Os chineses lamentaram na quarta-feira a morte de um herói inesperado – o censor de mídia cujo arrependimento em seus momentos finais expôs algumas das maquinações nos bastidores do aparato comunista chinês.
Zeng Li, o ex-censor encarregado de vigiar a mídia Semanário do Sul de Guangzhou, morreu em 3 de abril, três dias antes de se aposentar e com 61 anos.
Ele deixou uma carta notável, escrita em 28 de março, que foi compartilhada milhares de vezes no Weibo, um popular serviço de microblogue chinês semelhante ao Twitter, um dia depois de seu falecimento.
“Olhando para trás nos últimos quatro anos, eu cometi erros”, escreveu ele. “Eu eliminei artigos que não deveria ter eliminado e apaguei conteúdo que não deveria ter apagado. Mas no final, eu acordei, preferindo não continuar essa missão política e contrariar minha consciência, não quero passar a história como um criminoso.”
“No incidente editorial de Ano Novo no Semanário do Sul, eu me levantei e falei com senso de justiça”, continuou ele. “Eu tenho a consciência tranquila, não me arrependo.”
Apesar de seu papel como “examinador de conteúdo”, Zeng Li se tornou conhecido após o protesto do jornal contra a censura em janeiro, quando funcionários entraram em greve após Tuo Zhen, o propagandista chefe de Guangdong, alterar a edição de Ano Novo de 2013 sem consultar os funcionários do jornal.
O editorial era uma saudação em apoio ao estado de direito e ao discurso “Sonho de constitucionalismo”, proferido pelo novo líder chinês Xi Jinping, mas foi substituído com um texto intitulado “Em busca de sonhos”, com características nitidamente pró-PCC (Partido Comunista Chinês).
O trabalho de Zeng Li era garantir que o conteúdo do jornal aderisse às normas da censura estabelecidas pelas autoridades provinciais e centrais. Após o incidente de janeiro, ele explicou numa postagem de blogue, intitulada “Quem revisou a saudação de Ano Novo no Semanário do Sul?”, que ele fora contratado para ajudar o jornal a evitar riscos políticos e não para “estrangular a liberdade de expressão”.
Ele observou que o ambiente político se tornou mais sensível no ano passado após a destituição de Bo Xilai, um político poderoso ex-membro do Politburo chinês, e devido à mudança de liderança no PCC em novembro. Desde a nomeação de Tuo Zhen em maio de 2012 como chefe provincial da propaganda, o jornal foi fortemente censurado e todos os seus editoriais tinham de ser aprovados, acrescentou Zeng Li.
Tuo Zhen é um capacho do ex-chefe nacional da propaganda Li Changchun, que por sua vez é um assecla do ex-líder chinês Jiang Zemin. Analistas acreditam que a facção de Jiang Zemin tem medo que Xi Jinping use a promoção da Constituição para enfraquecer o poder de Jiang Zemin e seus partidários.
Ex-colegas, escritores e outros internautas refletiram sobre a vida de Zeng Li em memoriais online. Chen Zhaohua, editor da mídia irmã Diário Metropolitano do Sul, compartilhou a carta de despedida de Zeng Li e acrescentou que sua manifestação de pesar refletia os valores que ele de fato representava.
O sociólogo e historiador Ma Yong da Academia Chinesa de Ciências Sociais comentou em seu Weibo, “Esta carta é certamente um documento importante na história chinesa.”
Em seu blogue, o escritor Li Chengpeng descreveu Zeng Li como “emaranhado”, mas disse que “a justiça sempre prevaleceu em seu coração”. “Quando isso aconteceu há algum tempo, ele se comportou muito bem. Agora que ele se foi, ele continuará a editar este país no céu.”
Oian Gang, outrora editor-chefe do Semanário, escreveu, “Ele mostrou a sincera força de caráter típica de um jornalista do Semanário do Sul e manteve-se fiel a isso até o fim”, acrescentando, “Todos têm uma escolha.”
—
Epoch Times publica em 35 países em 21 idiomas.
Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT
Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT