Censura chinesa em análise

31/10/2013 08:45 Atualizado: 05/11/2013 14:15

Os oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) encarregados de controlar os meios de comunicação na China – e, mais importante, de influenciar ao longo dos últimos anos a mídia fora da China – têm um trabalho importante a realizar, exigido pela lógica interna do regime do PCC: Por um lado, eles devem mostrar que o PCC é o governante legítimo e bem-sucedido da China, por outro lado, eles têm de lidar com aqueles que dizem o contrário.

Como Sarah Cook, uma pesquisadora da Freedom House, coloca em seu recente relatório: “Para a narrativa do PCC ser convincente para o público dentro e fora da China, reportagens – especialmente as investigativas – sobre os aspectos mais sombrios do regime do PCC no próprio país e sobre suas atividades no estrangeiro devem ser suprimidas.”

De acordo com os dois novos relatórios publicados em 22 de outubro, os oficiais comunistas chineses encarregados da propaganda e censura desenvolveram nos últimos anos um conjunto rico e variado de práticas e táticas destinadas a afetar esses resultados.

No mesmo dia, a pesquisadora Anne Nelson publicou um relatório sobre a expansão internacional da China Central de Televisão (CCTV), a emissora estatal porta-voz do PCC. Ambos os relatórios foram patrocinados pelo Fundo Nacional para a Democracia, uma agência financiada pelos EUA que apoia a democracia em todo o mundo.

Ação direta

O relatório de Cook descasca metodicamente as camadas dos aparatos de censura do PCC, examinando cada um para ver como funcionam, quem são seus alvos e que efeito eles têm: há uma “ação direta” de diplomatas chineses, oficiais e pessoal de segurança, que simplesmente obstruem jornalistas e punem os meios de comunicação recalcitrantes; há incentivos e punições econômicas; há pressões diplomática, política e econômica indiretas, transmitidas por meio de anunciantes ou governos; e então simplesmente a ciberespionagem ou mesmo ataques físicos.

Houve, por exemplo, a ocasião em que o editor-chefe da mídia Bloomberg foi abordado por um alto diplomata chinês, que tentou bloquear uma história sobre as finanças da família do líder chinês Xi Jinping, no momento em que este se tornava secretário-geral do PCC. A história foi publicada, mas o site em inglês da Bloomberg foi bloqueado logo depois.

Isso não teve um impacto significativo nos negócios da Bloomberg, porque seus leitores em inglês na China são limitados. O New York Times, no entanto, foi atingido um pouco mais duro. Depois de publicar uma investigação que procurava mostrar como a família do ex-premiê chinês Wen Jiabao havia adquirido vasta riqueza, as autoridades chinesas fecharam seu site em língua chinesa, que tinha acabado de abrir. Suas ações caíram 20% subitamente, diz o relatório de Cook. Represálias deste tipo são entendidas como um aviso para outros que transgridam as preferências e interesses do PCC.

Jornalistas na China podem achar que o rosto da censura tem dentes um pouco mais afiados. Em fevereiro deste ano, bandidos que teriam sido enviados pelo governo local de uma aldeia próxima de Pequim interceptaram o veículo de uma equipe de cinema alemã e quebraram seu para-brisa com bastões de beisebol.

Em 2006, o ex-diretor técnico do Epoch Times também foi alvo da abordagem cinética: um grupo de homens foi a sua casa em Atlanta, EUA, o amarrou e bateu na cabeça com o cabo de uma arma. Não há evidência direta de que os homens estivessem associados com o PCC, mas o Sr. Yuan acredita ser o caso. “Dois dos meus armários foram arrombados. Dois dos meus computadores portáteis foram levados, mas os itens mais caros, como câmeras, foram ignorados.”

Influência sutil

Formas mais sutis de influência são quase onipresentes. A Eutelsat, uma empresa de satélite francesa, foi um dos “exemplos mais preocupantes” da influência perniciosa do PCC, disse Cook em 22 de outubro no fórum do Fundo Nacional para a Democracia em Washington DC.

Devido à pressão de Pequim, a Eutelsat deixou de transmitir o sinal da New Tang Dynasty Television (NTDTV), uma emissora detestada por Pequim por suas reportagens contundentes sobre os abusos dos direitos humanos e outras questões políticas sensíveis na China. Posteriormente, a Eutelsat pegou dois negócios lucrativos com entidades estatais chinesas.

Da mesma forma, a NASDAQ expulsou um jornalista da NTDTV de seu estúdio MarketSite em Manhattan, após ser pressionada politicamente por Pequim, segundo informes diplomáticos dos EUA destacados no relatório de Cook.

‘Sino-colonialismo’

Embora seja importante para Pequim que eles possam influenciar a opinião pública nos países ocidentais, a África também se tornou um destino chave para propaganda localizada, segundo Anne Nelson, que escreveu o relatório sobre a CCTV. As autoridades chinesas estão praticando o que ela chamou de “sino-colonialismo” na África.

Isso é diferente da mera propaganda, pois está integrado com outras formas de envolvimento entre o regime chinês e os países africanos: os chineses compram recursos, constroem infraestrutura portuária para enviá-los para fora e levam equipamentos chineses de comunicação para criar empresas de mídia, que preenchem com jornalistas africanos profissionais para fazê-los contar a história do regime chinês para o público local.

Os jornalistas são pagos duas vezes mais do que ganhariam normalmente. “O que eles estão fazendo é planejamento de longo prazo”, disse Nelson na terça-feira. “Não é ‘Como podemos transmitir uma mensagem para X milhões de pessoas?”, mas “Como podemos construir controle total?”