Substituídos com história da morte de cinco oficiais do regime
Censores bloquearam uma história aprofundada sobre as inundações em Pequim produzida pelo Semanário do Sul, um jornal chinês com sede em Guangzhou conhecido por artigos ousados.
O repórter Zhang Yuqun do Semanário do Sul blogou no Sina Weibo que sete de seus colegas viajaram mais de dois quilômetros para entrevistar familiares de 24 vítimas das enchentes de Pequim. De acordo com Zhang, eles fizeram uma história de oito páginas, mas os censores do governo a cortaram. Mais tarde, a postagem de blogue de Zhang foi removida.
Uma postagem de blogue do Semanário do Sul no Weibo disse, “Submergindo sob a água e preso por correntezas em turbilhão, ele usou as mãos e a cabeça para bater contra a janela do carro. No final, sua esposa utilizou um martelo inútil e assisti impotente seu marido se afogar. Ele é Ding Zhijian, uma das vítimas das enchentes de Pequim. Sua história é um dos relatos inéditos.”
Um funcionário do Semanário do Sul na sede em Guangzhou confirmou a censura à NTDTV, dizendo, “Correto! Porque eles modificaram a versão.”
Um editor do Semanário do Sul disse que os nomes das 24 vítimas foram marcados com cruzes vermelhas grandes e substituídos com os nomes de cinco oficiais que morreram em serviço, informou a Rádio France Internationale (RFI) em 26 de julho.
A RFI também informou que o ex-editor-chefe Gao Yu da revista Business Weekly disse, “As vidas perdidas naquela noite tempestuosa e o choro amargo de suas famílias foram golpeados, assim como a missão e a crença dos jornalistas e intelectuais chineses.”
Gong Xiaoyue, o editor-chefe executivo do ‘Xiaoxiang Morning Herald’ postou no Weibo, “Os figurões de Pequim e seus bajuladores do sul: Por que vocês são tão sem-vergonha? Por que somos incomodados pelas autoridades tão facilmente?”
A RFI informou que o Departamento Central de Propaganda do Partido Comunista Chinês (PCC) ordenou que os relatos críticos e comentários sobre a enchente de Pequim fossem reduzidos e se concentrassem em dar informações positivas.
O primeiro relatório das autoridades de Pequim disse que o número de mortos das inundações era de 37. Posteriormente, em 26 de julho, as autoridades elevaram o número oficial de mortes para 77. No entanto, moradores de Pequim afirmaram online que o número de mortos ultrapassa 1.000. Blogueiros enviaram vídeos e fotos como prova. Autoridades do regime continuaram apagando as mensagens online.
De acordo com a Rádio Som da Esperança (SOH), um repórter chamado Tan Weishan que trabalha para o Diário Metropolitano do Sul, um afiliado do Semanário do Sul, enviou um vídeo de uma entrevista conduzida por seus colegas ao Sina Weibo. No vídeo, um residente do distrito de Shidu, que sofreu graves danos devido à inundação, disse que estava de plantão no Reservatório Zijinguan na noite de 21 de julho e viu o reservatório liberar as águas da inundação. O vídeo foi rapidamente removido do Sina Weibo.
A reportagem da SOH comentou que o artigo de oito páginas do Semanário do Sul sobre a inundação foi censurado porque as autoridades querem encobrir o número de mortos, bem como a liberação de água do reservatório.
Chen Pokong, um comentarista sobre a China baseado nos EUA, disse à SOH que a inundação expôs práticas corruptas de construção em Pequim. Ele disse que as chuvas torrenciais paralisaram a cidade em 10 de julho de 2004, no entanto, oito anos depois, o sistema de esgoto subterrâneo de Pequim continua sem melhorias. As autoridades da cidade gastaram dezenas de bilhões de dólares na construção de projetos olímpicos, aeroportos e metrôs. Contudo, a corrupção tem atormentado muitos projetos de construção, em especial os subterrâneos, disse Chen.
Ele disse que as chuvas torrenciais mostraram que, apesar dos grandes investimentos em infraestrutura, a capital da China ainda está despreparada para o clima recente. Ele diz que Pequim tem muitos edifícios “tofu-estragado”, um termo de escárnio para projetos de construção que utilizam materiais precários, muitas vezes resultado da corrupção e que degradam facilmente durante desastres naturais.
“Toda a China moderna é feita de edifícios tofu-estragado”, disse Chen. “O arrogante regime dos novos-ricos também é como um edifício tofu-estragado”, acrescentou ele.