite que algumas faíscas se acendam, mas fogueiras são apagadas com força, antes que possam se unir e ameaçar o controle do PCC sobre a população.
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