É comum que desenvolvedores imobiliários destruam as casas das pessoas arbitrariamente na China, mas um caso recente na província de Henan, no Centro da China, tem sido amplamente divulgado e desperta indignação.
Mais de 10 pessoas não identificadas invadiram a residência de um casal na cidade de Xinzheng à meia-noite em 8 de agosto e sequestraram os donos da casa que estavam dormindo.
O casal sequer teve a chance de se vestir e foi levado para um cemitério remoto. Após serem retidos por quatro horas, os dois foram finalmente liberados. Quando voltaram para casa, eles descobriram que agora havia apenas uma pilha de escombros.
De acordo com uma reportagem da Rádio Nacional da China na segunda-feira, as pessoas que levaram o casal para o cemitério dirigiam uma caminhonete grande sem emplacamento.
“Eu ouvi algumas pessoas subindo as escadas quando eu ainda estava atordoado. De repente, várias pessoas apareceram com lanternas e varas de madeira”, disse o marido Zhang Hongwei, à mídia estatal Xinhua. “Eu fui erguido e posto de pé. Eu só estava vestido com minha roupa de baixo e eles não me permitiram vestir qualquer roupa. Eu agarrei apenas um cobertor.”
Zhang disse que comprou o direito de uso da terra em 2008 e construiu uma casa de quatro andares nela. No entanto, a casa e tudo dentro estão arruinados agora.
Fotos no artigo mostram pilhas de escombros onde a casa do casal estava, enquanto uma mulher de joelhos chora e o marido olha para o vazio sentado no chão.
Uma foto mostra uma tenda armada sobre os escombros, usando hastes de metal e tecido, formando uma simples cobertura e uma parede, e uma pequena cama embaixo. Os outros três lados da tenda estão sem proteção.
A internet chinesa mostrou-se cheia de indignação com esta demolição arbitrária. No entanto, as autoridades locais não pareciam mostrar qualquer empatia pelo sofrimento do casal.
Na terça-feira, o governo de Xinzheng emitiu um comunicado respondendo às notícias da demolição e culpando o marido. O governo da cidade disse que ele construiu a casa sem permissão do departamento competente, segundo a mídia estatal Diário do Povo. E disse que o casal tinha feito “exigências exorbitantes” pela demolição da casa.
A declaração do governo local disse que mais de uma centena de famílias, incluindo Zhang, foram orientados a sair em abril de 2012, por causa de um projeto de metrô que começou de janeiro de 2014. O fracasso de Zhang em cooperar com o governo da cidade fez com que o projeto atrasasse mais de 20 dias, segundo o comunicado, o que levou a “graves prejuízos para a empresa de construção civil”.
A declaração admite que os relatos da mídia sobre a demolição são verdadeiros, mas diz que se ações ilegais estiveram envolvidas e quem realizou a demolição ainda estava sendo investigado.
Muitos internautas condenaram a demolição como “ação criminosa”. “Eu só quero saber se há lei ou não na China? É esta a sociedade justa que o regime tem prometido e promovido? Mesmo os invasores japoneses eram menos cruéis do que isso”, disse o internauta ZiyouDeaqi.
A internauta Baiyue Lolita da província de Guangxi, no Centro-Sul da China, comentou: “Eu já testemunhei tantas demolições forçadas. Em Nanning (capital de Guangxi), os trabalhadores de demolição jogam tijolos em idosos e demolem casas mesmo que haja pessoas cozinhando ou vivendo no interior. Eles não se preocupam com a vida das pessoas de forma alguma.”
Graves disputas de demolição de habitações na China têm provocado incidentes trágicos frequentes, incluindo proprietários que cometem autoimolação, trabalhadores de demolição que espancam e matam pessoas, e protestos em massa por todo o país.
Um protesto em massa recente, decorrente da disputa sobre uma demolição arbitrária em 6 de agosto, resultou em mais de 100 policiais civis e militares se confrontaram com moradores do condado de Lushan, na província de Sichuan, Sudoeste da China, segundo locais.
Durante o conflito, um proprietário foi empurrado penhasco abaixo pela polícia e morreu na queda; mais de 10 moradores foram hospitalizados e quatro foram presos. Os familiares dos moradores presos pediram ao governo local que julgasse os responsáveis pela morte e liberasse os quatro detidos, mas não houve resposta.