Esse episódio da execução da dívida argentina é sem dúvida um caso muito didático, que demonstra claramente como a irresponsabilidade pode custar tão caro, seja em nível pessoal como em nível coletivo, em termos de países.
A história começa com a irresponsabilidade de um governante, no caso o presidente Menem, que colocou na Constituição (e o pior de tudo é que a imensa maioria acreditou) que 1 peso teria eternamente o valor de 1 dólar. Veio daí a semente de praticamente todas as desgraças que se abateram sobre a nação argentina e que tiveram como ponto culminante o famoso corralito de 2001, que deu um cano em todos os aplicadores argentinos que acreditaram que 100 mil pesos depositados nos bancos seriam totalmente convertidos em 100 mil dólares. Da noite para o dia, não valiam nem uns 30 mil, nem me lembro mais quanto.
Aí a Argentina sai do 8 para o 80. De um ultra neoliberalismo inconsequente do governo Menem, vai como que numa gangorra para um superintervencionimo do governo dos Kirchner. Pior que, como sempre, uma atitude mais estúpida do que outra. Apenas como base de comparação, aqui o governo Lula, ainda que pese muitas críticas, principalmente à escolha da Dilma como candidata, nunca se descuidou da questão cambial e procurou simplesmente não atrapalhar a vida dos exportadores, principalmente do agronegócio. Isso possibilitou a formação de confortáveis reservas que fizeram com que a divida externa se tornasse coisa do passado.
Mais impostos
Pois os argentinos não souberam aproveitar os bons ventos da valorização das commodities e, além de não ajudarem em nada os exportadores, ainda resolveram taxar as próprias exportações de soja, trigo, carne e commodities em geral. E olha que não foram taxações baixas, em alguns casos chegaram a 40%, matando qualquer competitividade dos produtos argentinos.
Portanto, só podia dar no que está dando agora.
Há saídas para que se evitem no futuro situações semelhantes a essa tragédia. Uma delas é a básica: procure nunca gastar além do que se ganha. Isso vale tanto a nível pessoal quanto a nível de país. Mas se for um país, caso tenha que se endividar, mantenha um mínimo de credibilidade para que o endividamento seja na moeda do próprio país.
Outra opção interessante para o Brasil seria, junto com os parceiros dos BRICs (principalmente os chineses), ver até que ponto se pode montar uma estrutura paralela de financiamento, talvez um banco de investimento que pudesse ser uma opção paralela aos instrumentos dos países hegemônicos, como o Banco Mundial e FMI.
Acho que tudo ficará bem desde que o futuro governo, diferente do atual da Dilma, pare de fazer besteiras intervencionistas e país ainda mantenha uma certa credibilidade que permita vender títulos no mercado, tanto em reais como em dólar, e também estudar uma maneira de incentivar financiamentos chineses com os enormes superavits que eles tão competentemente acumularam.
Talvez uma saída para os argentinos também possa estar por aí, mas antes de mais nada, é preciso que o governo dos hermanos aprenda a ser menos arrogante e mais responsável.
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