Candidatos presidenciais nos EUA evitam questões fundamentais sobre China

05/11/2012 11:22 Atualizado: 05/11/2012 11:23
Baixo nível de direitos humanos ajuda corporações multinacionais a terem grandes lucros
Estudantes protestam com bonecos representando os trabalhadores que se suicidaram na Foxconn na China; durante a reunião anual geral da empresa em Hong Kong em 8 de junho de 2010. (Mike Clarke/AFP/Getty Images)

A última vez que a China atraiu tanta atenção numa campanha presidencial nos EUA como a atual foi exatamente 20 anos atrás, quando o governador Clinton criticou o presidente Bush por ajoelhar-se para a China. Posteriormente, o presidente Clinton ajoelhou-se mais duramente, mas pelo menos ele tentou se posicionar perante a China em seus dois primeiros anos na Casa Branca.

Tanto o ex-governador Romney e o presidente Obama têm falado duro sobre a China, mas ouvindo com cuidado, pode-se perceber que ambos se esquivam da questão-chave, portanto, não há chance de que eles enfrentarão a China. Suas respostas à penúltima pergunta do 2º debate servem como bons exemplos.

A questão, da mediadora Candy Crowley, era como empresas estadunidenses podem trazer empregos industriais de volta aos Estados Unidos, quando os custos do trabalho são tão baixos na China.

A parte relevante da resposta de Romney foi insistir que a China jogue justo na sua valorização da moeda, que tem sido o principal pilar de sua política sobre a China.

Façamos uma análise simples, usando o iPhone como um exemplo. Há uma abundância de análises de custos estruturais disponíveis online. Seus números variam em pequena medida, mas contam uma história semelhante.

Quando um iPhone de 650 dólares (antes dos descontos de contrato da transportadora) é feito e vendido, a Apple reconhece um lucro de cerca de 400 dólares. As partes custam cerca de 200 dólares. A Foxconn, a empresa de Taiwan fabricante do iPhone faz talvez 20 dólares pela montagem e outros 30 dólares em taxas de engenharia de produção para a Apple (algo que a maioria dos analistas não explica). Os pobres trabalhadores chineses de fato só ganham cerca de 8 dólares.

Vamos dizer que no primeiro dia de sua presidência, Romney rotule a China de manipuladora da moeda e consiga que a China dobre sua taxa de câmbio, tornando o iPhone duas vezes mais caro.

Para fazer o iPhone tão competitivo como antes, a Apple teria de engolir um corte de preço de 40%, mas ainda teria de pagar o custo de produção do iPhone – infelizmente, o custo do trabalho chinês subiria para 10 dólares. Será que isso faria os empregos de fabricação do iPhone voltarem aos Estados Unidos? Um palpite é que a resposta de Steve Jobs permaneceria a mesma, “Esses empregos não voltarão.”

A resposta de Obama foi similar, se não mais fora da realidade, “há alguns trabalhos que não voltarão porque são de baixos salários, empregos de baixa qualificação”.

Fazer iPhones é um trabalho de baixo salário ou pouco qualificado? Tanto para a solidez do resto da retórica de Obama, “É por isso que temos de enfatizar a fabricação. É por isso que temos de investir na fabricação avançada. É por isso que temos de ter certeza que possuímos a melhor ciência e pesquisa no mundo.”

O problema real

Seria um insulto à inteligência de ambos os candidatos e suas equipes sugerir que eles não sabem o verdadeiro problema, pois um bom número de estudiosos sobre a China abertamente atribuiu o baixo preço dos produtos chineses “às vantagens de ínfimos direitos humanos”.

De acordo com esses estudiosos, as vantagens incluem mais do que a supressão dos custos de trabalho do governo chinês, elas também incluem: condições inseguras de trabalho, pouco ou nenhum benefício, segurança de aposentadoria baixa ou nenhuma, sem proteção ambiental, sem vida pessoal e sem consideração pelo bem-estar. Por exemplo, um aumento no número de suicídios na Foxconn não resultou em qualquer outra alteração além da colocação de redes embaixo das aberturas do edifício por onde os trabalhadores poderiam saltar para a morte.

É importante notar que, para os trabalhadores chineses, a Foxconn é o top disponível. As fábricas da Foxconn são o melhor que se pode encontrar na China, com ginásios, piscinas e outras amenidades.

