Características da pintura chinesa e a natureza humana

13/03/2012 00:00 Atualizado: 13/03/2012 00:00

Pintura tradicional chinesa.

Somente quando o artista representa um elevado nível de moralidade podem suas pinturas ou escritos atingir um elevado valor artístico

Todos os grandes artistas vivem de acordo com altos padrões morais. Isto cria uma conexão entre as características da arte da pintura e da escrita, bem como com os indivíduos que realizam o trabalho. Somente quando o artista representa um elevado nível de moralidade podem suas pinturas ou escritos atingir um elevado valor artístico. As obras refletem a personalidade dos seus criadores.

O renomado pintor Hung Bin Hong (1865-1955) classificava a pintura da seguinte forma: cenas de mercados e ruas, montanhas e lagos, e as pinturas pelo Shi Da Fu. Segundo seu entendimento, um pintor que aspira a dominar os requisitos mais elevados desta forma de arte deve estar ciente do alto nível dos ensinamentos de Confúcio. Deve também possuir uma vasta gama de conhecimentos e deve dominar as técnicas da pintura num grau elevado. Além disto, deve ter uma capacidade geral para almejar a paz e a prosperidade de uma nação. Este indivíduo deve pessoalmente ter-se cultivado bem e ter adquirido um magnífico critério moral.

Li Ku-Chan (1898-1983) foi também um renomado pintor que aprendeu pintura tradicional chinesa de Qi Bai Shi. Li muitas vezes disse: “O homem deve acima de tudo ter características nobres, então terá a nobreza necessária para pintar bem. Um ser humano com características negativas não é capaz de pintar um só traço virtuoso.”

Li Ku-Chan teve de suportar dez dias de prisão durante a Revolução Cultural (1966-1976). Seus próprios alunos o atormentaram e quase o espancaram até a morte por se recusar a pintar de acordo com a tendência política dominante na época. Para ajudá-lo com este problema, alguns lhe disseram que pintasse cenas agrícolas, tais como uma grande colheita. Ele respondeu a esta sugestão com um sorriso irônico e disse: “Sim, eu vou pintar estas cenas e o título será ‘Vender barato a própria alma’ ou ‘Grande colheita de corpos’.” (40 milhões de chineses morreram de fome durante a Revolução Cultural devido ao deficiente planejamento agrícola e à má gestão).

O regime comunista forçou o pintor a participar de sessões de crítica pública onde tentaram fazê-lo denunciar seu mestre Qi Bai Shi. Li Kun-Chan se recusou, foi preso e designado a trabalhar nos campos. Mesmo assim, ele continuou praticando qigong. Atribui-se a ele o seguinte ditado da época: “Aqueles que destroem a nação e atormentam a população podem ter a certeza da retribuição divina. Eu persistirei até este dia.”

Os antecedentes de Tony Dai

Ele cresceu na China e agora vive na Austrália. Tony é um comerciante do mercado financeiro, mas sua paixão é a arte.

É colecionador de arte e presidente da Associação Australiana de Artes e Cultura Tradicional Chinesa. Junto com sua mãe Dai Meiling, Tony é o dono da quinta geração de uma das maiores coleções do século 19 e 20 de pinturas tradicionais chinesas, contendo obras de mais de 40 mestres desta época. Além das obras de Qi e Li, a coleção contém peças de um imperador e uma imperatriz. A coleção é particularmente única, pois não existem muitas destas obras que sobreviveram à barbárie dos anos da Revolução Cultural.

Tony tem formação em caligrafia e pintura chinesa desde a infância e ganhou um concurso nacional de caligrafia chinesa com a idade de oito anos. Um em particular, mandarim da última corte do imperador, sedimentou as bases para a presente coleção. Esta tem sido exibida desde 2003 na Austrália e sudeste da Ásia, e em várias cidades europeias e Canadá.

Os trabalhos documentam uma completa representação da pintura tradicional chinesa, muito diferente das tradições ocidentais. É o objetivo da pintura tradicional chinesa descrever as impressões do artista e seu meio de forma abstrata. A pintura com tinta é uma grande forma artística de expressão e concentração meditativa, que não deixa margem para correções uma vez que o quadro está acabado. Cada pincelada é uma expressão da personalidade do artista e um reflexo da sua percepção momentânea.