Modelo chinês de ‘capitalismo com características socialistas’ não é bem entendido, diz especialista
Suborno e interferência do Estado são alguns dos principais desafios enfrentados pelo Canadá ao investir na China e gerir investimentos chineses no Canadá, adverte um novo relatório de uma especialista em política externa sediada em Calgary.
O relatório, “Dançando com o Dragão”, é de autoria de Josephine Smart, uma professora de antropologia da Universidade de Calgary que é especialista em economia chinesa.
Com a sede da China por recursos estratégicos que espera trazer cada vez mais investimentos para o Canadá e com Ottawa estabelecendo laços cada vez mais fortes com Pequim, o Canadá precisa entender claramente o modelo particular chinês de “capitalismo com características socialistas”, diz Smart.
“Se eles vêm ao Canadá para investir, então, acho que o investidor precisa de fato respeitar nossas regras do jogo e vice-versa”, diz ela.
“Se você permitir que empresas estrangeiras comprem e adquiram seus recursos estratégicos, sem qualquer condição e restrição, então, eventualmente, seus próprios interesses estratégicos serão rapidamente diminuídos porque seus recursos estratégicos serão de propriedade estrangeira e controlados.”
A consciência cultural se torna especialmente importante quando se trata de práticas comuns de negócios chineses, tais como guanxi, que significa dar presentes, mas frequentemente se torna suborno, para desenvolver redes interpessoais e de influência. Há uma forte ligação entre as práticas de guanxi e a corrupção na sociedade chinesa, ressalta o relatório.
A influência do Estado comunista sobre as decisões corporativas, tanto direta e indireta, também representa um grande risco de investimento, diz Smart.
“Há um entendimento implícito na China que o mandato do Estado deve superar a lógica dos negócios em última análise”, escreve ela no relatório.
Embora o interesse chinês no setor de energia do Canadá seja bem conhecido, este interesse é susceptível de ampliar para incluir terra e produção agrícola, observa Smart.
Ela argumenta que o Canadá seria bem aconselhado a começar a formular uma posição política em torno de quanto do nosso sistema alimentar estamos dispostos a entregar ao controle estrangeiro.
O Canadá também deve decidir, mais cedo ou mais tarde, de que forma seus próprios interesses estratégicos são servidos ao permitir investimento chinês irrestrito em nossa economia, diz ela.
A chamada por cuidado ocorre enquanto um enorme Conselho da Federação coletiva de comércio que inclui nove premiês realiza uma visita de 10 dias à China. A missão pretende garantir oportunidades de comércio e investimento para as províncias, promovendo portas de acesso e os recursos naturais do Canadá.
Proteção para investidores
O investimento estrangeiro direto entre o Canadá e a China aumentou mais de cinco vezes entre 2005 e 2011 para um total de 15,4 bilhões de dólares.
Num movimento para proteger os investimentos canadenses na China, o primeiro-ministro Stephen Harper concluiu as negociações do Acordo Canadá-China de Promoção do Investimento Estrangeiro e Proteção (FIPA) na reunião dos líderes da APEC na Rússia em 9 de setembro.
O acordo visa garantir maior proteção para os investidores canadenses e um campo mais nivelado para as empresas canadenses que busquem contratos na China, bem como facilitar o negócio. Empresas chinesas têm os mesmos direitos no Canadá.
Um resumo publicado no website do Ministério das Relações Exteriores e Comércio Internacional diz que o principal objetivo do acordo é “garantir maior proteção aos investidores estrangeiros contra práticas discriminatórias e totalmente arbitrárias, [e] providenciar indenização adequada e imediata em caso de uma expropriação.”
A assinatura do acordo surge enquanto Ottawa analisa uma oferta de 15,1 bilhões de dólares da empresa estatal chinesa CNOOC Ltda. pela aquisição da gigante da energia Nexen Inc. Se a operação receber luz verde será a maior aquisição da China de uma empresa canadense até à data.
Smart diz que o sucesso do investimento chinês futuro no Canadá depende da “competência cultural” dos políticos envolvidos.
“Que tipo de experiência temos na sociedade canadense com as pessoas que estão em posições de fazer políticas, ou com pessoas que estão tomando essas decisões sobre investimentos, sobre como fazer negócios? Quão bem informados estão nossos especialistas sobre a sociedade e cultura geral da China?”, pergunta ela.
O relatório recomenda que os governos federal e provincial deem maior apoio para uma formação mais abrangente e pesquisa de infraestrutura que prepare melhor os canadenses para a expansão do comércio bilateral entre os dois países.