O problema é que ninguém tem tempo para usá-los, porque os funcionários trabalham 7 dias por semana, 16 horas por dia. Quando jovens de 16 a 25 anos estão numa situação sem socialização, namoro ou orientação espiritual, eles ficarão deprimidos e se matarão.

Esses estudiosos também apontam que as “vantagens de ínfimos direitos humanos” são prejudiciais para a China, bem como para seus parceiros comerciais. Não é estranho que suas chamadas por mudanças políticas tenham sido ignoradas e que eles próprios tenham sido marginalizados pelo regime chinês.

Por que os candidatos à presidência dos EUA também ignorariam os achados desses estudiosos e sua explicação para o baixo preço dos produtos chineses? A resposta é um pouco estranha: eles praticamente não têm escolha, como presidentes antes deles têm mostrado.

Isso começou em 1989, quando o massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) fez o regime comunista chinês perder sua legitimidade na China e devido à fome de reconhecimento internacional para ajudá-lo a sobreviver.

O regime chinês lançou concessões econômicas sem precedentes e as empresas norte-americanas perceberam o enorme mercado chinês como irresistível. Corporações multinacionais formaram uma grande campanha de lobby para pressionar por e justificar uma política chinesa que pudesse pacificar a aversão norte-americana pelos abusos dos direitos humanos na China. O ardil foi chamado de “promovendo os direitos humanos na China por meio do desenvolvimento econômico”.

Explorando a escravidão

Nem o enorme mercado da China nem a promoção dos direitos humanos se materializaram. As multinacionais, no entanto, fizeram muito dinheiro com a exportação de seus produtos fabricados na China para os Estados Unidos. Como isso é feito? Eles exploram mão de obra barata na China. Explorar mão-de-obra barata não é o mesmo que escravidão?

É loucura sugerir que as empresas norte-americanas se envolveriam em escravidão? A escravidão foi banida por um século e meio. A beleza é que não são as empresas norte-americanas que estão administrando a escravidão. Suas mãos estão limpas, já que é o regime chinês que não tem escrúpulos em abusar de seus cidadãos.

Assim, uma relação simbiótica se formou. A escravidão chinesa, ou as “vantagens de ínfimos direitos humanos”, garante que empresas norte-americanas obtenham lucros consideráveis, enquanto, ao mesmo tempo, protegem seus bons nomes. Empresas norte-americanas garantem que as vantagens de ínfimos direitos humanos da China possam continuar e fiquem limpas de serem excessivamente expostas ou criticadas.

O problema é que as vantagens dos ínfimos direitos humanos da China tiram empregos norte-americanos e ameaçam a elegibilidade dos políticos estadunidenses.

Presos entre empresas poderosas e eleitores irritados, os políticos têm de encontrar estratégias alternativas que não toquem nas vantagens de ínfimos direitos humanos da China, mas, ao mesmo tempo, façam os eleitores acreditarem que suas políticas de alguma forma farão mágica para obter empregos de volta para os EUA. Será que funciona?

A última vez que os EUA tiveram de lidar com a escravidão, o presidente Lincoln em seu segundo discurso de posse buscou uma razão maior para explicar por que a Guerra Civil foi a única saída, “O Todo-Poderoso tem Seus próprios propósitos.”

Algumas linhas depois, Lincoln disse, “Ternamente esperamos, fervorosamente oramos, que este poderoso flagelo da guerra possa passar rápido. No entanto, se Deus quiser que isso continue até que toda a riqueza seja pilhada pelos 250 anos de árdua labuta perdida ao fiador e até que cada gota de sangue tirada com o chicote seja paga por outra tirada com a espada, como foi dito três mil anos atrás, assim ainda deve ser dito ‘os juízos do Senhor são verdadeiros e inteiramente justos’.”

Se o lucro extraído da antiga escravidão norte-americana teve de ser eliminado por meio de uma guerra civil, poderia o lucro extraído da escravidão moderna da China ser permitido? Por que é que a economia norte-americana está em situação tão ruim? Pode a política de um dos candidatos possivelmente retirar os norte-americanos desta situação?

“Ternamente esperamos, fervorosamente oramos.” Se os norte-americanos ainda acreditam no Todo-Poderoso da mesma forma que nossos antepassados, nós desejaremos compelir nosso presidente a tirar a cabeça da escravidão chinesa ao invés de golpear ao redor em vão.

O Dr. Shizhong Chen é presidente da Fundação Consciência e pesquisador do ChinaScope.

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