Qualquer conflito maior entre a Índia e o Paquistão poderia resultar numa guerra nuclear e possivelmente trazer uma fome global que mataria um quarto da população mundial ou até mesmo arruinaria a civilização humana, alertou um estudo na terça-feira.
Os Físicos Internacionais pela Prevenção da Guerra Nuclear (IPPNW) e sua afiliada americana Físicos pela Responsabilidade Social (PSR) concluíram num relatório recente que mais de dois bilhões de pessoas no mundo estariam em risco, se um conflito nuclear ocorresse no planeta. O relatório “Fome Nuclear: Dois bilhões de pessoas em risco” destacou que até mesmo uma troca de fogo nuclear limitada seria capaz de provocar estragos significantes e destruir o meio ambiente da Terra, o que seria fatal para a sobrevivência humana.
“Uma guerra nuclear usando apenas uma fração dos arsenais existentes produziria baixas enormes numa escala global, muito mais do que se acreditava antes”, disse Ira Helfand, o autor do relatório e copresidente dos IPPNW, num comunicado de imprensa.
De acordo com o relatório, uma guerra nuclear usando somente 100 armas em qualquer lugar do mundo perturbaria o meio ambiente global e a produção agrícola de forma tão severa que a vida de mais de dois bilhões de pessoas estariam em risco.
Helfand disse que seu estudo abrangeu a Índia e o Paquistão, pois os dois Estados têm armas nucleares e travaram três guerras desde 1947. No entanto, ele deixou claro que uma catástrofe semelhante acompanharia qualquer guerra nuclear limitada ou mesmo o uso de um pequeno número de armas nucleares detidas pelos EUA e Rússia.
O relatório disse que a China, o país mais populoso do mundo, possivelmente enfrentaria grave insegurança alimentar como consequência da guerra, fazendo o número total de pessoas ameaçadas pela fome induzida pela guerra nuclear ser bem superior a dois bilhões.
O estudo apontou que as partículas de aerossol de carbono negro emitidas na atmosfera por uma guerra nuclear sul-asiática reduziriam a produção de milho e soja dos EUA em cerca de 10% e a produção de arroz da China em torno de 21%.
“A produção chinesa de trigo no inverno cairia 50% no primeiro ano e, em média, ao longo de toda a década depois da guerra, ficaria 31% abaixo da linha limite”, disse o relatório, atualizando sobre os graves efeitos na produção de trigo da China.
O estudo, originalmente escrito por Helfand em 2012, baseia-se em pesquisa publicada por cientistas que avaliaram o impacto das explosões nucleares na atmosfera da Terra e em outros ecossistemas.
O relatório surge bem no momento em que o mundo começou a repensar sobre os impactos devastadores das armas nucleares. Em outubro deste ano, 125 países emitiram uma declaração conjunta na Organização das Nações Unidas pedindo a abolição das armas nucleares. Em fevereiro do próximo ano, mais de 100 nações estão programadas para se reunir no México para discutir as ameaças humanitárias de uma guerra nuclear.
Helfand disse que é impossível estimar o impacto exato de qualquer guerra nuclear, ele alertou que os planejadores políticos das potências nucleares quase sempre ignoram a ideia de uma fome nuclear, mas deveriam analisá-la mais a fundo. Ele diz que a solução final se reduz ao desarmamento e à abolição das armas nucleares.
“Todo os países – tenham armas nucleares ou não – devem trabalhar em conjunto para eliminar a ameaça e as consequências de uma guerra nuclear”, disse ele. “Para eliminar esta ameaça, temos de eliminar as armas nucleares.”