Em 28 e 29 de janeiro, reuniram-se em Havana 31 chefes de Estado e de Governo da América Latina, por ocasião da II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Poucas vezes, o pró-castrismo e o pró-chavismo da maior parte dos chefes de Estado latino-americanos ficou tão evidente, por ação ou omissão, desde as visitas enternecidas ao sanguinário ditador Fidel Castro, até a proscrição da palavra “liberdade” na extensa declaração final, passando pela negativa das delegações em receber figuras da oposição cubana, exceção feita ao chanceler da Costa Rica.
Foi um Nuremberg ao contrário. Os mandatários presentes, em vez de pleitear a liberdade para o povo cubano, escravizado desde há 50 anos, e de mostrar a responsabilidade dos tiranos Castro em décadas de sangue e lágrimas na América Latina, cada um a seu modo, se desmancharam em gentilezas com os representantes do regime de Havana e continuaram derramando milhões de dólares nas arcas dos ditadores cubanos. Se os presidentes latino-americanos tiveram essa atitude servil, talvez seja porque sentiram que a opinião pública em seus respectivos países estava suficientemente anestesiada para deixar passar, na indolência e no relativismo, o servilismo de seus mandatários.
Existe na América Latina, desde há vários anos, um fenômeno de compaixão seletiva, pelo qual suscitam-se de um momento para outro, através das redes sociais e meios de comunicação, movimentos de compaixão pelas causas que as esquerdas consideram “politicamente corretas”. Porém, misteriosamente essa compaixão se transforma em indolência e letargia quando se trata de causas “politicamente incorretas”, como o sofrimento de 12 milhões de cubanos escravizados. A chave do presente e do futuro da América Latina parece estar nas mãos de misteriosos personagens que, à maneira do doutor Ox, figura central de um novela de Júlio Verne, são os que induzem, estimulam ou esfriam a compaixão, de acordo com os interesses das velhas e das novas esquerdas.
O doutor Ox foi um enigmático personagem que conseguia modificar o temperamento coletivo da aldeia de Quinquedone, na França, mediante misteriosos gases produzidos em seu laboratório, que faziam passar às suas vítimas da indignação ou da compaixão à apatia e à indiferença e vice-versa (“Une fantaisie du docteur Ox”, Amiens, 1872). Uma das maiores tarefas, que diz respeito à própria sobrevivência da liberdade nas Américas, é a de neutralizar a ação política e psicológica dos doutores Ox latino-americanos.
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Links de dois artigos relacionados:
“El doctor Ox, Cuba e Colombia”
“Salvadoreños Pro Civilización Cristiana piden un Nuremberg para juzgar al dictador Fidel Castro”
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